terça-feira, 30 de junho de 2009

O último a sair...

Momentos derradeiros do atual semestre letivo que foi bastante atabalhoado, a começar pelos efeitos do excesso de feriados. Últimas notas lançadas no sistema, resultados sacramentados. Motivos para lamentar. A página que se vira não conta exatamente a história que eu gostaria. Engana-se quem pensa que eu não me importo. Engana-se terrivelmente. Importo-me a ponto de perder o sono, como tem acontecido. Minhas olheiras de estimação não pioraram à toa.
É delicioso entregar notas e ver a garotada rindo, comemorando. As meninas são mais afetadas. Dão gritinhos, pulam, abraçam-se. Alguns têm curiosas reações de alívio. Uns tantos se despedem, agradecem, desejam bom descanso e dão um "até a volta".
Na outra ponta, temos os que não conseguiram aprovação. Alguns guardam um duro silêncio. É o olhar que passa a mensagem. Alguns fazem cara de que já esperavam por isso. Outros esperneiam. Há quem saque da manga muitas explicações. E há aqueles que chegam a um interessante estado de compreensão. Entendem os fatores que os levaram ao insucesso momentâneo, faço questão de frisar e não cobram ninguém por isso. Nem a si mesmos. Acolhem a situação do dia e seguem adiante, de cabeça erguida. São exemplos de dignidade, que admiro muito. Hoje tive contato virtual com dois desses. Mas tive alguns pessoais, também, há alguns dias.
O ofício docente é moralmente sacrificante. Se você não se importa e quantos há que não se importam nem um pouco, em todos os níveis do ensino! , tudo bem. É só mais um período letivo que vai. Tudo são números. Aprovados, reprovados, médias, estatísticas. Mas quem tem a real noção de que lida com seres humanos e mais do que isso: que tem o dever de ajudar a formar seres humanos , sai arranhado dessa experiência, por maior que seja a sua convicção de que agiu com honestidade, de que fez o que podia. Sempre consciente, é claro, de que sempre podemos fazer melhor.
Sucessos ou insucessos, o que nos define? Penso que nem uma coisa, nem outra. O que talvez nos defina é o modo como chegamos a uma coisa ou outra. Ou, como na poesia, o caminho se faz ao caminhar.

2 comentários:

Liandro Faro disse...

Prezado Amigo,

Bom saber que fazemos do nosso ofício um verdadeiro sacerdócio!

Vejo alguns colegas se vangloriarem por reprovar aluno, tal como se fosse uma ranking que devesse ser conseguido a todo custo, e quanto mais se reprovar, parece que melhor foi o seu ofício laborioso durante o semestre.

Penso mesmo que deva existir alguma disputa, mesmo que no silêncio interno de cada personalidade.

Claro que as mais das vezes, vislumbro que são apenas brincadeiras, mas que no fundo...

Bem, sinceramente, tenho refletido bastante sobre reprovação e aprovação dos alunos e a forma como nós professores devemos tratar este e, neste meu pequeno laspo temporal na profissão, acredito que o mais importante é darmos o melhor de nós para ajudar aos alunos que se embaraçam no semestre...

É muito fácil gostar dos alunos que estão atenciosos às aulas, que copiam tudo, perguntam e respondem a quase tudo que propomos.

É muito fácil admirar os alunos que tiram notas altas...

É muito fácil gostar de alunos fáceis.

Todavia, difícil é tentar entender aquele que não copia, que não presta atenção e que tira nota baixa.

Difícil é gostar dos alunos que não estejam interessados.

Algumas vezes, nós nem nos importamos com eles.

Lembro-me agora de um episódio, que irei narrar.

Certa vez uma aluna, após o final do semestre, perguntou-me se havia notado que ela e mais duas amigas estavam frequentando as minhas aulas com frequência, e eu respondi que havia notado.

Ela, então, disse que isto se dava a minha pessoa, e que por isso queria agradecer, pois eu, após uma aula, sentei no fundo, e perguntei a elas porque elas faltavam bastante, e que eu estava preocupado com o desempenho delas, e mais algums coisas.

Ela disse que nenhum outro professor havia se preocupado com sua pessoa, e que aquilo havia tocado-a profundamente.

E afirmou que serviu também para outras disciplinas...

Fiquei por demais feliz...

Bem, caro colega Yudice, vamos continuar a abraçar este laborioso, e causticante ofício, pois, apesar dos espinhos, o perfume das rosas é sempre mais valioso.

OBS: E apenas para lembrar, eu estou saindo agora aqui do CESUPA, 20:45, após uma prova de 2ª Época.

Todavia, eu não sou o último a sair e nem você o foi, mas o nosso dileto Denis Verbicaro, com uns 20 alunos em sala. Ai MEU DEUS!

Att.

Liandro Faro

Yúdice Andrade disse...

Liandro, meu amigo, avizinhando-me da primeira década de docência, posso te dizer que já passei por muita coisa, das más e das boas. No saldo, graças a Deus, a experiência é cada vez mais positiva, embora nem por isso menos exaustiva.
De todas essas experiências, essas histórias de resgate de alunos são as melhores. Têm um peso maior do que, como lembraste, o caminho fácil (porém recompensador, claro) da convivência com os alunos que seguem todo o protocolo. tenho algumas dessas histórias, mas como são recentes prefiro não escrever sobre elas. Mesmo que as publicasse sem referências capazes de levar à identificação do envolvido, ele mesmo poderia ler e se sentir meio exposto. Ficam, então, para algum dia no futuro.
Meu amigo, pior do que o Denis está o Klelton, que hoje ainda aplicará prova! Minha solidariedade a ele.