terça-feira, 16 de junho de 2009

Depois não querem que a gente fale

Um vazamento de água na rua. Meu vizinho da esquerda, maior atingido, passou quase um mês inteiro telefonando diariamente para a COSANPA, solicitando o conserto. Vieram na segunda-feira da semana passada. Fizeram o conserto e deixaram aquele buraco no asfalto, tapado com uma ordinária massa de cimento, prometendo que dentro de um mês uma segunda equipe viria, para consertar o asfalto.
Resolvido o problema do vizinho, ficamos praticamente sem água em minha casa. Primeiro, supomos que era uma interrupção temporária. Depois, acreditamos que a falta de água nos canos prejudicara a pressão necessária para encher as nossas caixas d'água, junto ao telhado. Como passamos a maior parte do dia fora, demoramos a entender que o problema era mais sério. Ao amanhecer da quinta-feira, feriado de Corpus Christi, aceitei o meu destino: era a minha vez de enfrentar a COSANPA.
Liguei para o 0800, que já funciona mal nos dias úteis. Comecei às oito e só consegui ser atendido depois das dez da manhã. Curiosamente, a atendente foi prestativa até demais. Entendeu que eu precisara sair de casa para tomar banho e ficou com meus números de telefone (inclusive celular), afirmando que pediria à equipe de rua para me telefonar, avisando a hora em que o conserto seria feito. Primeiro mundo! Só que a equipe não apareceu.
Nesse meio tempo, eu já jogara minha segunda cartada: chamei um encanador. Para minha felicidade, ele detectou que o problema era interno, um filtro entupido. A simultaneidade com o conserto na rua fora apenas uma infeliz coincidência. Trocadas umas pecinhas no cano, em meia hora a água voltou a jorrar normalmente. Meu pânico de ficar dias e dias na seca passou.
Como bom cidadão, telefonei imediatamente para a COSANPA e solicitei o cancelamento do atendimento. A mesma atendente respondeu que cancelaria o protocolo naquele mesmo instante. Ouvi os tec-tecs de um teclado de computador.
Esta manhã, eis que um carro da COSANPA parou na minha porta, para fazer o conserto. Mais de cinco dias depois da solicitação! Se eu realmente dependesse deles, estaria fedendo mais do que a mais pútrida das sepulturas. Tive, assim, minha comprovação pessoal da qualidade do serviço prestado pela COSANPA.
De quebra, observei como a empresa atira no próprio pé, pois se tivesse cancelado o meu pedido, a equipe não precisaria deslocar-se inutilmente (gastando, no mínimo, combustível), podendo atender mais rápido um pedido em aberto. Sabe o que o motorista me disse, quando comentei a esse respeito? "Ah, isso sempre acontece!"
E com um sorriso simpático, de quem não se importa se o serviço vai ser feito ou não, foi embora.
Pará, terra de direitos molhados.
Ou: Nossa maior obra é cuidar de você, desde que não precise de água.


PS Se não tiverem jogado fora, vou postar uma fotografia do filtro que entupiu, para vocês verem a qualidade da água fornecida pela COSANPA. Nenhuma novidade, claro, mas é bom ter um exemplo real.

2 comentários:

Francisco Rocha Junior disse...

Yúdice,
Morando-se em prédio, raramente se tem problemas com abastecimento de água, dada a existência de poços artesianos e cisternas. Mas em casas, o buraco é mais embaixo: minha mãe, que mora na divisa do Jurunas com a Cidade Velha, sofre diariamente (sem exageros!) com a falta de água nas torneiras. A solução? Poço artesiano e caixa d'água. Ou seja, um plus nos gastos, que mesmo assim incluem o caro e imprestável serviço prestado pela companhia de águas e esgotos.

Yúdice Andrade disse...

É verdade, Francisco. Na casa de minha mãe, há muitos anos foi cavado um poço artesiano. A água foi testada e, apesar de um odor característico (leve), é de boa qualidade, incomparavelmente melhor que a da COSANPA. Quando o entorno todo fica na seca, ela não passa mal.
Contudo, existe um custo para isso. A escavação de poços artesianos representa um risco para o meio ambiente, principalmente porque o brasileiro, safado que só ele, adora desperdiçar, principalmente porque essa água não será paga. Por isso, era essencial que o poder público atendesse a todos muito bem. Mas isso num mundo ideal...