quarta-feira, 10 de junho de 2009

Pauta do Supremo

Se o "mensalão" e o menino Sean Goldman deixarem, o Supremo Tribunal Federal decidirá na sessão de hoje uma perlenga antiga: a necessidade de diploma para o exercício da profissão de jornalista. O Recurso Extraordinário 511.961, que discute a questão, é o terceiro feito da pauta.
Confesso que nunca me interessei particularmente pelo assunto e por isso falo como mero curioso. Mas o fato é que não vejo real necessidade de um curso de graduação para alguém se tornar jornalista. Obviamente, a atividade reclama conhecimentos específicos. Isso ninguém de bom senso negará. Mas que conhecimentos são esses? A meu ver, um curso técnico resolve a questão. O problema é a cultura bacharelesca implantada há décadas no imaginário do brasileiro. Não ser bacharel em alguma coisa era (e, pelo visto, ainda é) indicativo de inferioridade social. Uma idiotice, claro, como tantas outras que o povo cultivou e ainda cultiva. Daí terem sido criados cursos de graduação para as mais diversas atividades. Nos últimos anos, o advento dos chamados cursos de formação específica desvelou a necessidade de compatibilizar a sanha por um diploma universitário com as restrições científicas ou técnicas de certas áreas do conhecimento.
É provável que alguém se irrite com estas minhas afirmações. Ainda mais em se tratando de suas divindades, os jornalistas. Aqueles que não devem ser refenciados senão com louvor. Mas sempre fui crítico quanto à necessidade de nível superior para certas profissões. Turismo, p. ex.
Entendam, porém, que não sou contra o nível superior para essas atividades. Apenas não estou convencido de que seja necessário e pode ser por pura ignorância. Se algum argumento plausível me for apresentado, de bom grado mudarei de opinião.
O fato é: qual o conhecimento científico específico envolvido na formação de um jornalista? Não seria um conhecimento perfeitamente suprível por um curso técnico?
Diga-se, ainda mais, que exercer uma profissão baseada em um curso técnico não é vergonha nem demérito para ninguém. É tudo uma questão de preconceito e, como todo preconceito, uma questão burra. Quer outro exemplo? Contadores. Muita gente afirma (não é o meu caso, ao menos por enquanto) que os contadores são apenas técnicos e, por isso, não deveria existir um curso superior de Ciências Contábeis. E contadores merecem respeito. Todos os anos, quando tenho que enfrentar a extorsão do imposto de renda, admiro mais os contadores. Eles podem não resolver o meu problema específico, mas que sabem das coisas, lá isso sabem!
Um jornalista escreve, pesquisa, entrevista, organiza. E inventa. Nada que pessoas de outras áreas não façam habitualmente. Nada que não possa ser aprendido por conta própria, com um pouco de método e dedicação. Não à toa, os veículos de comunicação estão abarrotados de advogados, economistas e sei lá mais o quê, produzindo colunas e matérias. Para não haver problemas, basta chamá-los de consultores. Mesmo sabendo que consultor é eufemismo para especialista em p#*%@ nenhuma. E hoje existem até consultores de beleza, outrora conhecidos simplesmente como cabeleireiros.
Enfim, a dignidade profissional pode ser obtida por meio da exigência de registro em órgão de classe e de regulamentação própria, mesmo sem diploma. Acima de tudo, uma postura ética e verdadeiramente imparcial, como eles tanto juram ser, seria o melhor argumento para que a sociedade os respeitasse, sem olhar seus títulos.

2 comentários:

Frederico Guerreiro disse...

Também não vejo necessidade de curso superior específico para alguém se tornar jornalista. Basta apenas que o jornalista seja conhecedor da área sobre a qual vai escrever.
Um jornalista pode escrever sobre assuntos relativos à medicina? Pode. Mas terá que se ater a uma linguagem referencial, de descrever fatos e dar a notícia, jamais por meio de uma linguagem metalinguística, sob pena de incorrer em risco de exercício irregular da profissão, divulgando atecnicidades.
Considero importantíssimo o exercício do jornalismo por parte de profissionais de direito, engenharia, arquitetura, psicologia, e todas as demais áreas, especialmente porque a sociedade tem direito ao conhecimento, de ser informada adequadamente, e isso só é possível com a circulação do pensamento dos profissionais de cada área, de suas ideias, enfim, de tudo o que for em benefício do autoconhecimento humano.
Eu acho.

Yúdice Andrade disse...

Absolutamente correto o teu pensamento, Fred. Mas, cá entre nós, se este fosse um blog famoso, visitado por jornalistas, eu estaria lascado agora, não estaria? E tu também, ao concordar comigo.