segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Lá e cá

Reconhecendo um fato contra o qual não se pode lutar, a prefeitura do Rio de Janeiro liberou os professores da rede pública para comparecer ao trabalho de bermuda. A medida foi bem recebida pelos adultos, mas dividiu veja só justamente o público que supomos ser o mais permissivo: os jovens.
[Desde o episódio da Uniban, ando com muito medo dos jovens brasileiros. Nunca os vi tão agressivamente moralistas e, o que é pior, moralismo equivocado.]
Um adolescente de 13 anos conseguiu sintetizar a imbecilidade. Veja a pérola que o leso soltou: "Acho que todos os professores deveriam seguir as regras da escola e vir com uma roupa específica para o trabalho que ele faz. Acho que faz mal vir de bermuda, porque isso mostra que eles não entendem muito da matéria, não conseguem ensinar muito e só vai lá para marcar o ponto, e não para ensinar".
Sacaram? Se você usa bermuda, é porque não sabe a matéria. Eu me pergunto como um sujeito desses conseguiu sobreviver à infância. Além do mais, ao usar bermuda, nesse contexto, os professores não violam regra alguma, já que estão autorizados. Aliás, a ideia em si de autorizar este ou aquele tipo de roupa já me soa esdrúxula, considerando que isso é algo que deveria ser naturalmente resolvido pelo bom senso. Em toda a minha vida como estudante e como professor, nunca vi um educador expondo, de seu corpo, mais do que a decência permitiria.
Argumentos centrados em concepções de respeito são mais comuns. Mesmo assim, são ingênuos e alguns até burros. Afinal, a indumentária é uma questão cultural e não uma verdade transcendental revelada. Quem inventou que só existe respeito se você veste calças ou saias compridas, com camisas fechadas, fez uma opção, que não é certa nem errada, mas tão somente uma opção. Na Escócia, homens vestem kilt. Há países em que os torsos devem estar desnudos. Tudo é cultural.
Fosse aqui na taba, a confusão seria brutal. Afinal, aqui, não interessa o calor, só a idolatria aos caciques. Veja um exemplo do que digo em postagem de janeiro deste ano. A certa altura, o clima pesou.

9 comentários:

Anônimo disse...

Calma, professor. O "sujeito" que disse a "imbecilidade" e que não se sabe como "conseguiu sobreviver à infância" é apenas um menino de 13 anos. Se falou algo errado, e isto não vem ao caso agora, é porque é somente isto: um menino.

Wilson Franco disse...

A notícia não mencionou, mas, já que o precedente foi aberto aos professores, os alunos também devem estar autorizados ao uso da bermuda, certo?!

Uma vez fui recriminado, até mesmo pelos colegas de classe, por comparecer à sala de aula de camiseta "regata"...ninguém entende aquela história da roupa e do monge...

Outra: que tal trocar o uniforme das escolas aqui em Belém, que também é um bocadinho quente, da calça e tênis para a bermuda e sandália??

Meu pai diz que, apesar de não fazer o monge, ela distingue padre do arcebispo!!

Liandro Faro disse...

Ai ai ai... Muito bom ler este post.

Quem dera que isso fosse em Belém... Quem dera...

Rita Helena Ferreira disse...

Que bela síntese, Yúdice!

Em verdade, o "raciocínio" do "menino" de 13 anos demonstra a ausência total de lógica e coerência em suas idéias! Além de evidenciar a superficialidade de seu poder de crítica.

Fosse ele o único, ou mesmo uma exceção, ficaria menos preocupada. Ao contrário, cada vez mais me convenço de que esse "menino" faz parte de um grupo significativo de pessoas!!! E a idade varia bastante. Tem muita gente com 30 anos pensando parecido.

Aliás, dia desses, li, na comunidade Belém, do orkut - onde já não comento há algum tempo em razão de divergências, não superadas, com a moderação - um comentário a respeito do novo shopping. Alguém afirmou que havaianas não são calçado adequado para frequentar um shopping.

Bom, considerando que ADORO andar de havaianas, terei que tomar muitos cuidados, afinal, a sociedade "muderna" anda preocupada com essas coisas, não?

E mais: se jogarem pedra em mim, por estar usando havaianas, no dia seguinte a enquente na internet será: "ela deveria ou não usar havaianas"?

Quanto à intolerância em si... Ah, isso não é questionável, não é? :)

Abraços!

Anônimo disse...

Eh...eh...eh...
Quer dizer que, quanto menos tecido tiver sua roupa menos inteligência vc tem?
Preciso mudar minhas roupas urgentemente, vou trocar minhas mini saias e meus vestidinhos,só vou usar roupas que arrastem no chão.
Vou te contar viu, mas é melhor ouvir isso do que ser surdo, né não?
Ana Miranda

Yúdice Andrade disse...

Das 10h44, não minimize o fato. Essa mania de justificar as imbecilidades e as violências porque se trata de crianças e de adolescentes tem custado muito caro à sociedade. Penso que a análise da Rita está correta e foi isso que eu quis dizer: o garoto se mostrou como um sujeito tapado, sem visão política (em sentido amplo) e sem, sequer, conhecimento de uma simples relação de causa e efeito. Além de demonstrar um moralismo absurdo.
Se depois de escrever isso você me disser que defende a redução da maioridade penal, aí eu verei uma contradição insanável.

Wilson, presumo que uma coisa puxe a outra. Não faria sentido os alunos não poderem usar roupas mais leves.
Concordo plenamente: devíamos chamar esse povo da moda para, em vez de ficar fazendo tanta babaquice, conceber uniformes que aliem conforto aos padrões vigentes sobre decência. Nisso prestariam um grande serviço à sociedade.
O hábito distingue o monge do arcebispo, mas frequentemente nos enganando quanto a um e outro.

Vamos enfiar um hábito de monge nesse garoto e ver se ele passa de ano, Ana!

Rita, faz anos que sequer acesso a comunidade Belém. Saí de lá justamente por causa do que mencionas. Ninguém podia perguntar as horas que começava a pancadaria. Eu não tenho mais paciência para gente que precisa de tratamento psiquiátrico e não se dá conta disso.
No mais, as sandálias Havaianas entraram na moda faz tempo. As celebridades usam o tempo inteiro.
Precisavas ver o dia que colocamos as primeiras Havaianas nos pés da Júlia. Ficou linda! E ela mesma gostou e ficou toda prosa!

"Isso" a medida de conforto, não, Liandro? Quem nos dera!

Anônimo disse...

Caro Anônimo, o fato de ele ser "só" um menino é que piora sua fala. Se aos 13 anos ele pensa assim, já imaginou as imbecialidades que ele não vai falar, quiçá fazer, aos vinte?
Ana Miranda

Vladimir Koenig disse...

Desgraçado é aquele que inventou que usar paletó traz respeitabilidade! Sou alvo de olhares tortos porque frequento o fórum e as dependências sem os trajes "corretos", isto é, sem paletó e gravata e sim com meus indefectíveis jeans, tênis e camiseta.
Hoje me dou ao luxo de só usar paletó quando tenho audiência, sessão do tribunal do júri ou atendimento ao público (eles cobram nossas vestes "adequadas"!!!!!). Quando vou ao fórum para pegar processos, protocolar algo, despachar com juízes etc, não me vejo em nada obrigado a usar paletó. E posso dizer que até agora nenhum juiz se recusou a me atender em seu gabinete por não estar de paletó. Pelo contrário. Têm me atendido com o mesmo respeito que recebo quando estou "empaletozado". No futuro crio um pouco mais de coragem a passo a fazer as sessões do júri com jeans e camiseta por baixo das vestes talares e passo a fazer audiências com a beca (só pra usar por baixo a calça jeans)! heheheh.
Abraços,
Vlad.

Anônimo disse...

Sou da ideia do bom senso. Acho ridículo quem anda de terno e gravata num país tropical, debaixo de um sol de 40°C, só para dizer que é executivo (ou seja lá o que for).

As roupas de estilo europeu são elegantes, claro, mas não são apropriadas para o nosso verão, ainda mais com o tal Aquecimento Global.

Se vou a uma loja e eles me discriminam por causa da minha roupa, jamais retornarei.

Vlad, estou com você!

Alexandre