sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Um velho problema

A imprensa de celebridades (existe esta categoria?) noticiou que a atriz Deborah Evelyn (atualmente no ar, na novela Caras e Bocas) foi barrada na porta do cinema do Fashion Mall (Rio), no último final de semana. Ela pretendia assistir ao filme Bastardos inglórios, daquele doente ridículo do Quentin Tarantino, acompanhada de sua filha. O bilheteiro, contudo, frustrou as duas, alegando que a moça tem apenas 16 anos e o filme é para públicos a partir de 18. Já houve episódios idênticos aqui em Belém, cerceando a liberdade das famílias, não apenas de acesso ao lazer, mas sobretudo de exercer a sua prerrogativa de decidir a educação de seus filhos.
A atriz lembrou que não existe mais censura, e sim classificação indicativa. Com efeito, crianças e adolescentes não podem participar de eventos destinados a públicos de idade superior, salvo se estiverem acompanhadas dos pais ou responsáveis legais, a quem compete zelar por sua educação e formação moral. Mas há limites. E a classificação "18 anos" é o maior deles.
Na página do Ministério da Justiça, você encontra disponível para download uma excelente cartilha, que explica ser a "classificação indicativa é um conjunto de informações sobre o conteúdo de obras audiovisuais e diversões públicas quanto à adequação de horário, local e faixa etária". Segundo o documento, a "classificação indicativa não é censura e não substitui a decisão da família. A classificação é um processo democrático, com o direito à escolha garantido e preservado. O Ministério da Justiça não proíbe a transmissão de programas, a apresentação de espetáculos ou a exibição de filmes. Cabe ao Ministério informar sobre as faixas etárias e horárias às quais os programas não se recomendam. É o que estabelece a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente e as Portarias do Ministério da Justiça."
Nos cinemas, as regras são as seguintes:



  • menores de idade podem ingressar em espetáculos com classificação igual ou inferior à sua idade
  • menores de 10 anos só podem ingressar em espetáculos públicos acompanhados de um responsável, mesmo que a classificação seja “Livre”
  • menores de idade podem ingressar em espetáculos públicos com classificação superior à sua idade, desde que essa não ultrapasse a classificação “não recomendado para menores de 16 anos”. Para isso, o menor deve estar acompanhado pelos pais ou um responsável autorizado
  • não é permitido a menores de idade o ingresso em espetáculos classificados como “não
    recomendado para menores de 18 anos”.
Para conhecer em detalhes as regras sobre acesso a diversões públicas, leia a Portaria n. 1.100, de 2006, do Ministério da Justiça, que você encontra clicando aqui. Na página, você tem acesso a informações sobre classificação indicativa em outros países.
No final das contas, vale o bom senso (que, sabemos, falta a muitos pais). Nada de levar os suscetíveis adolescentes para ver pancadaria, erotismo e ideologias discriminatórias ou violentas.

8 comentários:

Tanto disse...

O problema, amigo, é explicar isso para o porteiro ou bilheteiro, que cuida do acesso de centenas de pessoas em poucos minutos e ainda tem medo do patrão, sem nenhuma possibilidade de discernimento!

Anônimo disse...

Qdo eu morava em Tucuruí, eu fui com minha filha ao cinema aí em Belém, ela estava com 12 anos à época, assistir a um filme proibido para menores de 16 anos e entramos na boa. Mostrei a identidade dela, meus documentos e não houve problemas. E olha que isso faz muito tempo, ela está com 20 anos hoje.
Agora, caro Yúdice, meu filho é cinéfilo, apaixonado pelo "doente ridículo" Tarantino... Eh...eh...eh...

Frederico Guerreiro disse...

Breve teremos a classificação das escolas.
Escola Ulisses Guimarães: probida para menores de 18 anos;
Paes de Carvalho: proibida para menores de 21.
e assim sucessivamente.

Na UFPA o "pererê-módromo" já foi liberado a todas as faixas. E com entrada franca.

. disse...

"Ela pretendia assistir ao filme Bastardos inglórios, daquele doente ridículo do Quentin Tarantino". Aiiiiiiiiiii, até que enfim alguém que concorda comigo neste quesito!!!

E, Frederico, dizer que a escola é proibida para menores de 18 anos considero, no mínimo, uma opinião desrespeitosa com os alunos que lá estudam. Você qualificar todos os estudantes dessas escolas sob a atitude de dois ou três é muito preconceito e até uma certa falta de compreensão sobre o problema do sexo nas escolas.

Ou achas que as escolas devem porteiro nos banheiros e impedir que os alunos entre em casal? Querido, isso é educação que vem de casa. Se minha filha entra no banheiro para se agarrar lá dentro a culpa é muito mais minha do que da escola.

Se a Escola tem alguma responsabilidade sobre essas coisas (e já não é bem culpa da escola, mas da Secretaria de Educação que deveria incluir) é de não ter entre as disciplinas "Educação Sexual". Embora, os fatos aos quais te referiste tenham muito mais a ver com distúrbio de comportamento (exibicionismo e precocidade na iniciação sexual) do que com educação sexual, propriamente dita.

Frederico Guerreiro disse...

Yúdice, peço-lhe aqui desculpas se não me fiz entender. Considere (me conheces) que não foi minha intenção ofender escola, aluno ou impoluto convicto da retidão moral, embora em parte deva concordar com os termos.
Não se configuraria uma "injúria coletiva" em minha hiperbólica ironia pudesse eu dizer de viva-voz. Não corresponderia a um "estado de espírito afetado ou cólera" a merecer quebra de decoro.
Meus sinceros pedidos de desculpas

Fred

Yúdice Andrade disse...

Sim, Fernando, com certeza isso é um problema. Mas que poderia ser facilmente resolvido com treinamento adequado e com acesso facilitado do público ao gerente do cinema. Duas coisas que não encontraremos em Belém do Pará.

Presumo que esteja me dirigindo a Ana Miranda. Minha cara, vocês deram sorte. Espero que tenha sido por qualificação do funcionário. O problema é quando ele deixa passar porque não está nem aí para as consequências. Nessa hipótese, entra até quem não deveria entrar e isso não é bom.
Até hoje, além de mim, só conheci duas pessoas que não gostavam do Tarantino. Mas boas teses frequentemente são minoritárias.

Relaxa, Fred. Sei que, volta e meia, a tua contundência acaba mal recebida pelas pessoas. Por isso mesmo, devo dizer que, no mérito, estou de acordo com o que escreveu Waleiska. Penso que atacar problemas como esses eventos lamentáveis depende mesmo das famílias, a começar por não transferir às escolas o dever de educar.

Anônimo disse...

Caro Yudice,

Por que você não gosta do Tarantino?

O blog anda melhor do que nunca.

Beijos

Tônia

Yúdice Andrade disse...

Sempre faço a maior festa quando te encontro aqui pelo blog, Tônia. Quanta saudade!
Respondendo a tua pergunta, detesto o Tarantino porque... tentei ver os filmes dele! Começou com Pulp fiction, claro. Virou uma febre, mas não vi no cinema. Um belo dia, peguei na locadora e me pus a assistir em casa, interessadíssimo. Depois de exatamente uma hora, senti-me um otário de perder meu tempo com aquilo. Não terminei de ver e minha tarde ficou melhor depois que arrumei outra coisa para fazer.
Tentativas posteriores também não deram certo.
Gosto de filmes com conteúdo, seja qual for o tema. Não tenho problema com cenas de violência, sexo, palavrões, gosma e degradação humana. Desde que haja um contexto em que o choque visual faça sentido. Tarantino é a violência pela violência, a brutalidade gratuita, para dar vazão às perversidades pessoais do sujeito, que podia estar se tratando com um psiquiatra.
Finalmente, também levo em conta uma entrevista que ele concedeu dizendo que adora ficar em casa fumando maconha, o que me faz entender por que os filmes dele são como são.
Dizem que ele amadureceu com sua mais recente obra. Espero que sim. Mas não pretendo constatar pessoalmente. A sorte dele é que, com a toda a loucura, consegue ter fãs do teu quilate.
Beijos.