quarta-feira, 18 de junho de 2014

Eleições deste ano

Não foi sem sofrimento que votei nulo pela primeira vez na vida. Foi em 2008, nas eleições municipais, quando um segundo turno entre Duciomar Costa e Priante eliminou sumariamente qualquer possibilidade de meus dedos confirmarem uma escolha na urna eletrônica. Cravar um voto na figura mais odiosa que já passou por nossa prefeitura era inimaginável. Mas a opção pelo adversário, candidato nada reconfortante e ainda por cima do PMDB, levou-me a vencer minhas barreiras e anular.

Este ano a coisa está ainda mais feia, a começar porque se trata de eleições gerais. No plano federal, minha necessidade de impedir o retrocesso que seria o retorno o PSDB ao poder já não serve de fôlego bastante para votar em um PT amancebado até a alma com o ultrafisiológico PMDB. E o chamego do grupo com gente do porte de Paulo Maluf assassina as últimas eventuais resistências. Além do mais, a política neoliberal do PT me decepcionou gravemente ainda no primeiro ano do primeiro mandato de Lula, então vocês bem podem aquilatar a minha pouca disposição para esperanças e contemporizações.

Não nego a existência de políticas positivas, realizadas nos últimos anos, que só aconteceram graças a um olhar mais à esquerda. A ampliação do acesso ao ensino superior é uma delas. Mas a incipiência dos indicadores sociais nos governos petistas é um dos maiores reproches que se pode arguir contra eles, porque se esperavam avanços expressivos justamente nessa área. Avanços reais, sem publicidade institucional e deslumbramento partidário. Mas o próprio discurso, permanentemente centrado na economia, já desmerece essa expectativa. E se por um lado é verdadeiro que o Brasil enfrentou a crise econômica mundial como poucos países conseguiram, por outro também é verdadeiro que nossas taxas de crescimento econômico continuam na marcha lenta de sempre.

Além disso, repugna-me continuar pagando impostos extorsivos, sem receber de volta o proveito esperado e exigível, além de preços inacreditáveis por serviços de má ou péssima qualidade, em todos os campos, com a ampla permissividade do governo. Agências reguladoras? Ouvidorias? Tudo balela. O Reclame Aqui ainda é mais vantajoso.

Por fim, temos as eleições estaduais. Uma chapa de situação ainda mais inoperante e midiática do que o tucanato federal quer manter-se no comando (e, agora se sabe, para atender aquelas coalizões partidárias indecentes, oferecendo a vaga de vice para um deputado evangélico). A alternativa é apostar em um projeto gestado há muitos anos, segundo o qual Jáder Barbalho faria seu filho governador. Se já não fosse assustador o bastante, o projeto reúne diretrizes tão opostas como PT e, mais recentemente, DEM, que deve oferecer o candidato a vice, na pessoa de um campeão de ações penais em trâmite perante o STF.

Está bom para você? É votar e meter uma bala na cabeça. E quando penso que não existe terceira via capaz de enfrentar esses projetos de poder, por enquanto, vejo de antemão que só nos resta aguardar a desgraça e a rapinagem. Lasciate ogni speranza, voi ch'etrate. Se sobrar alguma coisa, quem sabe em 2018 temos alguma chance de mudança?

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