Não foi sem sofrimento que votei nulo pela primeira vez na vida. Foi em 2008, nas eleições municipais, quando um segundo turno entre Duciomar Costa e Priante eliminou sumariamente qualquer possibilidade de meus dedos confirmarem uma escolha na urna eletrônica. Cravar um voto na figura mais odiosa que já passou por nossa prefeitura era inimaginável. Mas a opção pelo adversário, candidato nada reconfortante e ainda por cima do PMDB, levou-me a vencer minhas barreiras e anular.
Este ano a coisa está ainda mais feia, a começar porque se trata de eleições gerais. No plano federal, minha necessidade de impedir o retrocesso que seria o retorno o PSDB ao poder já não serve de fôlego bastante para votar em um PT amancebado até a alma com o ultrafisiológico PMDB. E o chamego do grupo com gente do porte de Paulo Maluf assassina as últimas eventuais resistências. Além do mais, a política neoliberal do PT me decepcionou gravemente ainda no primeiro ano do primeiro mandato de Lula, então vocês bem podem aquilatar a minha pouca disposição para esperanças e contemporizações.
Não nego a existência de políticas positivas, realizadas nos últimos anos, que só aconteceram graças a um olhar mais à esquerda. A ampliação do acesso ao ensino superior é uma delas. Mas a incipiência dos indicadores sociais nos governos petistas é um dos maiores reproches que se pode arguir contra eles, porque se esperavam avanços expressivos justamente nessa área. Avanços reais, sem publicidade institucional e deslumbramento partidário. Mas o próprio discurso, permanentemente centrado na economia, já desmerece essa expectativa. E se por um lado é verdadeiro que o Brasil enfrentou a crise econômica mundial como poucos países conseguiram, por outro também é verdadeiro que nossas taxas de crescimento econômico continuam na marcha lenta de sempre.
Além disso, repugna-me continuar pagando impostos extorsivos, sem receber de volta o proveito esperado e exigível, além de preços inacreditáveis por serviços de má ou péssima qualidade, em todos os campos, com a ampla permissividade do governo. Agências reguladoras? Ouvidorias? Tudo balela. O Reclame Aqui ainda é mais vantajoso.
Por fim, temos as eleições estaduais. Uma chapa de situação ainda mais inoperante e midiática do que o tucanato federal quer manter-se no comando (e, agora se sabe, para atender aquelas coalizões partidárias indecentes, oferecendo a vaga de vice para um deputado evangélico). A alternativa é apostar em um projeto gestado há muitos anos, segundo o qual Jáder Barbalho faria seu filho governador. Se já não fosse assustador o bastante, o projeto reúne diretrizes tão opostas como PT e, mais recentemente, DEM, que deve oferecer o candidato a vice, na pessoa de um campeão de ações penais em trâmite perante o STF.
Está bom para você? É votar e meter uma bala na cabeça. E quando penso que não existe terceira via capaz de enfrentar esses projetos de poder, por enquanto, vejo de antemão que só nos resta aguardar a desgraça e a rapinagem. Lasciate ogni speranza, voi ch'etrate. Se sobrar alguma coisa, quem sabe em 2018 temos alguma chance de mudança?
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