quinta-feira, 19 de março de 2020

É preciso calá-los

Algumas verdades são evidentes a qualquer um que não esteja contaminado pelo mais perigoso agente patológico em circulação no país: o bolsonarovírus. Por exemplo: a economia, única coisa que parece importar ao brasileiro médio, não melhorou, mesmo após 1 ano, 2 meses e 19 dias de governo salvacionista. Não apenas não melhorou como tem matado do coração muitos investidores internos e afastado os externos, porque não sentem segurança alguma em investir por aqui. E isso mesmo com as "reformas" que, desde 2016, somente serviram para suprimir direitos de cidadania.

No entanto, o pior governo civil da História segue como sempre: inócuo em toda e qualquer área; comprometido com a supressão de direitos; medíocre e agressivo em todas as suas manifestações; incapaz de manter aliados mesmo no próprio partido; eficiente apenas em submeter o Brasil a humilhações internacionais cada vez mais dramáticas. E, claro, governando por tweets estúpidos, que mostram como estamos sob o comando de um valentão de escola, que quer resolver tudo na porrada, mas se cerca de jagunços para isso, porque ele mesmo não consegue fazer sequer uma flexão. As hoje onipresentes fake news e as grosserias colossais, que ajudaram a colocar essa escumalha no poder, são também uma estratégia de governo. Basta surgir uma situação embaraçosa ou um indicativo desfavorável e o Bolso Pai, ou um dos Bolsos Filhos, dispara uma lacração diferente, aplaudida pela claque, e que mobiliza não apenas a sociedade civil, mas também a classe política, a imprensa, as organizações ativistas, etc., para tentar impedir o desvario da ocasião.

Aliás, o Brasil surreal implantado em 2018 conta com essa característica inédita e singular: a de ser o único país no mundo em que o governo fala não apenas por seu titular e por um porta-voz, mas também pelos filhos do primeiro, proporcionando um show à parte na inacreditável competição para se saber quem é o mais intelectualmente indigente e emocionalmente desequilibrado. Dos três rebentos, o mais ativo nessa disputa é o tal de Eduardo, vulgo "03", por se prevalecer de um mandato de deputado federal para dar vazão aos seus arroubos.

A mais recente, e que motivou esta postagem, foi o tweet acusando a China de omitir informações relevantes, o que seria causa da perda de controle da situação, a ponto de termos, agora, uma pandemia. A resposta da embaixada chinesa foi mordaz e contundente, aludindo, inclusive, à postura lambe-botas que o clã presidencial tem em relação aos Estados Unidos do outro nojento, o tal de Trump.

Quando li sobre isso, já sabia o que aconteceria. E não deu outra: a turma da bancada ruralista, aboletada no Congresso Nacional, reagiu desautorizando a fala do abestado. Lógico. Embora os ruralistas atuem para implodir os direitos trabalhistas e ambientais, liberando a exploração ilimitada dos recursos naturais para maximização de seus lucros no mínimo de tempo possível, eles não são burros. Se bem que qualquer um que não tenha preocupações ambientais, no final das contas, é um completo idiota, porque todos vivemos no mesmo planeta. Digamos diferente, então: eles são coerentes com suas agendas e conseguem raciocinar com clareza (habilidade ausente naquela família lá). Se a China é o maior parceiro comercial do Brasil na atualidade, deve ser tratada com respeito. Se os chineses decidirem retaliar o país, aí a desgraça não terá precedentes, inclusive porque não será sentida apenas pelos pobres.

Vale lembrar que, ainda no começo do desgoverno, quando o presidente bostejava a todo momento contra a legislação ambiental, contra o IBAMA, contra a ciência que mostrava o nível de desmatamento, contra as reservas indígenas, contra a Amazônia, etc., a bancada ruralista já acendeu a luz vermelha. Porque, para os países do chamado Primeiro Mundo, a preservação ambiental é importante, ao menos no nível em que eles podem deixar de comprar produtos de indústrias predatórias. Ali os safardanas sentiram que o governo que eles ajudaram a eleger podia acabar com eles, por suas péssimas escolhas e por sua incapacidade de calar a boca. O episódio de hoje é apenas uma lembrança disso, se é que alguém esqueceu.

Enfim, segundo analistas, o isolamento do governo continua aumentando. E nem assim o clã muda de rota, até porque, provavelmente, não conseguem mesmo. São limitados demais até para isso. E de desvario em desvario, vão arrostando o país para uma situação cada vez pior. Por isso abri este texto inventando um "bolsonarovírus". Uma doença que ainda acomete uma quantidade inacreditável de brasileiros, como as manifestações do último dia 15 mostraram. Gente tão empedernida que não enxerga para onde estamos indo e que os danos ora causados demorarão muito para ser corrigidos, se possível, e a um custo inimaginável.

Enquanto os Bolsos e os doentes que os apoiam falarem, estaremos a caminho da falência múltipla de órgãos.

2 comentários:

Almir Deodato disse...

Caro Yúdice! Estava afastado das leituras do teu blog e o tempo maior em casa proporcionou revisitá-lo, e a escolha foi certa! Também partilho do sentimento de preocupação dos rumos e sequelas do bolsonarovírus. Espero que em tempo hábil possamos conter o avanço desse estado doentio. Sigamos fortes! Almir Deodato

Yúdice Andrade disse...

Muito obrigado pelo apoio, Almir. Nestes tempos em que defender o óbvio se tornou um exercício de paciência e até de coragem, toda compreensão é bem-vinda.
O fato é que a situação do país vai de mal a pior e, uma hora dessas, os fascinados terão que admitir que não poderão mais falar do comunismo, Lula, PT, etc., porque o caos instalado já tem o selo da gestão atual.
Vamos avante, como pudermos.