sexta-feira, 10 de julho de 2015

Hoje é o dia do meu aniversário

Hoje é o dia do meu aniversário.

Nunca fui de aniversários. Nada contra o seu; o que não me apetece, mesmo, é o meu. Fico extremamente feliz de ser lembrado e receber afagos em uma data simbólica, mas realmente acho que é um dia como qualquer outro. Para minha mãe, não: o dia em que você nasceu é o mais importante do ano. Ele deve ser celebrado com todas as honras, seja com uma fatia de bolo, seja com uma festa enorme, mas não pode "passar em branco", como tantas vezes me disse, quando eu rejeitava a todo custo as propostas de comemoração.

Hoje é o dia do meu aniversário. E não um aniversário qualquer pois, para as convenções sociais, as datas redondas são particularmente chamativas. Estou completando 40 anos. Quem diria, agora sou um quarentão. Muito se diz sobre esta fase. Eu só tenho a dizer que a vida seguiu seu curso.

Considerei muitas coisas sobre esta data. Fazer nada? Comemorar com uma festinha regada a rock? Deixar os amigos de lado e comemorar apenas em casa, com um almocinho à base de peixe, camarão e açaí? Fui aceitando esta última hipótese, para conter as exigências maternas que certamente viriam. Ia acontecer. Mas então minha mãe passou uma semana internada, recebeu alta e voltou ao hospital, desta feita por culpa exclusiva de um médico que errou o procedimento realizado. Ao instalar um cateter inadequado, impediu-a de fazer hemodiálise e colocou sua vida em risco.

Ela voltou ao hospital, com todo o sofrimento que isso impõe, e ontem foi substituído o cateter. E hoje o cateter não funcionou. Hoje, no dia do meu aniversário, minha mãe, que praticamente não dialisou nada na terça, não dialisou nada esta manhã. Está em um leito de hospital e nós em volta disso tudo.

Hoje é o dia do meu aniversário. Algumas pessoas me telefonaram e outras me mandaram mensagens pelo Facebook ou pelo WhatsApp. Elas querem me dizer coisas bonitas e não estou conseguindo escutar. Hesito em atender e, quando atendo, retribuo a festa que me fazem com toda a minha carga de escuridão, eu que sou tão fácil para obscurecer. Preciso deixar claro, todavia, que é sincera a minha gratidão por toda a generosidade que me tem sido manifestada nos últimos dois anos, sobretudo.

Hoje não é um dia de festa. Mas é o dia do meu aniversário e eu quero um presente, apenas um: quero abraçar minha mãe, em casa, e ficar com ela sem urgências e medos imediatos sobre o dia de amanhã. Não peço bailes nem ouros, mas é impressionante como o meu pedido parece muito mais difícil de alcançar.

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