domingo, 3 de abril de 2016

6 meses

Hoje faz 6 meses que nossa mãe deixou este plano. Como no mês passado e no anterior, eu não me lembrei. Foi preciso que alguém tocasse no assunto, desta vez meu irmão, para eu recordar. Desde o primeiro momento não quis vincular-me a uma data, pois me conheço. Sei que acabaria demonizando os dias 3 para o resto da vida, sofrendo com sua aproximação, sentindo-me mal quando ele chegasse. Mais ou menos como meu irmão disse se sentir.


Não foi rápido, como vaticinaram. Durou exatamente 6 meses. Cada um dos 1.440 minutos de cada dia, se eu estava acordado, foi percebido e sentido. A metáfora poética da presença da ausência se tornou real e palpável. É uma sombra que me acompanha desde o instante em que abro minhas pálpebras ao amanhecer.

Esta semana, encontrei minha querida amiga Mariana Mendonça, cujo pai faleceu subitamente há 8 meses. Estamos compartilhando o luto, de algum modo. E concordamos que as pessoas nos falam que vai melhorar porque, enfim, o que mais poderiam dizer? São amigos e querem o nosso bem, então dizem algo que possa trazer algum reconforto. Agradecemos pela boa intenção. É bem provável que acreditem realmente nisso. É bem provável, até, que tenham alguma razão. Apenas eu e ela ainda não tivemos a oportunidade de sentir essa paz.

O luto produz outras consequências, imponderáveis, porque dizem respeito à experiência de cada qual. Problemas que surgem com o tempo, como aquela sequela de um acidente que leva meses ou até anos para se revelar. Nada a fazer senão lidar com isso. E muitos não sabem lidar com o luto e acabam por tomar atitudes irracionais, trazendo sofrimento a si mesmos e a terceiros. Ou, no mínimo, como é o meu caso, ficam sentados à beira do caminho, como diria a oportuna e perfeita canção de Roberto e Erasmo Carlos, esperando a dor passar.

Foi-se um semestre. Logo será um ano. E logo serão 10. Talvez, aí, eu diga que passou num piscar de olhos. Mas o tempo realmente não é o que importa. O que eu procuro, sem trégua, é um sentido para tudo que aconteceu, do modo como aconteceu. Se houver algum, espero que ele apareça em alguma curva onde carros, caminhões, poeira, estrada, tudo, tudo não se confunda mais em minha mente.

2 comentários:

Hudson Andrade disse...

Te amo, irmão.
Nossa mãe também.
E por mais que eu não queria, ainda não cheguei a essa estrada.

Anônimo disse...

Vai passar a tristeza e só ficarão os bons momentos.