Na madrugada de hoje, assaltantes tomaram de assalto um ônibus parado em um posto de combustível, durante abastecimento, e um deles, sabe-se lá com qual intuito, alvejou uma vítima indefesa. Com isso, provocou a morte de Lucas Silva da Costa, de apenas 19 anos, estudante de Fisioterapia da Universidade da Amazônia. Lucas era um dos aproximadamente 60 universitários que deixaram suas casas rumo à comunidade de Algodoalzinho, Município de Magalhães Barata, a aproximadamente 160 Km de Belém. Dada a distância a percorrer, precisaram madrugar e se expuseram à insegurança das ruas de nossa cidade.
Esses valorosos jovens participam do Rota Solidária, programa de extensão do CESUPA, interdisciplinar e interinstitucional, que leva assistência social e à saúde para comunidades carentes. Esta particularidade tinge de cores ainda mais horrendas o episódio, pois é a perda de uma vida generosa, preocupada com o semelhante e em plena ação pelo bem alheio. Além disso, esta tragédia traz o sofrimento para dentro de nossas casas.
Não conheci Lucas. Mas a minha página do Facebook está se enchendo de mensagens de pessoas que o conheceram. Era amigo de alunos meus, de filhos de amigos meus e estava colaborando com a instituição onde eu leciono. Acima de tudo, era o filho de alguém. O irmão e o namorado de alguém. A esperança de muitos.
Nesta quadra da vida, em que ando profundamente sensibilizado, por razões familiares, o sofrimento e a perda me doem muito particularmente. Eu gostaria de poder fazer algo que mudasse os fatos, mas é impossível. Eu gostaria de dizer algo que fizesse a família e os amigos de Lucas se sentirem melhor, mas não sei se consigo. Há alguns anos, estive no velório de um jovem basicamente da mesma idade e me recordo de como me senti impactado de ver tanta gente jovem, pouco mais do que crianças, sofrendo de um jeito absurdo. Ali, houvera um acidente; hoje, para piorar, alguém decidiu que podia suprimir uma vida. A dor vem com notas de revolta. É tudo grave e triste demais.
Em seu livro Em busca das penas perdidas, Zaffaroni nos fala de um genocídio em ato, na América Latina. E faz uma angustiante lista de motivos pelos quais seres humanos morrem (são mortos!!) por modos que tornam o Estado responsável em alguma medida. E é um sentimento semelhante que tenho visto em algumas das manifestações que li: as pessoas estão assustadas e revoltadas porque a omissão estatal quanto à segurança pública nos coloca sob risco permanente.
Para além de toda dor, devemos lembrar que o crime e a violência jamais serão eliminados, enquanto nós formos o tipo de humanidade que somos. Mesmo no mais organizado, honesto e proativo dos mundos, sempre haverá quem provoque dor. Contudo, nesse mundo ideal tais atos seriam a exceção. A nossa angústia é pensar que, por aqui, as tragédias se sucedem sem trégua e não enxergamos alento no horizonte.
Só posso desejar que Lucas vá com Deus e que sua família e amigos encontrem paz. E que ninguém mais precise passar por experiência tão traumática. Tal desejo, no entanto, é mais uma questão de fé. Então que haja fé para aqueles que choram.
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