sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Agressividade global

Não disponho de nenhuma informação, por isso todo o texto que se segue constitui mera especulação minha.

Cansada de ouvir que perdeu espaço frente à concorrência, sofrendo reveses inclusive em relação ao produto que, sabidamente, é o seu carro-chefe, as telenovelas, a Rede Globo decidiu recuperar o seu status. Neste ano de 2012, a controversa emissora brasileira adotou estratégias que têm sido muito comentadas por quem se interessa pelo tema.

O ator Gabriel Braga Nunes interpreta o protagonista
com poderes especiais, vivendo no Marajó nos primeiros
capítulos de
Amor Eterno Amor.
A primeira dessas estratégias atingiu diretamente a nós, paraenses. Depois que a Record gritou aos quatro ventos que sua melhor audiência era aqui em Belém e passou a mimar os paraenses, a Globo contra-atacou, criando as vinhetas nas quais os atores dos programas em exibição falam diretamente aos paraenses e ao público da TV Liberal; deu amplas oportunidades a Gaby Amarantos; exibiu diversas reportagens sobre o nosso Estado, desta vez em tom mais elogioso; e chegou ao ápice com a novela Amor Eterno Amor, na qual divulgou uma controversa visão muito peculiar dos nossos costumes, além de exibir as belezas da Ilha do Marajó e de Alter-do-Chão.

Amor Eterno Amor também investiu em um sub-tema que sempre rendeu bons dividendos para a emissora: a espiritualidade. Na maioria dos casos, a exploração dessa temática atrai o brasileiro médio, que sempre está ávido por acreditar. O resultado foi uma mistura inconsequente de temáticas metafísicas.

Cheias de charme explorou a onda brega, versão forró,
melody e sertanejo. Novela boa em meio a música ruim.
A segunda estratégia tem a ver com a ascensão das classes sociais mais baixas. Com maior poder aquisitivo, o lado brega do povo brasileiro agora quer ver e ser visto. Para manter a audiência, foi preciso trocar o estilo Manoel Carlos de fazer teledramaturgia, centrado no mundo dos ricos e afrescalhados e dos muito ricos e afrescalhados além da conta, para dar destaque a essa gente bronzeada que está louca para mostrar o seu valor. No horário destinado às novelas cômicas, foi Cheias de charme que brilhou. Tendo como protagonistas três (improváveis) empregadas domésticas e uma patroa rica, porém breguíssima, as classes C, D e E tiveram a sua vez. O resultado foi um estrondoso sucesso.

Chegamos, por fim, à faixa das 21 horas, o horário nobre. Avenida Brasil ganhou uma legião de fãs e incontáveis inimigos, mas todos pareciam estar sentados em frente à TV. Ouvi tantos desaforos contra a trama, mas nem por isso ela perdeu audiência. Carminha, a memorável vilã de Adriana Esteves, era tão má que conquistou a simpatia do público, até porque o apelo popularesco aqui também foi usado. O núcleo central do enredo era rico, mas não como antigamente. Eram ricos sem classe, esbanjando breguice e brasilidade. Temperou-se com um garanhão idoso, um playboy trígamo e uma deliciosa periguete (personagem que agora parece ser obrigatória em toda novela) e a receita deu certo.

Avenida Brasil: o mérito de não ter uma mocinha
tradicional, mas muita violência na tela do horário nobre.
O que observei, nestes últimos dias, foi uma propaganda pesada para chamar a atenção de todos para a semana final de Avenida Brasil. A Globo jogou para valer e se deu bem. Mencionou que Dilma Rousseff mandou mudar o horário de um comício para poder ver o último capítulo. Promoveu chamadas e enquetes no Portal G1. Usou até uma estratégia curiosa, hoje: exibir uma grande lista de suspeitos do assassinato de Max e, ao longo do dia, ir eliminando alguns. Com isso, mantém uma parcela do público fixado no assunto durante o dia inteiro.

O público correspondeu. Hoje, a emissora instituiu uma espécie de plantão do último capítulo. Vários programas trataram de algum modo dele, até mesmo o Globo Repórter, cujo tema em princípio era sobre justiça. Foi um dia em que as pessoas não queria trabalhar nem assistir aula por causa da novela. Até a concorrência aderiu: no Portal Uol, foi posto um acompanhe minuto a minuto a novela, com direito a fotos. Tudo pela audiência, de um jeito que não vira antes neste país. A técnica de colocar conteúdos exclusivos na Internet também está sendo empregada, salvo engano com a novela Lado a lado.

Pouco importa de qual novela estamos falando. Pelo visto, a forma de agir mudou e está mais profissional. Nada será como antes.

2 comentários:

Anônimo disse...

Oioioi.

Yúdice Andrade disse...

Oioioi para você também!