segunda-feira, 5 de novembro de 2012

China: até 6 meses de prisão sem acusação

Considero a China uma grande contradição. Dos países de comunismo tradicional, é o único sobrevivente com força econômica, e não uma força qualquer, adquirida graças a um modelo sui generis de capitalismo. Mas não há liberdades democráticas por lá, o que coloca o país numa condição muito singular. A Primavera Árabe mostrou que a falta de liberdade, mais cedo ou mais tarde, leva à ruína dos governos, mas a China resiste, quase impassível. Enfim, não quero comparar realidades evidentemente díspares.
Chega-me a notícia, agora, nesse contexto de falta de liberdade, que a própria Constituição daquele país permite que qualquer pessoa seja presa por até seis meses sem acusação formal, um absurdo supremo que em lugar nenhum do mundo ou da história foi empregado para combater a criminalidade: esse tipo de medida sempre é utilizada como forma de contenção e até de eliminação dos inimigos do poder vigente.
Ai Weiwei: seu maior  pecado no vídeo foi dançar mal.
Esses inimigos, tratados como terroristas ou subversivos, podem ser nada além de um artista plástico tornado ativista político, como Ai Weiwei (foto), que sob prisão domiciliar fez apenas uma paródia de um vídeo, viral do momento na Internet. Somando-se a uns detalhes, como o título dado ao vídeo, sofreu novos cerceamentos.
O inimigo pode ser, também, um cidadão empenhado em doar alimentos e agasalhos para os miseráveis chineses, em meio a um inverno enregelante, como se pode ler neste depoimento impressionante.
Espero que exemplos como estes possam demonstrar, aos incautos, principalmente aqueles que se apressam a defender o arbítrio e a violência contra os supostos transgressores, que o poder é isso: uma estratégia de controle, não de justiça.
Aliás, justiça é uma palavra curiosa, num mundo que soube se opor ao Iraque, ao Afeganistão e a outros países, mas que convive tão pacificamente com a China, por sinal desde sempre membro do Conselho de Segurança da ONU.
Tenho que me lembrar de nunca tentar viajar para a China. Afinal de contas, todas as vezes que a menciono, aqui no blog, não é dizendo coisas que o governo de lá fosse perdoar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Agora faça-se ideia, Yúdice, fosse você um professor universitário chinês e escrevesse isso por lá para todo mundo ler.

Abraço
Fred