sábado, 12 de janeiro de 2013

O aniversário do alívio

12 de janeiro, aniversário de Belém.

Gostaria de dizer coisa melhor, mas a sensação que tenho é a de que nossa cidade está, neste momento, como alguém que acabou de passar por um grave acidente, machucou-se e ainda está com uma medonha taquicardia, plenamente consciente de que poderia ter morrido e, se tal não ocorreu, pode-se por na conta do milagre. Ainda não dá para conversar, para racionar com clareza; apenas ficar parado, com os olhos muito arregalados, esperando as capacidades físicas e mentais retornarem, no seu tempo.

Nesta data, o que temos em quantidade são necessidades e um desejo de melhorar, de virar essa página marcada pela compreensão de que nada funciona, nada acontece e que isso certamente deve ser muito conveniente para alguém, que não os habitantes da cidade.

Hoje é o dia do cidadão comum, aquele que nasceu aqui ou depositou neste endereço a sua vontade de viver. Hoje é o dia daqueles que não repudiam esta cidade; que quando criticam, é porque almejam um lugar melhor para todos. É o dia dos que encontram belezas ocultas nas árvores, nas construções antigas, nos túneis de mangueiras, na visão do rio. É o dia dos que sabem o que fazer para se divertir por aqui mesmo. É o dia dos que amam a chuva.

Hoje é o dia daqueles que entenderam que amar, a gente ama de graça. E agradece porque aqui existe alagamento, mas não inundação; porque terrenos planos não são sujeitos a deslizamentos de encostas. E acredita de que estes habitantes acomodados e espaçosos começaram a perceber que a cidade pode ser melhor e como se pode chegar a isso, em ações individuais, mais do que em medidas de governantes que não necessariamente farão alguma coisa.

Hoje é o dia de parabenizar Belém por seus 397 anos e assumir algum compromisso com ela. Pode ser qualquer coisa simples. Pode-se prometer não fechar mais os cruzamentos nem parar em fila dupla; não jogar lixo na rua; não obstruir as calçadas que se destinam às pessoas; cuidar bem dos jardins, dos gramados e das árvores; cultivar flores em locais visíveis; não promover poluição sonora; respeitar as nossas tradições e heranças culturais; cuidar bem do patrimônio público; orientar as crianças e impedir os adultos de violar essas regras. Pode ser qualquer uma dessas coisas. Com qualquer delas, e outras semelhantes, todos sairemos ganhando.

6 comentários:

Anônimo disse...

Lindo texto. Belém merece dias melhores e, para tanto, temos que deixar o péssimo hábito do "jeitinho brasileiro", abandonar a queixa pela queixa e assumir o compromisso cotidiano de tratar a cidade e os cidadãos com urbanidade.
Anna
Clariceguerreirinha.blogspot.com.br

Anônimo disse...

O que estraga Belém é a própria gente que mora nela. Fazemos nossa parte assumindo o compromisso, p. ex., de não jogar lixo na rua, mas como lidar com um vizinho analfabeto que faz reforma na casa e joga seus "problemas" para os outros, depositando seu entulho no meio da rua e praça. É um desalento para mim (e creio que para a cidade) ver um vizinho adotar esse tipo de conduta com quatro filhos pequenos em casa, vendo tudo isso. O que estraga, meu amigo, é essa gente estúpida, sem compromisso com a cidade, sem solidariedade, egoísta. Enquanto prevalecer a cultura do que o que é público é de ninguém, não vejo futuro melhor, todos saem perdendo.
Por outro lado, nós cidadãos deveríamos nos mobilizar e exigir do novo prefeito um cronograma de coleta de entulho, uma emergencial limpeza da cidade, que está suja "como nunca antes". Mas esse serviço não funciona. Belém não merecia esse presente, esse lixo presente.


Esta semana uma vizinha ultrapassou nossos limites de paciência. Havia já alguns meses, ela colocava o cãozinho dela para fazer cocô no meio da rua, em frente à nossa casa. Isso todo dia! Lá vinha eu e passava com a roda do carro por cima e levava tudo para dentro do meu pátio, uma fedentina só. Por vezes tinha de lavar o pátio e a roda do carro. Mas para que minha esposa foi pedir que ela juntasse a caca e jogasse no lixo da casa dela? Foi uma afronta. E adivinha o que disse a ignorante? "VOCÊS É QUE ESTÃO ERRADOS, EU ESTOU NA RUA, NÃO NA CASA DE VOCÊS!!!" Dá para lutar (ou argumentar qualquer coisa) com uma gente desse tipo? Jura que vou fazê-la mudar de ideia e nos pedir desculpas? É esse tipo de gente que estraga Belém do Pará.

O melhor de Belém fica cada vez mais no passado.

Abraço
Fred

Anônimo disse...

Antes que alguém pergunte, denunciar essa gente que faz reforma e joga entulho na rua à prefeitura não adianta. Ligue para o 156 é comprove. Mesmo quando alguém atende, verá que é mera firula, fingimento de que vão mandar alguém para fiscalizar e limpar.
Se eu fosse prefeito mandava fiscalizar e multar sem piedade. Se o proprietário do imóvel não comprovasse (com protocolo) que solicitou a coleta e não foi atendido, multa!

Fred

Yúdice Andrade disse...

Verdade, Anna. Mas o desabafo do amigo Fred, logo abaixo, demonstra como é difícil assumir esse compromisso aqui em Belém. Qualquer um que more aqui reconhece com absoluta naturalidade a descrição que ele fez. Por aqui, o errado é o certo; tentar a civilidade é que constitui agressão. E o pior é que só existe mobilização em torno do errado.
No mesmo conjunto Médici, a moda é fechar ruas para festas privadas. Cada um que deseja festejar o aniversário do cachorro bloqueia a rua com carros e enche o perímetro de cadeiras e mesas de plástico. Aí bota a caixa de som na rua e toma-te barulho. Como lutar contra isso?
Eu sou a favor de passar uma raja de metralhadora. Juro que sou. Mas não vou estragar a minha vida assim.

Anônimo disse...

Ah, Yúdice, esse teu humor negro me faz rir. Também tenho essa vontade de passar um rajada de metralhadora nessa gente. Só me falta a metralhadora e o descontrole emocional, coisa que quase aconteceu no natal passado. O vizinho, lá do outro lado da praça, resolveu pulverizar a festa dos outros com um karaoquê estupidamente alto. Reclamei porque não conseguíamos sequer conversar dentro da nossa casa (quanto mais ouvir nossa música só para nós). Sabe a resposta? ESTOU DENTRO DA MINHA CASA!!! Enquanto isso, outro vizinho jogava lixo na minha lixeira (diz-que porque ele não tem lixeira) na nossa frente, sem o menor constrangimento. Diz aí, é ou não é desalentador? Dá para lutar contra esse tipo de animal? Dá mesmo é vontade de metralhar.
Fred

Anônimo disse...

Ha algo muito engraçado (ou triste, sei lá) sobre o tipo de caráter que temos. Veja A Grande Família e perceba que o personagem correto, honesto, ético (Lineu, óbvio) é o cara chato, sem graça, que "não sabe viver". Realmente, às vezes ser correto é até inadequado, tão destoante que é...
A gente tenta, Fred. Continuemos.
Anna