quarta-feira, 24 de agosto de 2016

A "Justiça" chega ao mainstream

"Depois que a justiça morde o seu quinhão, o que é que sobra da vida das pessoas?"

Manuela Dias, autora

Como atualmente é raro eu assistir à TV aberta, tomei conhecimento da nova aposta teledramatúrgica da Rede Globo, Justiça, curiosamente com vários dias de antecedência, porque pessoas que me conhecem deduziram que seria do meu interesse. Primeiro meu irmão, depois vários alunos, sendo que estes já começaram a me questionar sobre o conteúdo exibido. Coloquei para gravar e pretendia assistir no final de semana, mas estão me fazendo perguntas que me instigam a acompanhar a série tão prontamente quanto possível.

Clicando no link que se segue, você pode assistir a um vídeo do canal Gshow explicando a proposta: http://gshow.globo.com/series/justica/playlists/0/gshow-apresenta-justica.html



Justiça é uma minissérie de ficção que adota um tom narrativo documental, a fim de assumir uma natureza tão realista quanto possível. É o que explicam a autora, Manuela Dias (39 anos, 20 na Globo, com experiência como roteirista colaboradora em seriados, tais como "A grande família" e "Faça sua história", e nas novelas de Thelma Guedes e Duca Rachid, tornou-se autora principal com "Ligações perigosas", exibida este ano, além de ter roteirizado, para o cinema, filmes não comerciais, porém elogiados e premiados) e o diretor artístico José Luiz Villamarim (20 novelas e minisséries no currículo).

Eles falam em uma linguagem inovadora, mas me permitam dizer que seria inovadora no Brasil, já que a fórmula é bem conhecida na teledramaturgia estadunidense, que adota o formato de seriados. São tramas policiais, no caso enfatizando aspectos predominantemente humanos, com o recurso das estórias paralelas que se cruzam ocasionalmente, o que funcionou bem em filmes de razoável sucesso, tais como Magnólia e Crash: no limite.

O objetivo é discutir temas éticos complexos, tendo como pano de fundo a "Justiça", não como princípio, mas como aparelhamento estatal. Aliás, para mim, chamar o poder judiciário de "justiça" sempre me soou curioso e, hoje, altamente irônico (não apenas o judiciário, mas as agências punitivas como um todo). A produção parece preocupada com o funcionamento do sistema de justiça criminal, tanto sob o aspecto das leis quanto de sua realidade operacional. Assim, se por um lado temos personagens que realmente cometeram crimes, por outro temos gente injustiçada. Em comum, todos foram presos na mesma noite e ficaram sete anos presos. Como serão suas vidas depois disso, é o que será explorado, sob uma perspectiva que a autora resume na frase que usei como epígrafe. Essa frase resume o meu interesse pela série e sintetiza o meu esforço, como professor de direito penal e de criminologia.

Bem construída e contando com interpretações cativantes, Justiça chega para ser o meu mais novo material didático. Os questionamentos vão se avolumando, então trataremos deles em postagens posteriores. Afinal, quem não se interessa por uma boa estória? E quando essa estória nos permite refletir sobre a realidade, melhor ainda.
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Fontes:

  • http://oglobo.globo.com/cultura/revista-da-tv/manuela-dias-aborda-relacao-entre-etica-as-leis-em-nova-serie-na-tv-globo-19444508
  • http://www.filmeb.com.br/quem-e-quem/montador-produtor-roteirista/manuela-dias

Um comentário:

Ana Miranda disse...

Saudades de você... Meu amigo, nem seu texto, muitíssimo bem redigido, far-me-á assistir ao programa, não aguçou a minha curiosidade.