domingo, 18 de março de 2012

As opções culturais de Belém

Meu irmão sabe muito bem que, se eu não gosto dos espetáculos dos quais ele participa, como ator, diretor ou autor, digo mesmo e sem meias palavras. Por isso, é com alegria que volto ao tema e lhes digo que Acorde Margarida é um espetáculo excelente, encantador, com nível para ser apresentado em qualquer lugar, para qualquer público.

É verdade que, em se tratando de um musical, os atores ainda precisam de maior preparação vocal. Mas uma das belezas do teatro é, justamente, pensar que em apenas três meses de ensaio eles conseguiram chegar ao nível exibido. E, convenhamos, cantar sem o auxílio de qualquer microfone ou outro tipo de auxílio, de cara para a plateia, não é para qualquer um.

Em Acorde Margarida, uma repartição pública cósmica chamada Departamento da Memória Popular recebe o pedido para retirar do esquecimento a Sra. Margarida Schivasappa, que ninguém parece saber quem foi. Para piorar, duas melhores se apresentam como a própria Margarida, deixando atônita a esquisita responsável pelo serviço, Dona Memê. Resgatando lembranças e mostrando habilidades (como entoar a lindíssima "Canção sentimental", de Heitor Villa-Lobos, de quem Margarida foi uma das mais bem sucedidas alunas), as duas precisam provar quem é a verdadeira mulher a ser resgatada.

O espetáculo é leve, divertido, e conta com canções originais muito boas. Todos estão de parabéns.

Ainda dá tempo de ver a última récita, logo mais às 20h, no Teatro Universitário Cláudio Barradas.

***

E as crianças não têm direito a um pouco de cultura? Têm, sim. Convidado pelo amigo Michel Ferro, descobri que às 11 horas da manhã dos domingos o belíssimo Centro Cultural SESC Boulevard (na Boulevard Castilhos França, de frente para a Estação das Docas) abre suas portas para um espetáculo no qual cinco músicos e um mestre de cerimônias nos levam de volta no tempo, entoando famosas canções infantis, dos tempos em que se fazia coisa boa para crianças.

O passeio nos leva ao Sitio do Pica-Pau Amarelo e aos especiais infantis que fizeram história na TV Globo, como A Arca de Noé, Casa de Brinquedos e Pluct, Plact Zum. Ao final, a proposta é um pouco desvirtuada, com a inclusão de temas gravados pela insuportável Xuxa e sem a assinatura de nenhum mestre da música brasileira, mas é possível perdoar o deslize, porque a essa altura muitos já levantaram da cadeira.

O mestre de cerimônias foi muito aplaudido quando lembrou que, naquele tempo, fazia-se música boa para crianças. Mas "depois que a mulher sentou na boquinha da garrafa", caímos em desgraça e aí vieram muitas porcarias, como o "Créu", até chegarmos ao "Ai, se eu te pego". Claro que eu concordo com ele.

É preciso ficar de olho na programação do SESC Boulevard, porque toda semana há uma atração para as crianças, com música ou teatro. Mas é importante verificar o horário. E um detalhe: a entrada é gratuita. E com a divulgação, o pequeno auditório lota em questão de segundos.

***

Quem foi que disse que em Belém não há opções culturais, mesmo?

4 comentários:

Rz disse...

Olá Yúdice!
Confirmo a sua postagem pelos ótimos espetáculos ocorridos no último fim de semana em Belém.
No sábado, fui assistir em família à lindíssima homenagem à Elis Regina no SESC Boulevard com os intérpretes Elton Brandão, Mário Moraes e Olivar Barreto e pelo trio de músicos especialmente (excelentes) o pianista Tynnoko Costa, o baterista Zeza Sagica e o contra baixista Kzan Gama. Beleza pura! momentos de interação com o público! Pelo sucesso, deve ocorrer uma reprise.
No domingo, levamos o poder "ultra-jovem" da família para assistir ao mesmo espetáculo que você reporta aqui: uma ma-ra-vi-lha!
Comentário de muitas pessoas, durante os dois espetáculos: falta uma melhor divulgação das coisas boas que ocorrem em Belém!
Outra sugestão: que esses espetáculos não se limitem a espaços centrais em nossa cidade. Que possam circular pelas estruturas - mesmo não sendo elas ideais - dos bairros de Belém e pelo interior do Estado.
É isso aí! Foi uma diversão só acompanhar os pequerruchos da família e recordar, eu também, canções que me deram muita alegria na infância e na juventude!
O espetáculo do seu irmão vai ter reprise? Minha maẽ conviveu com a personagem central da peça e agora ficamos curiosas!
Abs cordial, Rz

Yúdice Andrade disse...

Pelo conteúdo e descrição, Rz, imagino que esses dois espetáculos foram realmente muito bons. A falta de publicidade foi um aspecto que comentei e gera um problema clássico: a cultura continua restrita a nichos específicos. Ou seja, até quando existe a opção, ela ainda é para poucos.
Nos eventos que divulguei, o público era nitidamente de melhores condições econômicas e sociais. Notadamente o infantil, totalmente habitado pela classe média que anda de carro e pode proporcionar lazer constante para seus filhos.
Nenhuma crítica a estes, mas e os que não têm acesso a nada? Continuarão sem acesso até ao que é gratuito?

HUDSON ANDRADE disse...

Obrigado, mano.
Como disse no camarim, agora sei que fiz um bom trabalho!
Beijos amorosos.

Yúdice Andrade disse...

Fizeste, sim. A equipe fez. Espero que haja outros trabalhos sob a mesma concepção - quero dizer, algo mais clássico. Já conheces minha opinião sobre essas invencionices supostamente artísticas que são tão comuns por estas bandas e tanto me aborrecem.
Sucesso nos próximos trabalhos e nas próximas temporadas.