terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Paliativo antipático e de duvidosa eficiência

Em dezembro, trafegando pela BR-316 até Marituba, pude perceber equipamentos de controle de velocidade em fase de instalação. Ainda inoperantes, sua simples presença, aliada às placas indicando os limites de velocidade, provocava reações nos motoristas, que na dúvida procuravam se enquadrar ao limite, tornando o tráfego lento em diversos trechos. Na primeira semana deste ano, numa viagem um pouco maior, com alguma surpresa constatei que os equipamentos vão longe, estando instalados até em Santa Isabel do Pará. Veja aqui uma reportagem a respeito.

Na ocasião, agradeci a Deus pelo fato de só muito raramente trafegar pela estrada em questão, mas pensei em amigos e alunos que residem ou trabalham em Castanhal, p. ex., e amargarão um trajeto com mais engarrafamentos.

Sim, eu compreendo perfeitamente as razões de segurança. Motoristas brasileiros, e paraenses em particular, são naturalmente inclinados à sociopatia e fazem questão de expor a si mesmos e a todos em redor a grandes perigos. Vi coisas absurdas nesta minha viagem de janeiro, particularmente dois sujeitos, ambos dirigindo Fiat Mille, portanto veículos de baixíssima potência e desguarnecidos de proteção como air bags, ultrapassando filas de veículos, caminhões no meio, numa pista não duplicada, numa situação em que eu nem começaria a ultrapassagem mesmo que estivesse a bordo de um foguete.

Para piorar, a BR-316, nesse trecho a que me referi, está sendo rapidamente tomada por empreendimentos imobiliários. Quanto mais perto da capital, maior também a quantidade de estabelecimentos comerciais. A antiga paisagem verde de ambos os lados está com os dias contados. A conurbação entre diversos Municípios chegou para valer também por aqui.

Diante disso, tolice supor que a velocidade máxima das rodovias federais (110 Km/h) possa ser mantida. Mas eu, do alto de minha ignorância em matéria de engenharia de trânsito, questiono com sinceridade se radares e sensores são, realmente, a melhor alternativa, ao menos do trecho que abrange Ananindeua e Marituba, pela alta densidade tanto de tráfego quanto de pedestres. Os engarrafamentos que nos enlouquecem diariamente em Belém já são uma rotina também na estrada.

Vale lembrar que a preocupação aqui não é com os carros particulares: num engarrafamento, quem mais sofre são os passageiros de ônibus, espremidos ainda antes de começar um dia de trabalho e espremidos de novo após o expediente. Sofrem os trabalhadores em veículos de serviço, os rodoviários, os caminhoneiros, sofrem os pacientes em ambulâncias que precisam chegar a um hospital na capital. Sofrem os habitantes em geral, porque engarrafamentos aumentam o nível de poluição do ar. Todos saem perdendo, inclusive em matéria de segurança, porque não há real garantia de que os acidentes serão evitados.

Em 2010, tive a oportunidade de viajar de carro, de Florianópolis a Gramado, ida e volta. Boa parte do trajeto foi feito na BR-101, uma das mais importantes rodovias federais do país, responsável pelo escoamento de um sem número de mercadorias essenciais à economia brasileira. Intensamente utilizada, é cenário de um sem número de acidentes fatais. Há quase uma década, vem sendo duplicada a passos de cágado, graças ao fator Brasil.

Para fins de suposta lisura (gargalhando), decidiu-se que a rodovia seria loteada e as licitações seriam feitas de acordo com esses lotes. Assim, quando passei por lá, o que vi era meio caótico: a rodovia toda em obras, mas em diferentes níveis de execução, alguns bem incipientes, outros adiantados. A todo momento precisávamos sair para acessos laterais e fazíamos zigue-zague. Nos trechos não reparados, o asfalto comprometido obrigava-nos a pisar no freio.

Um exemplo de obras de arte (no sentido da engenharia)
destinado à segurança de todos, ainda em Santa Catarina.
Mas o projeto da rodovia prevê que, em todos os trechos urbanos, haja elevados: quem segue pela BR sobe, enquanto os habitantes das cidades interioranas trafegam por vias secundárias abaixo e há retornos para todos os lados. Há também espaços especialmente reservados para pedestres. Pode-se atravessar a pé de um lado a outro da rodovia com a mesma tranquilidade de quem anda pela calçada. Uma solução obviamente mais cara, muito mais cara, porém muito mais definitiva e sensata.

Sejamos francos: se o DNIT realmente quisesse melhorar as estatísticas funéreas da BR-316, deveria pensar em alternativas como esta em alguns trechos da região metropolitana, o primeiro deles logo após o Shopping Castanheira, fator atrativo de trânsito e que sobrecarrega a rodovia com veículos à procura de um retorno porque, ainda por cima, uma grande quantidade deles foi simplesmente fechada. Deve haver uma razão para isso, suponho, mas o fato é que, se um retorno é fechado, você obriga os condutores a permanecerem na estrada e... aumenta o tráfego! Não me parece inteligente.

Quem for mais instruído do que eu no assunto, por favor me ilumine. Mas eu realmente acredito que os benefícios dos radares são baixos. Existem, mas não são tão louváveis assim. Motoristas vão começar a frear bruscamente, ocultar placas, sair para o acostamento e, em cada ação dessas, um acidente pode acontecer. Radares não mudarão o fato de que os pedestres continuarão atravessando onde bem entenderem. Acidentes fatais podem acontecer mesmo que o automóvel esteja em velocidade baixa. Logo, precisamos de uma solução melhor.

3 comentários:

Gabriel disse...

Bem, aqui vai o meu ponto de vista: é uma insanidade só existir uma saída de Belém para as outras cidades, a Rodovia BR-316, e nessa rodovia existirem tantos estabelecimentos comerciais, com entrada e saída de veículos pesados, e cada vez mais empreendimentos imobiliários sendo construídos ao longo da rodovia.

Outro aspecto que eu não consigo me conformar são as faixas de pedestre ao longo da BR-316.

Pra ficar bom mesmo, somente uma via de trânsito rápido, sem quaisquer tipo de interseções no mesmo nível, ou mesmo travessia de pedestres em mesmo nível.

Yúdice Andrade disse...

Se entendi direito, Gabriel, concordaste com a minha proposta, mais ou menos. Não mencionei uma via de trânsito rápido, mas sim a retirada de interseções ao longo da rodovia.
Um aspecto que mencionas, contudo, merece destaque. Tens razão quando falas no problema trazido pela grande quantidade de comércios movimentando veículos pesados. Mas esses estabelecimentos tendem a desaparecer - como sempre, por motivos capitalistas.
À medida que a rodovia vai sendo povoada, cresce a demanda por lojas, para aquisição de bens e serviços. Os antigos estabelecimentos de beira de pista passam então a receber propostas das imobiliárias, que têm óbvio interesse em construir seus empreendimentos no local mais visível. As estâncias, lojas de material de construção, lojas de peças de caminhão e oficinas, etc., já começaram a fechar. A tendência é que se mudem para as transversais que vão surgir. De cara para a BR, só deve haver os lindos condomínios, as lojas, bancos e futuros restaurantes, mesmo que a paisagem de estrada não acabe totalmente.
Vamos ver se acerto esta previsão.

Edyr Augusto Proença disse...

Fui a Mosqueiro no fim de semana e passei por todo o aperreio que vc citou, Yúdice. Mais ainda, o asfalto até a entrada de Moscow está afetado por conta do tráfego intenso de ônibus e caminhões de carga em marcha lenta, afetando, com seu peso, o piso. Há momentos em que o carro de passeio entra em uma espécie de trilho, deixado pelos mais pesados. Mais um componente do nosso caos.