quinta-feira, 7 de março de 2013

É (arma de) fogo!

Existe um país no mundo em que a cultura armamentista está tão arraigada no imaginário coletivo que parece natural, a todos os cidadãos, possuir armas em casa e ser extremamente fácil adquiri-las, em lojas comuns, com um mínimo de formalidades. Existe uma convicção pueril de que possuir uma arma de fogo é garantia de segurança para si mesmo e a família. Esse país é, de longe, o campeão em massacres em instituições de ensino, gerando eventos traumáticos que jamais serão esquecidos, alguns de repercussão internacional.

Como você bem sabe, esse país se chama Estados Unidos da América.

E existe um país campeão mundial em mortes por arma de fogo. Você suporá, sopesando os fatos acima, que se trata dos Estados Unidos. Mas não é. O país a que me refiro possui uma legislação rigorosa (mas não tanto quanto pretendido originalmente), que não à toa ganhou o nome de "Estatuto do Desarmamento"; pretende, por conseguinte, desarmar a população, relegando às corporações policiais o seu uso para fins de segurança pública. Possuir ou portar armas de fogo, portanto, é uma prática ilícita, o que deveria implicar numa redução dos índices de violência. Mas não implica.

Como você já deduziu, este país é o Brasil, a permanente e imensa contradição.

Os dados são oficiais, relativos ao ano de 2010, recolhidos pelo Ministério da Saúde, e fazem parte do "Mapa da violência 2013". Sim, Ministério da Saúde e não da Justiça ou entidades jurídicas. A pesquisa surgiu para analisar os custos (em todos os sentidos) da violência para o sistema de saúde. São números que apavoram, principalmente se pensarmos na tal contradição que representam. São números que dizem muito sobre quem somos. E o que estamos vendo não é nada bom.

8 comentários:

Daniel Scortegagna disse...

e o país mais armado do mundo - ao menos oficialmente - a suíça, deve ter todos os níveis de criminalidade perto de zero, do abigeato ao mais escabroso crime...

vigiar e punir não é a solução

educar é!!!

abraços

Anônimo disse...

O que falta é assumirem, e produzirem dados, que esse grande número de mortes por armas de fogo ocorreu por vagabundos baleando pais de família e policiais, e não o contrário, como é de vanguarda falar atualmente.

Yúdice Andrade disse...

Caro Daniel, como de praxe, você tem razão. Mas se trata de uma percepção que nem todos possuem, como se percebe pelo comentário abaixo do seu.

Das 11h04, achei de mau gosto o seu comentário depreciativo sobre ser "de vanguarda" minimizar as ações dos "vagabundos", em detrimento dos "pais de família e policiais" - especialmente considerando o perfil que este blog mantém sobre temas ligados a criminalidade e segurança pública.
Conscientemente ou não, você reproduz os velhíssimos clichês que dividem a sociedade entre cidadãos de bem e vagabundos, maniqueísmo que, como toda generalização, é insensato e inverídico, além de ser um discurso típico da direitona que insiste em fechar os olhos às realidades do mundo.
Nem todo pai de família é bom e honesto, o mesmo se dizendo dos policiais. Nem todo marginal(izado) é vagabundo. Mas é quase impossível colocar isso na cabeça das pessoas.
Se você quiser colocar a conversa em termos, leia o relatório. Você verá que uma quantidade impressionante de mortes decorre de acidentes, porque as pessoas insistem em manter armas clandestinas em casa. Até crianças se matam por causa disso.
Você verá, também, que muitas mortes decorrem de brigas de rua, discussões de trânsito ou conflitos precipitados pelo consumo excessivo de álcool e aí, meu amigo, não existe classe social. Aliás, em muitos desses casos, as mortes envolvem brigas de playboyzinhos.
Procure se informar melhor. O maior problema da direita reacionária nem é ser de direita reacionária, mas a insistência convicta em não se informar sobre nada e defender "verdades" inventadas, o mais das vezes sem nenhum amparo na realidade.

Anônimo disse...

Sobre o comentário do Daniel, queria comentar que a Suíça é um país muito armado em tese. Digo em tese porque após o serviço militar obrigatório os suíços levam seus fuzis Sig Sauer pra casa, e o trancam sem munição em armários com cadeado, e de lá eles não saem. A ideia é que se a Suíça for invadida, cada cidadão se torne um soldado imediatamente.

Ou seja, a arma está nas casas, mas nunca é usada, diferente de Brasil ou EUA.

E só leva o fuzil quem fez o treinamento militar, onde aprende a manuseá-lo COM RESPONSABILIDADE e apenas em caso de GUERRA (ou seja, nunca).

Marajoara.

Yúdice Andrade disse...

Muito obrigado pela informação, Marajoara. Eu realmente não sabia dessa peculiaridade dos suíços, que vocês mencionaram. E achei muito interessante o contexto que você explicou. Totalmente diferente, de fato, do que acontece aqui no Brasil e nos Estados Unidos.

Daniel Scortegagna disse...

Como um entusiasta pacífico de história militar e armas em geral, sou obrigado a um esclarecimento: não é bem assim que funciona na Suiça, como a Sra Marajoara disse. Os fuzis automáticos militares são guardados em casa, não trancados com cadeados (pois assim não haveria uma ação rápida na sua necessidade) e somente quanto a munição dos fuzis militares é que se presta contas. Obviamente os fuzis militares, armas automáticas de repetição e que utilizam calibre de grande poder perfurante, são utilizados no período de treino militar, que vai, pasmem, até os 50 anos e durante vários períodos intercalados. Acontece que quanto aos calibres não militares, .22 por exemplo, não existe controle de arma e nem de amuniciamento, podendo ser comprado livremente para utilização - utilização esta que é incentivada para manter a "tropa" treinada, fazendo da Suiça um dos países com mais armas per capita do globo. Ocorre que a utilização é feita em estandes de tiro, estes sim bem estruturados e controlados. Nestes estandes também é permitido a utilização dos fuzis militares para quem não está prestando o serviço militar obrigatório, bastando que se faça o registro de sua utilização. Se não me falha a memória, são mais de 2000 (!) em todo o país (que não é muito maior que o estado do Rio Grande do Sul). Por óbvio que o tiro desportivo é um dos esportes mais praticados no país. Tudo o que disse me veio de memória, dos tempos em que era cadete da AMAN e conheci militares que fizeram treinos na Suiça, além de ter estudado sobre o assunto. Posso estar enganado e ter tudo mudado, mas não creio. Abraços!

Anônimo disse...

Oi Daniel, eu sou O Marajoara, não A Marajoara ehehehe.

Quanto a isso do fuzil automático Sig Sauger 5,56; sim, ele é guardado em casa, e claro que com cadeado. Que pai quer que os filhos se matem brincando? Isso não tira a agilidade em uma possível guerra, afinal de contas um ataque estrangeiro não é feito por inimigos invisíveis, nesse tempo de TV ao vivo e internet, todo mundo sabe que sua cidade está sendo invadida.

No mais, acho que mais concordamos do que discordamos. As armas em geral são controladas, assim como as munições e estandes de tiro, e as pessoas bem treinadas para o seu uso. Afinal de contas, o último fim é militar, o objetivo é criar cidadãos-soldados, não cowboys atiradores no trânsito.

Abraço, Marajoara.

Yúdice Andrade disse...

Daniel e Marajoara: também acho que vocês estão mais concordando do que divergindo. Seja como for, propiciaram uma visão interessante sobre parte da "cultura" suíça, que certamente quase ninguém conhece, como eu mesmo nunca ouvira falar. Acho que a última frase do texto do Marajoara é bastante elucidativa e traça uma linha divisória entre um país muito armado, porém não belicista, e países com menos armas per capita, porém muito mais violentos e desiguais.
Valeu.