quinta-feira, 14 de março de 2013

Paixão que encarcera

Esqueça a poesia: o tema desta postagem é muito triste.

O livro A paixão no banco dos réus, da procuradora de justiça Luzia Nagib Eluf, é bastante conhecido no meio jurídico. Trata sobre crimes passionais, em sua quase totalidade perpetrados por homens contra mulheres. Penso que já chegou o momento de alguém escrever outro livro de impacto sobre a paixão que produz crime e prisão, sob a perspectiva da mulher que se torna criminosa por paixão.

Nos últimos anos, aumentou significativamente o índice de crimes praticados por mulheres, destacando que o crime sempre foi uma atividade predominantemente masculina, com larga (des)vantagem para os homens. Mas enquanto estes delinquem muitas vezes por perversidade, mera conveniência ou irresponsabilidade, é curioso observar como, para muitas mulheres, o crime é uma forma de cuidar daqueles que ama. Isso pode explicar porque há tantas delas envolvidas com tráfico de drogas, prática a que aderem por dois motivos dignos de destaque: conseguir dinheiro para sustentar a família ou levar drogas para um companheiro preso.

Inspirou-me esta reflexão notícia jornalística na qual uma jovem de 24 anos foi presa há algumas horas por  levar drogas para o namorado preso, escondendo o produto dentro de um frasco de creme dental. Ela alega erro de tipo (desconhecia que havia droga), induzida que fora a fazer a entrega pela madrinha do rapaz. É possível. Mas acho até mais relevante a discussão caso ela tivesse decidido levar a droga, para agradar aquele que ama. Já são tantos os casos semelhantes, tanta gente presa, tanta divulgação na imprensa, e mesmo assim as mulheres continuam fazendo a mesma coisa, cedendo, arriscando-se. Tudo pela força da paixão.

Fiquei comovido com a imagem da moça chorando e com sua aflição com o bem estar da filha. Queria ser eu a pessoa com essa responsabilidade, porque mandaria soltá-la de imediato. Parece-me o tipo de pessoa que aprende com um grande susto como esse. É gente simples, boa, que desce aos subterrâneos do crime por pressões que só entende quem vive experiência semelhante. A coisa mais fácil é encontrar gente para criticar garotas como essa, dizendo-lhe todo tipo de desaforo. É fácil não ter empatia. É fácil fingir que somos padrão de moralidade para os outros.

Espero que essa jovem volte logo para casa. Mas tem pela frente autoridades ávidas por consumi-la no punitivismo enlouquecido que governa este país, baseados não apenas no direito, mas sobretudo em argumentos moralizantes e sócio-higienizadores. Triste, tudo terrivelmente triste.

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