quarta-feira, 13 de março de 2013

Um novo mundo com Down

Há não muito tempo, portadores de síndrome de Down eram tratados como "retardados" e suas vidas eram totalmente limitadas, havendo ou não necessidade disso. Uma dessas limitações implicava na vedação a relações sexuais. Não podiam vivenciar a sexualidade com uma pessoa sem a síndrome, porque isso era interpretado como estupro, mediante violência presumida (hoje estupro de vulnerável), nem com outro portador, porque isso implicaria em que as famílias teriam descurado de seus deveres de guarda e proteção, ficando passíveis de responsabilização cível e criminal.

Aí veio o debate em torno dos direitos sexuais dos portadores de déficit cognitivo porque, afinal de contas, se afastarmos os preconceitos medievais em torno do sexo, o que sobra é o reconhecimento de que viver a própria sexualidade constitui um dos aspectos da dignidade humana e, como tal, não pode ser simplesmente eliminado.

Embora o preconceito ainda seja a tônica, nesta reportagem aqui você encontra um outro olhar sobre os portadores de Down, abrindo-se-lhes um mundo no qual é possível, com a indispensável colaboração das famílias, ganhar autonomia, frequentar cursos superiores, profissionalizar-se e, claro, entregar-se ao amor, inclusive com todos os riscos que essa experiência traz a qualquer um de nós.

4 comentários:

Scylla Lage Neto disse...

Yúdice, a incidência de hipogonadismo entre os Down é muito elevada, o que acaba sendo uma barreira biológica para a atividade sexual regular, em função da depleção hormonal.
Creio ser este um fator importante de inibição da sexualidade, além das barreiras psicossociais.
Um abraço.

Yúdice Andrade disse...

Compreendo isso, Scylla. Mas a depleção hormonal não conduziria a um menor interesse da pessoa em manter relações sexuais? Se assim for, ela não teria vida sexual ativa por uma escolha própria (ou seria melhor dizer por uma contingência orgânica, pela qual ninguém pode ser responsabilizado).
O problema, a meu ver, é quando a pessoa deseja uma vida normal, inclusive sexual, e tem cerceado esse direito pela ação de terceiros, o mais das vezes por argumentos equivocados, que tanto envolvem ignorância quanto preconceito e, mesmo, um equivocado propósito de proteção. Mas proteger o indivíduo do quê, exatamente?
Poderia esclarecer-nos melhor sobre isso?

Scylla Lage Neto disse...

Yúdice, as taxas dos hormônios sexuais dos Down são geralmente bem baixas, assim como há quase sempre hipotiroidismo e nanismo.
A falta de interesse sexual dos portadores da síndrome é portanto, a princípio, orgânica, mas não acontece com todos.
É lógico que entre os que apresentam nível normal (ou próximo da normalidade) dos ditos hormônios o desejo surgirá tão forte quanto em qualquer adolescente do planeta.
Como a chance de transmissão genética da doença é elevadíssima, a procriação não é recomendada.
Em relação ao ato sexual em si, creio que o grande obstáculo seja mesmo a ignorância, aliada ao preconceito, como você bem mencionou.
Lembro, no entanto, que a maioria dos Down tem um retardo mental de leve a moderado, o que pode atrapalhar o franco discernimento sobre suas próprias escolhas.
Down inteligentes, como os atores do filme COLEGAS, são exceções, verdadeiros gênios em suas condições.
Um abraço.

Yúdice Andrade disse...

Ótimo esclarecimento, Scylla. Farei nova postagem da nossa conversa.