domingo, 16 de agosto de 2015

Seria a rosa uma questão de aceitação?

Há dois meses, publiquei uma postagem na qual contei sobre estar lendo O pequeno príncipe para minha filha e, particularmente, como ela reagiu à passagem em que a raposa ensina ao principezinho o significado de cativar. Por razões variadas, ainda não terminei a leitura. Faltam poucas páginas, mas é justamente nelas que encontramos o clímax, quando o menino decide aceitar a oferta da cobra para retornar a seu planetinha e a sua rosa. Estou particularmente interessado em saber como Júlia lidará com o desfecho.


Ontem, fomos ao cinema para assistir à mais nova adaptação da obra imortal de Antoine de Saint-Exupéry. Desta vez, a saga do pequeno príncipe é contada em seus momentos cruciais, para servir de fio condutor à história pessoal de uma garotinha de 9 anos, cuja mãe é obcecada por sucesso (no caso, assegurar que a filha entre para a conceituada Werth Academy). O objetivo final dessa mulher é que a menina se torne "uma adulta maravilhosa" e, para isso, ela elabora um plano de vida, no qual estabelece o que a filha fará, literalmente, hora por hora de cada dia.


Na casa ao lado, porém, mora um homem que claramente é considerado amalucado e uma ameaça à vizinhança. Trata-se do "aviador", ou seja, a pessoa que viveu a estória narrada no livro, que caiu no deserto do Saara e passou uma semana em companhia de uma criança de cabelos dourados oriunda do Asteroide B-612, que vivia um dilema sobre como se relacionar com uma rosa que ele julgava única e que deixara para trás.


O aviador se queixa de que ninguém acredita em sua história, por isso ele conta a uma criança. Claro, os adultos são muito esquisitos e somente uma criança poderia enxergar a verdade. E essa verdade penetra na alma da menina e muda tudo. Aliás, muda não: transforma. Porque transformará também sua mãe e, consequentemente, toda a vida que ela conhece. Aqui, por sinal, vemos uma das decisões cênicas mais inteligentes da produção, ao fundir o universo do pequeno príncipe com os fantasmas interiores da menina, em uma eletrizante sequência completamente nova, em que ela e o príncipe, agora um rapaz fagocitado pelo sistema, tentam reencontrar a si mesmos.


A produção franco-americana The little prince, de 2015, é dirigida por Mark Osborne, um americano prestes a completar 45 anos que traz no breve currículo bobagens como Kung Fu Panda e Bob Esponja. O roteiro é de Irena Brignull (que escreveu o agradável e premiado Shakespeare apaixonado, vencedor de 7 Oscars) e de Bob Persichetti, que participou de diversas produções voltadas para crianças (Gato de Botas, Monstros vs. alienígenas, Planeta do tesouro, A nova onda do imperador, Fantasia 2000, Tarzan, Hércules, Mulan, O corcunda de Notre Dame e filmes da franquia Shrek).

O elenco de dubladores também impõe respeito, a começar pelo veterano Jeff Bridges (o aviador, no Brasil muito bem defendido pelo excelente Marcos Caruso). Ao lado de uma modesta Rachel McAdams (de filmes da franquia Sherlock Holmes e do seriado True detective, como a mãe), os nomes impressionam: Marion Cotillard (a atriz que ressuscitou Edith Piaf, como a rosa), James Franco (uma das vozes da raposa), Benício Del Toro (a cobra), Paul Giamatti (o professor), Vincent Cassell (a outra voz da raposa) e Ricky Gervais (o vaidoso).


Mas o que importa mesmo é a narrativa e a linguagem e, nisso, a equipe acertou em cheio. O filme é belíssimo, dividindo dois tipos de animação; um, mais naturalista, para contar a "vida real" da garotinha (encantador o detalhe dos dentes desiguais, porque ainda crescendo); outra, mais parecida com gravuras de um livro, para contar a saga do principezinho. E o roteiro é magnífico, capaz de mostrar o que afirmei na postagem supracitada: O pequeno príncipe é uma obra imortal "porque toca de imediato o coração, mesmo de uma criança, e produz um significado que pode ser levado para a vida real e se tornar parte do que somos".


Escutando os rumores ao meu lado, fiquei com a sensação de que O pequeno príncipe era, de fato, uma memória querida das pessoas ali reunidas para ver o filme, que levaram suas crianças para introduzi-las nesse mundo de encantamento, mas que é também um símbolo da dura tarefa de amadurecer, essa missão à qual não podemos escapar. O aviador é um idoso solitário, consciente de que seu tempo está chegando ao fim. A garotinha é uma menina que parece ter assimilado a insanidade materna de ser uma miniadulta perfeita, mas que traz em si a dor do abandono paterno e que reage com fúria ao perceber que o seu novo amigo também está prestes a partir.

É hora de partir.

Estamos diante, portanto, de um filme que fala sobre crescimento, em especial sobre a necessidade de lidar com as perdas, que virão inevitavelmente. E por tratar daquilo que diz respeito à vida de qualquer um de nós, emociona profundamente, do princípio ao fim. A moral da história que identifico ali é que não podemos mudar as coisas, mas podemos sobreviver a elas e seguir em frente. Aquilo que se perde não deixa de existir, porque subsiste em nossos corações. Se prestarmos muita atenção, talvez até possamos escutar sua risada ou sentir o seu perfume.


Tudo isso pode parecer um monte de clichês, mas estranhamente eu sinto que também é a mais pura verdade. Recomendo enfaticamente que vejam o filme, de coração aberto.

PS - A raposinha do filme é a coisa mais linda. Se vocês souberem onde posso comprar uma, por favor me informem!

O trailer do filme: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-178545/trailer-19543616/

Postagem elaborada com informações do IMDb.

Um comentário:

Anônimo disse...

Boa idéia! levarei meu filho pra ver também! grande abraço. Ev