quinta-feira, 12 de julho de 2012

O rastejar das cobras

Já que estamos aqui na internet, um pouquinho, por que não comentar? E não é que cassaram o mandato do Demóstenes Torres?
Não que isso surpreenda, claro. Os indicadores sempre apontaram que esse deveria ser o desfecho do imbróglio, até porque a cassação do baluarte da probidade cumpre uma função bastante específica na dinâmica política deste país de corruptos: algum anel precisa ser entregue para que os dedos continuem no lugar. Neste caso, continuem afanando a coisa pública.
Nunca confiei na honradez estudada que Torres exibia no Senado. O que não falta no Congresso Nacional é gente posando de última fronteira da moralidade. Um dos parlamentares paraenses, por sinal, também gosta de fazer esse estilo, mas lhe faltam eloquência e dicção para chegar, ao menos, no nível de Torres. Além disso, um homem probo no DEM já soa surreal.
Concluída a cassação e iniciado o recesso parlamentar, espera-se que as investigações sobre o gigantesco esquema de patifarias de Carlos Cachoeira e da Delta caiam no esquecimento. Para isso serviu a cassação do político: para mostrar ao povo brasileiro que alguém foi punido e, portanto, a legalidade já foi restaurada. Logo, não é mais necessário mexer com ninguém. Cachoeira passará mais uns dias preso e por fim conseguirá sua soltura através do Supremo Tribunal Federal. Retornará às suas atividades empresariais, sem aparecer, para não haver alarde. Os contratos da Delta passarão a outras empresas, de modo que os pagamentos terminem nos mesmos bolsos. Simples assim. No final, Demóstenes Torres será não um bode expiatório, porque fez por merecer, mas a bucha do canhão, aquele que queimaram em prol de uma causa maior.
E Torres foi cassado por quem? Por uma casa habitada por José Sarney, Renan Calheiros, Jader Barbalho, Fernando Collor, etc. Uma casa que, quando sai um, entra um suplente igualmente encalacrado, investigado, suspeito. Ê país!
Mas isso não deve causar surpresa alguma. Com tanto a se dizer sobre esse imenso esquema de roubalheira, pelo que se interessa a imprensa? Pela "musa do escândalo", a mulher de Cachoeira, um primor de inteligência. No dia "histórico" da cassação de Torres, o Jornal da Globo abriu dando o maior destaque para... a vitória do Palmeiras num dos zilhões de campeonatos do esporte das massas. Portanto, tudo continua rigorosamente no seu lugar: os cães já ladraram, a caravana dos ladrões continua passando e os bois no pasto continuam enxergando apenas a festa da torcida campeã.
Que raio de dis histórico foi esse?

PS - Enquanto isso, os espanhois dizem nas ruas o que pensam das medidas econômicas do governo. E olha que lá tem o tal de Barcelona, o tal de Messi e outras porcarias do gênero.

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