segunda-feira, 2 de julho de 2012

Sombras da noite

Acostumei-me a aguardar com expectativa os filmes de Tim Burton. Suas produções algo ilógicas, non sense por vezes, repletas de perversidade e humor negro, realismo fantástico e um estilo visual muito próprio sempre me cativaram. Minha simpatia foi bastante arranhada em nosso último contato, aquele detestável Alice no País das Maravilhas que só não me apurrinhou mais porque consegui tirar uma boa soneca dentro da sala de projeção. Assim, aguardei com reticência a estreia de Sombras da noite (Dark shadows, dir. Tim Burton, EUA, 2012), inclusive por repetir as parcerias com Johnny Depp e Helena Bonham Carter, que sempre trazem algum risco de a fórmula cansar.
A par disso, as matérias que já lera a respeito apontavam para um filme pouco eficiente, com um final de pouco valor. Aí encontro uma crítica como esta, que arrebenta com tudo, e volto a agradecer por eu não ser crítico de cinema, mas apenas alguém que vê e gosta ou não gosta e diz que gostou ou não gostou, ao contrário dos críticos, que gostam ou não gostam e querem convencer a todos, com argumentos supostamente técnicos, que estão corretos. Claramente, o autor do texto não gostou do filme e deve ter lá as suas razões aprendidas em manuais. E só.
Com efeito, Sombras da noite é apenas entretenimento, mas não vejo nada de mal nisso. Ou será que só podemos ir ao cinema para ver filmes com finalidades ou significados profundos? E olha que quem vos escreve é uma pessoa que odeia comédias e se recusa a desligar o cérebro para fins de suposto lazer. E que olha com desconfiança quem faz isso.
Assim, podemos identificar uma grande quantidade de clichês, num roteiro sem originalidade alguma, mas suficientemente bem executado. Se só pudéssemos gostar de novidades, ninguém teria discos preferidos, certo?
Eu supunha que a trama era uma coisa meio A família Addams, portanto com ares infantis e monstros absurdos pulando na tela. Para minha surpresa, há bastante dramaticidade na estória, como se percebe na personagem Elizabeth (Michelle Pfeiffer, linda até hoje! linda!), empenhada em proteger sua filha e sobrinho, além do nome da família Collins, e no pequeno órfão David (Gulliver McGrath), a quem restava o consolo de conversar com o fantasma de sua mãe.
Mas Burton fica o tempo todo fazendo piadinhas, que me divertiram e não chegaram a cansar. Ao contrário do crítico, que considera medíocre brincar com a inadaptação do personagem a um mundo totalmente novo, isso me parece engraçado porque é algo que pode acontecer a qualquer um de nós, se formos a uma cidade diferente, p. ex.
Eu também poderia subir nas tamancas e fazer meus protestos, porque afinal de contas os vampiros são os personagens de ficção que mais respeito. Nos últimos anos, eles têm sofrido a humilhação de ser ridicularizados naquela patética "saga" (faz-me rir) literário-cinematográfica que todo mundo conhece, quando na verdade deveriam ser retratados como criaturas frias, crueis e, acima de tudo, mortas. Por conseguinte, nada de sensações físicas e, muito menos, capacidade de procriar (suprema imbecilidade!).
Em Sombras da noite, Barrabas é apresentado como um vampiro um pouco diferente. Apesar das características clássicas presentes (e dos trejeitos que remetem a Nosferatu, naturalmente feitos de caso pensado por Depp), o protagonista se tornou vampiro por causa de bruxaria, o que deixa no ar a possibilidade de voltar a ser humano, como ele chega a tentar a certa altura, por meio de transfusões de sangue. Daí surgem as contradições, já que consta que ele estaria mesmo morto ("o seu coração que não bate") e não poderia ter filhos, como sugere a bruxa Angelique em certa passagem, mas certamente apenas para apontar o sub-texto de cunho sexual. Barrabas é um vampiro que, aparentemente, sente prazer sexual e nisso se comporta quase como um homem comum, o que está errado, digamos assim, mas há que se aceitar a proposta do filme e não levar a ficção tão a sério. Para melhor esclarecimento, veja como são representados os vampiros em Entrevista com o vampiro (Interview with the vampire, dir. Neil Jordan, EUA, 1994). Ali as criaturas são mostradas como são: mortas, utilizando a sensualidade apenas como instrumento para atrair vítimas.
No final das contas, o filme retrata uma curiosa luta entre dois monstros, sendo que um é verdadeiramente mal (mas tem uma atitude em sentido oposto em sua última aparição) e outro que foi tornado um monstro, mas que busca conservar os valores morais que lhe são mais caros, o que também estaria em desacordo com a natureza dos vampiros. Mas é a proposta deste bom entretenimento, que possui uma trilha sonora anos 1970 muito bacana.
Confira, se não for chato demais para tanto.

2 comentários:

Anônimo disse...

Quem é a atriz na terceira foto?

Yúdice Andrade disse...

Eva Green. Gostaste do layout, presumo?