terça-feira, 29 de setembro de 2015

Como explicar para uma criança?

Aqui em casa, acostumamos Júlia a rezar antes de dormir. Um "Pai nosso" seguido de uma oração espontânea. Tem sido assim desde que ela era bebezinha. Ontem, contudo, após a oração que Jesus nos ensinou, nossa pequena pediu a tia Jose, que dela cuida e com quem estava só em casa, para fazer a oração espontânea. Júlia se recusou a fazer ela mesma e, então, deu as costas, cobriu o rosto e começou a chorar. Perguntada, disse que somente esclareceria o motivo do choro para nós, seus pais.

Esta manhã, Polyana perguntou o que havia acontecido. Júlia explicou que todas as noites ela reza pedindo a saúde da avó, mas Deus não atende. Agora ela não quer mais rezar.

Diante disso, o que fazer?

Um dos efeitos pessoais dessa nossa longa trajetória da doença de minha mãe foi o meu afastamento da fé. Eu não era dado a orações, por desídia, admito. Mas, como bom cristão, sempre encontrava o caminho da oração na hora da angústia. E fazia muitas orações sinceras. Quando ela adoeceu, orei o que pude pelo seu restabelecimento. Mas, como sabemos, nada funcionou. E chegamos ao quadro que temos hoje. Por isso pedi a Polyana que conversasse com Júlia porque eu realmente entendo como ela se sente e, neste momento, nada do que eu diga vai ajudar. Afinal, continuo reconhecendo a fé como um fenômeno importante: ajuda-nos a enfrentar os problemas, ajuda doentes a recuperar a saúde ou a viver com qualidade. Enfim, há muitos benefícios. E eu não quero que Júlia renuncie a essa possibilidade de encontrar um pouco de paz, se preciso. Eu, que perdi minha fé, sei bem como custa caro não dispor dela.

Hoje, eu não rezo mais. Não faz muito tempo, entreguei-me a uma oração - longa, intensa, detalhada. Parei apenas quando o cansaço e o sono, já em plena madrugada, me venceram. Não era a minha intenção, mas aquela foi minha última prece até aqui. Hoje, não me sinto motivado a fazer de novo. Continuo acreditando nas mesmas coisas de sempre, mas é uma racionalização. A fonte do sentimento religioso secou. Estou certo de que ela pode renascer. Algo em mim até diz que isso acontecerá, mas eu nada busco. Deixo que as coisas sejam como são. Por ora, tenho uma criança para acalentar e nem sei o que dizer a ela.

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