Minha mãe está internada pela sétima vez este ano. Somando-se esses eventos aos dois do ano passado, pode-se dizer que já tenho algum know how como acompanhante hospitalar. A experiência acumulada não me ajudou, todavia, a enfrentar a noite de 29 para 30 de setembro de 2015.
Com um quadro de metástase avançada, que compromete seus pulmões, minha mãe está basicamente debilitada ao extremo, em todos os sentidos possíveis. Foi internada para que os médicos tentassem melhorar... tudo, digamos assim. Ou o que for possível. Para deixá-la confortável, sobretudo respirando melhor, para que consiga dormir.
O fato é que, seja por causa de doença, seja por conta da medicação, ela está sonolenta, inerte, não reage a estímulos. Até nos reconhece, sabe dizer onde está, mas a maior parte do tempo parece transportada para outra dimensão, isso quando não adormece profundamente. À noite, foi mergulhando em um sono tão inalcançável que comecei a ter medo real do que aconteceria. Já vi um quadro parecido, 11 anos atrás. Alguém que foi parando, parando, até que resgatá-la não era mais possível. Alguém que eu amava. Amo.
Chamei a enfermeira. Ela veio conferir os sinais vitais. Depois veio o médico plantonista. Decidiu manter as prescrições já feitas até reavaliação, pela manhã, a ser feita pela médica paliativista que está acompanhando o caso. Nada me restava a não ser sentar ao lado da cama e esperar, desejar que a noite não nos trouxesse pesadelos. Observando minha mãe ali, acompanhava sua respiração, único indicativo de que permanecia conosco. Segurava sua mão, conversava com ela, prometia cuidar bem de sua netinha. A certa altura, achei que correspondia ao aperto de mão, mas era apenas um espasmo, possível consequência da fraqueza extrema.
Sentar-se ao lado de quem mais se ama, diante de uma ampulheta inexorável, sem mais ninguém para nos confortar, é uma experiência que não recomendo. Honestamente, desejo que você não passe por isso.
As horas passaram e o dia raiou. Minha mãe continua por aqui, agora sob os melhores cuidados de meu irmão. Comeu alguma coisa, fez exames, aguarda avaliação. Eu aguardo notícias. Estes são tempos surreais.
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