sábado, 12 de setembro de 2015

I want to believe... it will be worth

Arquivo-X (The X-Files) é uma das séries de TV mais icônicas de todos os tempos. Começou morna, mas foi engrenando ao longo da primeira temporada e, daí por diante, rapidamente, tornou-se um produto cult, arrebatando uma legião de fãs fieis, os exxers. Várias séries posteriores podem ser consideradas, de algum modo, tributárias da criação de Chris Carter. Agentes do FBI investigando fatos cabulosos? Pode contar que as aventuras de Mulder e Scully estão por trás disso, inspirando.

Parceiros forçados em seu desprezível cafofo. Os penteados denunciam a idade.
O seriado teve nove temporadas, exibidas entre setembro de 1993 e maio de 2002 pelo canal Fox. No total, foram 202 episódios. Até onde sei, foi graças a ele que surgiu a expressão "monstro da semana", para diferenciar os episódios tratando sobre um tema particular daqueles que versavam sobre a questão central da narrativa. No caso de Arquivo X, a narrativa central tinha a ver com a abdução de Samantha, irmã do agente Fox Mulder, quando ainda eram crianças. Mulder desenvolve uma obsessão que o leva ao FBI e, especificamente, a lidar com casos que, por envolverem eventos paranormais ou sobrenaturais, não eram levados a sério por ninguém. Em uma salinha no porão, enfeitada com o celebérrimo quadro com a legenda "I want to believe" e a imagem de um disco voador, Mulder tenta provar a existência de conspirações do governo estadunidense acerca de alienígenas, monstros e outras criaturas insólitas, além da realidade de experiências extrassensoriais. Para conter os seus arroubos, os superiores lhe impõem uma parceira: Dana Scully, médica, uma autêntica cientista cética, que deve delatar as supostas sandices do agente.

Agentes em ação: perigos reais sem nenhuma crtedibilidade.
À medida que os casos vão se sucedendo, porém, torna-se claro que há mais coisas lá fora do que sonha nossa vã filosofia. Em uma estratégia irônica dos roteiristas, os agentes sempre caem em situações de extremo perigo, mas é sempre a cética Scully quem se dá mal. E somente ela vê as criaturas malignas ocultas no mundo, em circunstâncias que nunca lhe permitem produzir provas. Mais à frente, um drama pessoal de enormes proporções ocupará sua vida.

A soturna abertura mandava a mensagem que também se tornou icônica.
Diante disso, Scully vai-se tornando cada vez mais crédula e o seriado ganha tons de uma linguagem espiritual. Paralelamente a isso, Mulder, sempre perdendo as batalhas contra os inimigos, inclusive o governo de seu país e o próprio FBI, e sem conseguir pistas que o levem a recuperar a irmã, começa a questionar se vale a pena tanto sacrifício, dando mostras de desistência quanto a sua missão pessoal.


Na vida real, o ator David Duchovny começa a dar chilique. Reclama que não quer ser conhecido como ator de um personagem só e pede para sair do elenco. Os produtores, contudo, sabem que o seriado não existe sem Mulder. Insistem e conseguem segurá-lo por um tempo, até que não dá mais. Nas duas últimas temporadas, entram em cena os agentes John Doggett e Monica Reyes. Os fãs protestam. Para muitos, o seriado simplesmente não funciona mais.


E eis que, para a conclusão da trama, Mulder retorna como um agente aprisionado pelo governo, por saber demais. As conspirações são passadas a limpo, mas claramente nada vai mudar. Arquivo X é uma das estórias mais sombrias e desesperançadas que existem: não adianta lutar; no fim, você vai perder. Eles são fortes demais.

A cena final te deixa triste.
Arquivo X foi pioneiro, também, na estratégia de mesclar narrativas: a estória foi parcialmente contada fora da TV, por meio de dois filmes. Em 1998, The X-Files: fight the future serviu de arco entre a 5ª e a 6ª temporada. Cinco anos após o final do programa, The X-Files: I want to believe trouxe informações adicionais. No geral, ambos os filmes desagradaram os fãs. Àquela altura, a atriz Gillian Anderson dava entrevistas falando mal da série. Literalmente, cuspiu no prato em que comeu e deixou os fãs furiosos.

O famoso seriado, assim, também ficou conhecido pela má relação com ele demonstrada pelos dois atores principais.

Manual de Detecção de Nerds: você tem ou já teve vontade de possuir um quadro desses?
E eis que o inesperado aconteceu: Arquivo X vai voltar, como uma continuação normal. A 10ª temporada estreará nos Estados Unidos no dia 24 de janeiro do próximo ano, mas o primeiro episódio já está pronto e será exibido em novembro, em uma Comic Con. Os principais nomes do elenco original já foram confirmados, garantindo a presença dos agentes Mulder e Scully, do diretor-assistente do FBI, Walter Skinner, e do vilão Canceroso. Será que Duchovny e Anderson resistiram a retornar ao seriado de que tanto reclamaram? De jeito nenhum!

O Canceroso: "Mulder, eu sou seu pai!"
A verdade é que essa turma nunca mais conseguiu fazer sucesso. Duchovny se envolveu em projetos sofríveis e só conseguiu alguma projeção com o seriado Californication, uma comédia sem importância que conseguiu chegar a sete temporadas. Anderson participou de filmes e dos seriados Hannibal e The fall. Nem de longe a visibilidade de antes. Então parece que retornar a um dos programas mais bem sucedidos já feitos era uma decisão inteligente, sobretudo em uma época em que a criatividade já acabou e a indústria do entretenimento gira em torno de continuações e releituras de projetos antigos. Duchovny, por sinal, já declarou que, se houver uma 11ª temporada, ele está disponível! Nada como um dia após o outro, com 13 anos pelo meio.

Naturalmente, este é um momento de expectativa para os fãs. Se o novo projeto for bem concebido e realizado, o sucesso será garantido: os exxers assegurarão o triunfo. Mas nerds são exigentes e arrogantes: basta um fio de cabelo fora do lugar e o mundo vem abaixo. Ou seja, aqui não há meio termo. Chris Carter e sua equipe têm que acertar muito bem acertado, porque do contrário o fracasso será miserável. Trata-se de uma enorme aposta, que estou louco para acompanhar.

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