quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O que dá para fazer

Três anos e quatro meses depois, Lindemberg Alves Fernandes se pronunciou pela primeira vez sobre seus atos de outubro de 2008, que culminaram com a morte da jovem Eloá Pimentel. E a velha técnica foi empregada. Ciente de que não tem como escapar, confessa. Ganha assim uma atenuante. Além disso, é preciso ceder, assumir parcela da culpa, para tentar convencer as pessoas de sua honestidade e, em consequência, das outras teses defensórias. Dá os aneis para conservar os dedos, o que no caso implica em admitir a morte de Eloá, tão somente, negando os demais delitos.

Inteligente e certamente bem instruído pela advogada, Lindemberg tem uma desculpa para tudo. Não manteve ninguém em cárcere privado: os adolescentes é que não quiseram deixar o apartamento, preocupados com a segurança de Eloá. Também não agrediu nenhum deles. Ao rechaçar a acusação de cárcere privado, o réu pretende retirar de sua conta de 10 a 25 anos de reclusão. O problema é que ele não combinou com os sobreviventes depoimentos que ratificassem a alegação, nem as imagens daquela semana fatídica ajudarão, no que tange à menina morta. Ela parecia nervosa o bastante enquanto ele permanecia a seu lado, de arma em punho, segurando-a.

Disse não ter atirado ou não se lembrar de atirar no rosto de Nayara. Infelizmente para ele, a jovem se lembra.

Disse que a acusação de haver atirado contra um policial militar é "ficção". O castrense também contou uma versão diferente, precisando em 30 centímetros a distância entre a bala e sua cabeça.

Disse não ter atirado para a rua e sim uma vez, dentro do apartamento, em um computador. Quer se livrar das quatro acusações de disparo de arma de fogo. Todavia, equipes de reportagem filmaram os disparos.

Mesmo em relação ao crime principal, digamos assim, confessa tentando minimizar seus atos. Disse que foi uma reação impensada, provocada pela má condução dos policiais, que quebraram a confiança já estabelecida. Admite que fez, mas estava confuso. Justifica ter ido ao local armado com uma desculpa batidíssima: comprou a arma para se defender de ameaças que ninguém pode confirmar. O modo de aquisição também não pode ser confirmado.

Como ato final, mostra-se arrependido, pede perdão, dribla a repercussão do caso dizendo que não está ali para dar espetáculo e, de quebra, tem bom comportamento na prisão. Certo da condenação, aposta todas as fichas numa fenomenal redução da pena, pela rejeição de várias das imputações. Espera ver-se condenado apenas por um homicídio, não tão qualificado assim. Tem planos de voltar à liberdade em uma década, mais ou menos. Ainda estaria jovem.

Mas, como eu disse, faltou combinar com os russos. Mais tarde teremos o desfecho do julgamento.

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