quinta-feira, 29 de março de 2012

Manual para calouros de Direito da UFPR

Quando vi a manchete, mencionando um manual distribuído a calouros da Universidade Federal do Paraná, ditando obrigações sexuais para as calouras e provocando indignação entre os acadêmicos, imaginei algo verdadeiramente agressivo, uma verdadeira incitação a estupros e outros crimes. Contudo, ao me deparar com algumas recomendações do tal manual...



...percebo que ele não passa de uma enorme brincadeira de mau gosto, uma colossal babaquice, do tipo que poderia ser cometido por comediantes estendápticos ou apresentadores de programas popularescos de TV. Aliás, até menos do que isso. As piadinhas estúpidas estão na mesma linha dos e-mails de bobagens que sempre abarrotaram as nossas caixas de entrada e que hoje ganham novo fôlego com incontáveis republicações no Facebook.

Quando entrei na faculdade, as piadinhas sobre obrigações de dar já eram velhas. E, como todos sabem, piadas de cunho sexual costumam ser particularmente inclementes com as mulheres.

Admito que meu julgamento se restringe aos despautérios constantes de uma única página do tal manual (imagem acima), de modo que ele pode assumir ares mais graves no restante do conteúdo. Mas presumo que a matéria indicaria isso. Assim, devemos nos perguntar se a grosseria e a incivilidade devem mesmo ser levadas tão a sério assim.

Admito, também, que uma coisa é criticar um Danilo Gentili ou um Rafinha Bastos (personagens já lamentadas aqui no blog), que ganham dinheiro sobre seu peculiar senso de humor. Coisa diversa é a atuação de um bando de moleques tentando causar polêmica em meio acadêmico, onde reina a irreverência. Se houvesse incitação a violência, eu seria bem intolerante com eles. Como não parece haver, é o caso de adverti-los, como se adverte as crianças, e tocar a vida adiante. Dar todo esse cartaz pode ser pior.
Até eu já sou capaz de dizer que o mundo está ficando cada dia mais chato.

Acréscimo em 30.3.2012:
Leia aqui uma análise mais rigorosa do que a minha. Ainda que respeitando a divergência, considerei exagerados os exemplos que o autor citou para justificar sua posição. Piadas sobre más condutas sexuais não se equiparam a apologia de homicídio por preconceito. Mas leiam lá.

3 comentários:

Sandro disse...

Concordo com você, Yúdice. Essas piadinhas somente podem ser consideradas ofensivas em um contexto distinto daquele em que foram compostas. São brincadeiras que mereceriam resposta feminina no mesmo grau de humor e chiste. Nada mais. Quanto a chatice do mundo, também estou de acordo, e é pior ainda quando a conversa já começa com melindres infinitos, dano moral e processos de indenização, especialmente. Acho que somente estaremos satisfeitos quando isso tudo resultar no total isolamento uns dos outros e nossas relações sociais estiverem restritas ao uso "higiênico" do cartão magnético. abs, sandro

Luiza Montenegro Duarte disse...

Também achei o conteúdo besta. Só achei emblemático por ter sido elaborado por um grupo que ocupava o centro acadêmico da instituição.
Como estudante da UFPA, desenvolvi uma intensa antipatia aos centros acadêmicos, que defendem idéias bobas, ultrapassadas e, sinceramente, inúteis para a universidade.
Eu sei que eles acreditam estar fazendo algo grandioso, mas, muito mais importante do que o posicionamento deles sobre a Venezuela, seria o posicionamento sobre professores que faltam às aulas. Ou sobre a qualidade da ementa, as disciplinas defasadas, a falta de concurso para professor efetivo, etc.
Ao invés disso, eles ocupavam a reitoria para protestar sobre a proibição dos forrós, por falta de segurança.
Os coleguinhas aí, ao invés de atentarem para essas coisas, estavam fazendo piadinhas sem graça na sala do diretório.

Marcella disse...

Quanto ao comentário da Luiza, só queria esclarecer que o PDU não está na gestão do Centro Acadêmico. Estivemos sim na gestão dos últimos dois anos, quando, cumprindo nossa premissa de primar pela qualidade do ensino jurídico de nossa instituição, realizamos uma Semana do Calouro com os principais nomes do Direito, uma Semana Acadêmica que foi refência nacional, além de amplamente elogiada pela OAB e TRT, bem como lutamos pela implantação da Defensoria Pública no Paraná. Esses são só alguns exemplos da gestão. Enquanto partido acadêmico, o PDU realizou uma série de eventos sobre os mais diversos temas, participou ativamente da elaboração do novo currículo da faculdade, organizou visitas dos calouros ao TJ, ao Tribunal do Juri, festas para integração dos alunos, trote solidário de doação de sangue, etc...
A atuação do PDU pode ser restringida à elaboração do Manual, que hoje é objeto de notícias sensacionalistas. Acreditamos que momentos de descontração devem existir e, por isso, o Manual não tem o intuito de ditar regras de comportamento, muito menos pode ser levado a sério, uma vez que já se inicia dizendo que é uma brincadeira, 5 min de descontração para os recém-ingressos em nossa faculdade. Como somos estudantes de direito e não humoristas (os quais, vale dizer, não estão livres das piadas sem graça), é mais do que normal existirem pessoas que tenham gostado ou não da brincadeira. Daí a insinuar que estamos incitando a prática de estupro e de violência contra a mulher é uma distorção sem tamanho. Lamentamos profundamente a distorção e a descontextualização de nosso material e esperamos que as pessoas compreendam que não houve qualquer maldade ou incitação a crimes... Apenas uma brincadeira, ainda que sem graça.