quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Miopias nossas

Qualquer pessoa com sangue nas veias estremece ao ler uma notícia sobre um bebê de apenas duas semanas morto pelo próprio pai, porque chorou e com isso interrompeu a maratona de videogame do imbecil. Mas tragédias como esta acontecem a todo momento, a ponto de que relacioná-las seria um trabalho cansativo e sobretudo depressivo.
Esta postagem surgiu não da notícia acima, mas do fato de que li alguns dos comentários deixados pelos internautas e um me chamou imediatamente a atenção. Assinado por alguém que se assina "Angela Soraya" (não sabemos se é mesmo uma mulher, porque a Internet é espaço franqueado a falsidades em geral, além de que o sujeito escolheu um nome de travecão), tem o seguinte teor (em péssimo português, como sempre):

Eu não culpo ele nao e sim essa garota como tantas inbecis que se metem com caras retardados e insanos como esse. Essas garotas se metem com monstros e depois ficam lamentando uma barbaridade dessas é triste viu?

É impressionante como, neste nosso mundinho, o preconceito e até mesmo o ódio contra as mulheres nunca descansa. Esta é uma pauta para Lola Aronovich, autora do blog feminista Escreva Lola Escreva, e para a nossa querida leitora Luiza Montenegro Duarte.
O fato é que me impressionou alguém isentar de responsabilidade o homicida, o verdadeiro responsável pela brutal morte, e demonizar aquela que também é responsável, mas por omissão, e que se poderia ter socorrido a criança, talvez não pudesse evitar a agressão em si. E a demonização sempre decorre de escolhas emocionais ou sexuais que elas fazem.
Quando li a matéria, também reagi com preconceito, mas somente alguém muito próximo a mim saberia o motivo. É que eu odeeeeeeeeeeeeeeeeeio videogame! Meu primeiro impulso foi pensar que o sujeito merece uma condenação exemplar por ter agido de modo tão aberrante, cometendo uma violência inominável por um motivo ridículo desses. Naturalmente, incorri também em uma miopia, porque a violência deve ser repudiada por si mesma. Matar um bebê por espancamento não é coisa que se possa minimizar por conta do motivo A ou B. Então fiquei mal impressionado com a minha própria atitude.
E assim nasceu esta postagem, que não responde nada: apenas lembra que todos reagimos aos acontecimentos do mundo, em primeiro lugar, com emoções que se originam lá em nosso íntimo, às vezes sem que nós mesmos sejamos capazes de entendê-las. O mundo real vem depois. Se houver tempo para ele.

2 comentários:

Luiza Montenegro Duarte disse...

Querido, eu ando com uma mania terrível: só ler meus blogs favoritos no celular (eventualmente, no tablet). Como faço isso no aplicativo do Google Reader, fico sem opção de comentar na hora. Tento retornar posteriormente aos posts que me agradam, mas nem sempre me lembro. Foi o que aconteceu com este aqui. Peço desculpas pelo silêncio!

Vamos ao assunto: tenho me identificado cada dia mais como feminista. Antes, ainda vacilava um pouco, por conta do estigma de "exagaradas", "loucas", "mal amadas", etc, mas deixei tudo pra trás. Ultimamente, nenhuma agressão desse tipo tem me passado despercebida! É revoltante o quanto somos diminuídas e culpadas por tudo, o tempo todo, sem que ninguém perceba!

Abraços de uma leitora assídua, mas pouco participativa. Vou incluir uma mudança de postura nas minhas metas de 2013! hehe

Yúdice Andrade disse...

Acho que já te disse, mas não custa repetir: tu sapateias de salto alto no meu coração. Então não há problemas em demoras ou em opiniões.
Espero que, em 2013, eu possa ser mais ativo e instigante, de modo que tu realmente sintas vontade de comentar! E de atualizar o teu próprio blog, que sempre nos ofereceu excelentes abordagens.