A manchete trombeteia: "Implante que leva ao orgasmo deve ser testado em mulheres ainda este ano". Logo abaixo, esta imagem, aqui reproduzida, reforça a curiosidade imediatamente nascida. Mas somente lendo a matéria você percebe que a coisa não é exatamente como supôs, na pressa. Não se trata de um aparelho por meio do qual toda e qualquer mulher possa provocar orgasmos, e sim de um verdadeiro tratamento de saúde, indicado exclusivamente para pacientes com diagnóstico de anorgasmia.
Leia a matéria para entender a parte técnica da questão. Esta postagem tem outro mote. Eu me pergunto se, uma vez homologada a maquininha, como tantas outras coisas que não deveriam cair em qualquer mãos mas caem, este invento não acabaria popularizado. Assim como não é difícil encontrar médicos que receitem anabolizantes ou que façam cirurgias plásticas desnecessárias e até inconvenientes, também não seria muito difícil encontrar um para implantar a maquininha do prazer em pacientes ansiosas e dispostas a pagar.
Se isso ocorrer, imagino que o equipamento entraria na lista dos sintomas destes tempos doentes. É como os remédios de que as pessoas se entopem hoje em dia, principalmente para transtornos (ou supostos transtornos) mentais ou comportamentais: o sujeito transfere para as pílulas a solução de problemas que deveriam ser enfrentados com autoestima, autoconhecimento, responsabilidade, etc. Afinal, tomar um comprimido e ficar leve é muito mais fácil, rápido e eficiente, além de que traz muita grana para a indústria farmacêutica, que é quem fomenta essa triste realidade, com a conivência da Medicina.
De modo semelhante, segundo consta, um aparelho desses garante o prazer, dispensando o indivíduo de construir relações baseadas no respeito, mesmo que o objetivo seja apenas sexo casual. E interagir com pessoas sem precisar reconhecê-las como pessoas é bem mais fácil. Aldous Huxley já nos falava sobre isso em seu livro Admirável mundo novo (que é de 1932!). O escritor inglês se preocupou em mostrar como seria o sexo nesse outro mundo e ele não era nada íntimo.
A bem da verdade, um aparelho desses dispensa até mesmo um parceiro, o que torna a coisa ainda mais interessante. Prazer garantido sem ter que aturar as manias e bizarrices alheias. Não é um sonho? Para mim, um pesadelo. A trama proposta por Huxley me incomodou profundamente na adolescência. Odiei o cenário e por isso não terminei de ver o filme e nunca me animei a ler o livro. Agora pretendo fazê-lo.
Espero que os testes sejam bem sucedidos e as mulheres que precisam desse apoio tecnológico possam ter maior qualidade de vida e felicidade. Quanto ao mais, o tempo dirá.
2 comentários:
Desista mesmo do filme AMN, não vale a pena. O livro recomendo bastante, é um dos meus favoritos.
Existe inclusive um livro chamado AMN Revisited, onde o autor explica, anos depois, como e porque ele acha que o mundo realmente se converterá naquilo que descreveu na ficção.
Não sou do tipo que substitui uma boa leitura por um filme, ainda que seja bom. Assim que o mestrado terminar, vou ver se leio o livro original. E só depois procurarei conhecer a resenha do autor. Gosto de pegar o original, para tentar as minhas próprias conclusões.
Agradeço a recomendação.
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