segunda-feira, 31 de março de 2014

Parabéns aos professores da UNICAMP

É contraditório e constrangedor que títulos honoríficos, seja qual for a instituição que os outorgue, frequentemente sejam imerecidos e, pior, tisnem a honorabilidade da própria instituição outorgante. Talvez algumas pessoas pensem (ou eu pense, por ingenuidade decorrente de miopia adquirida ao longo dos anos de docência) que instituições de ensino seriam mais seletivas e responsáveis na escolha dos seus agraciados. Não necessariamente. Mas uma vez concedida, a homenagem fica para sempre, a menos que inesperadas forças contramajoritárias entrem em ação.

É sob esta premissa que parabenizo os professores da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), que pediram formalmente ao Conselho Universitário a cassação do título de doutor honoris causa outorgado em 1973 ao então Ministro da Educação, Jarbas Passarinho, coronel reformado (não consegui saber de qual Força) hoje com 94 anos.

A moção dos professores da UNICAMP já começa arrasadora:
Afirmando que a honestidade intelectual é um imperativo nas atividades acadêmicas, entendemos que os recursos teóricos da crítica e da autocrítica devem ser permanentemente exercidos, tanto no plano individual quanto das instituições. Fundados nesta premissa, vimos a esta Congregação a fim de manifestar – nesta conjuntura política em que as diferentes Comissões da Verdade buscam conhecer em profundidade episódios recentes da vida política e cultural brasileira – nosso repúdio em face de um fato que compromete os valores democráticos e científicos perseguidos, ao longo de sua história, pela Universidade Estadual de Campinas. Os signatários desta Moção estão convencidos que a concessão do título de Doutor Honoris Causa ao então Ministro da Educação Jarbas Passarinho – na reunião extraordinária do Conselho Diretor da Unicamp de 30 de novembro de 1973 – não foi acertada do ponto de vista acadêmico nem pertinente sob a perspectiva dos pressupostos e padrões da convivência democrática.
Foto da Sala de Imprensa da UNICAMP, obtida na internet,
mostra o então ministro da Educação conversando
amistosamente com o reitor daquela instituição.
Os professores destacam o intenso envolvimento de Passarinho com os atos dos golpistas, a ponto de ser um dos subscritores do hediondo Ato Institucional n. 5, cuja adoção foi justificada, por ele mesmo, em reunião do Conselho de Segurança Nacional com uma frase sintomática e escandalosa, hoje muito conhecida: "Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência". Ressaltam, ainda, que Passarinho jamais fez qualquer autocrítica e continua se orgulhando das ações dos militares, por meio de manifestações (inclusive livros publicados) que o colocam como defensor do "terrorismo de Estado".

Aduzem que, como ministro de Estado, Passarinho foi responsável direto pela perseguição a intelectuais e a servidores públicos (professores e pessoal administrativo) e estudantes, que foram expulsos das universidades, além de implantar, em 1971, as Assessorias de Segurança e Informações em todas as universidades federais. Não bastasse isso, trabalhou pela privatização do ensino superior.

Se estamos em período de revisão histórica, devemos fazê-la por completo, corrigindo os erros do passado, tais como glorificar o que merece ser execrado. E nada mais adequado do que essa tarefa ter, na dianteira, as universidades, justamente um dos foros mais duramente atingidos pelos governos de exceção e de onde saíram inúmeras de suas vítimas. Inclusive porque possuem o dever institucional de promover o conhecimento e o aprimoramento da sociedade.

Em página do Senado, estão listadas homenagens prestadas a Passarinho, havendo 13 títulos de doutor honoris causa. Além da UNICAMP, também cometeram esse desatino, no Brasil, as universidades do Pará (onde o cidadão foi governador nomeado pelos militares), Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, pelas Católicas da Bahia, Recife e Goiás, e pelas PUC do Rio Grande do Sul e de Petrópolis ; e no exterior, a Universidade Autônoma de Guadalajara (México), esta última por sinal me deixando bastante curioso quanto a sua motivação.

Leia a íntegra da nota dos professores e informações sobre Passarinho clicando aqui.

***

Fica a dica para a minha querida UFPA. Por oportuno, vale a leitura desta postagem do Blog do CJK.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu posso assinar também? Para mim, um grande canalha, travestido de ministro, de coronel, de senador, mas sempre um canalha, torturador e golpista. Seu nome , a exemplo de Médici, Geisel,et caterva, deveria ser deletado de nossas cidades, escolas, rodovias, etc, mas jamais das nossas mentes e dos nossos livros, de modo a que os jovens sempre saibam quem foram esses canalhas malditos.

Kenneth Fleming