Faz menos de dois anos, mas foi literalmente em uma outra vida.
Uma circunstância quase fortuita fez eu me deparar com as postagens que publiquei no dia 31 de janeiro de 2014. Foram duas: uma sobre a colação de grau de meus ex-alunos e outra, postada 9 minutos antes, às 9h08, sobre a cirurgia de histerectomia que minha mãe faria pouco depois. Eu estava de saída para levá-la ao hospital.
Intitulada "Esperanças", a postagem mostrava que, naquele momento, nosso maior medo era que ela sucumbisse à cirurgia, porque sua condição renal desfavorável era um complicador severo. Sim, eu estava apavorado que minha mãe morresse naquela sexta-feira. Mas o sentimento era outro, como aquele título demonstra. No texto, eu falava na vontade de Deus como algo que não me agredia. Eu tinha confiança.
31 de janeiro de 2014 foi um divisor de águas. Sob um certo sentido, nossa vida ― como até então a conhecíamos ― realmente acabou. Foi substituída por outra, em que não houve mais um dia de paz. Naquela manhã, o médico surgiu e revelou o segredo guardado na manga até aquele momento (o primeiro desvio ético): minha mãe tinha um enorme tumor no útero, provavelmente maligno. Foi assim, de chofre, em meio a outras questões, que o câncer entrou em meu caminho e no de meu irmão. Você não esquece um dia assim.
Aí veio todo o resto: a cirurgia foi bem sucedida, o tumor era localizado, aparentemente não houvera espalhamento, a condição era tratável e blá blá blá. Nossos amigos diziam coisas como "Deus está no comando" e "já deu certo". Bom coração, o deles. Isso eu jamais negarei. Mas no ano de 2014 tivemos a chance de achar que havia dado certo, por algum tempo. Antes do final do ano, a ladeira virou para baixo e assim permanece. Íngreme.
É muito curioso olhar as postagens dos dias anteriores e ver como eu vivia, completamente alheio a tudo o que estava acontecendo. A bênção da ignorância. Uma tranquilidade que eu queria de volta, mesmo que custasse caro, embora isso seja absolutamente impossível. A vida agora é outra. Primeiro o medo, agora a saudade.
Nada será como antes. Ponto.
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