As pessoas tendem a ritualizar números e datas. Eu não sou diferente. Sou até meio obcecado por quantificações, às vezes, principalmente quando indicam términos. Hoje é dia 3 de janeiro e, nesta data, completam-se três meses que minha mãe partiu.
Há mais ou menos um mês, escutei meu irmão dizer que, quando o dia 3 se aproxima, ele fica mais angustiado. Recebemos mensagens via WhatsApp marcando esses ciclos. E, no entanto, hoje, eu simplesmente não me dei conta de que era dia 3. Até que alguém mandou uma mensagem supondo que não estávamos bem por causa disso. Não fez por mal. Também é parente e se importa muito conosco. De longe, vai-nos monitorando e dando sua contribuição para o nosso bem-estar. Com a melhor das intenções, mandou sua mensagem de apoio, que vi após o almoço, em um momento em que estávamos brincando, um jogo de tabuleiro em família.
Não busquei explicações para o fato de sequer ter percebido que hoje era dia 3. Não penso que seja intrinsecamente bom ou mal; apenas aconteceu. Conhecendo-me como me conheço, acho que, se desenvolvesse qualquer mística em torno dessa data, ela acabaria por me maltratar. Então, talvez, esquecer o dia tenha sido algo bom. Significa que não há datas para lamentar, apenas mais um dia para viver.
Talvez, talvez. Não tenho respostas. Também não estou à procura de nenhuma, ao menos para isso.
Remoer o dia 3 me faria voltar a outubro e, honestamente, não vejo o que poderia ganhar com isso. Tenho que me cuidar, buscar ajuda, aprender a conviver com meus fantasmas. É isso. O mais é o amor que ficou, que fica, que existe. E ele não depende de números, até porque não cabe neles.
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