terça-feira, 26 de junho de 2012

Pedagogia da vara

Repercute na Internet o caso da professora do Município paulista de Sumaré que mandou um bilhete aos pais de um aluno problemático, recomendando que, caso uma boa conversa não resolva, devem eles partir o método tradicional, sugerindo "cintadas" e "varadas".


Sobre até para os cristos de plantão, os psicólogos, que levam esculhambação até quando estão quietos em seu canto.
É curioso como o tema da educação por meio da violência nunca sai de pauta. E é difícil sair, considerando as respostas emocionais acirradíssimas que costuma provocar. O debate é também estimulado pela existência de um projeto de lei, mofando pelo Congresso Nacional, que pretende tornar crime (para variar...) toda e qualquer agressão física contra crianças, no âmbito doméstico. Um projeto tolo, a meu ver, não pelo fato de eu não ser 100% avesso à palmadinha evangélica, e sim pelo reconhecimento de sua inviabilidade prática.
No mais, observo que as argumentações sobre o tema costumam ser toscas. Os defensores da palmada sempre recorrem ao velho argumento de que eu-apanhei-e-estou-aqui-vivo-e-sou-uma-pessoa-de-bem. Tolice. Eu também apanhei, muitas vezes sem merecer, e isso não me criou nenhum trauma (apesar de eu guardar a lembrança de me sentir injustiçado, além da impotência, sensação muito desagradável) nem me fez odiar minha mãe. Mas é como diz minha esposa: não é porque fizeram comigo que vou perpetuar as mesmas práticas. Se agirmos assim, não haverá evolução; estaremos apenas girando nos mesmos círculos de preguiça. Depois reclamam que apesar de termos feito tudo o que fizemos (seja lá o que for), ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.
Ninguém deveria ver na violência um recurso pedagógico. A simples ideia é uma contradição em termos. Só consigo conceber atos isolados e leves de ações físicas, usados como último recurso e, especificamente, no trato com a própria violência. Mas reconheço minha dificuldade em criar uma justificativa ética para isso. Em suma, posso ao menos dizer que quem bate deveria se sentir mal por isso, em todo caso. Do contrário, há alguma coisa de errado com esse indivíduo.

PS Não sei se você acolheria a sugestão dessa professora. De minha parte, haveria enorme resistência em seguir recomendações de um professora que desconhece regras elementares de concordância.

6 comentários:

Anônimo disse...

Leia a justificativa do pai. Agora, todo aluno indisciplinado é hiperativo, é sempre isso, problemas de comunicação, relacionamento, etc. Sempre se questiona a autoridade de profs., coordenadores, etc. O filho tá sempre correto, não digo isso de você, pois você parece agir com rigor na educação e castigo com a sua filha, mas em toda notícia semelhante é sempre isso. Veja então esse comentarista lá de Santa Catarina: http://www.youtube.com/watch?v=aTvrXb70Ev0

Yúdice Andrade disse...

É verdade, das 12h00. Antigamente, havia crianças mal criadas, danadas e até burras. Hoje não existem mais. Todas são vítimas inocentes de um transtorno de déficit de atenção, o que torna também os pais inocentes nessa história. Paralelamente, já soube que, em São Paulo, há psicólogos vendendo laudos com diagnóstico de TDAH para pais usarem nas escolas e, com isso, exigir regalias e proteções.
Definitivamente, eu e minha esposa somos rigorosos com Júlia. Ela não apanha, porque queremos educá-la com amor. Mas sempre acreditei que impor limites faz parte da educação e do próprio amor. Não facilitamos nada com ela. Há dias em que ela fica repetidas vezes de castigo e perde vários privilégios. E comigo não adianta pedir desculpas: para evitar utilitarismos, ela primeiro cumpre o castigo, depois eu recebo as desculpas.
Mas sei que estou remando contra a maré.

Anônimo disse...

Só posso dizer que minha mãe deve ter hesitado bastante em me dar uma boas de umas cipoadas quando eu era criança, e até o final da minha adolescência. Mas as coisas foram se arrumando conforme a vida me ensinou e minha mamãe largou o cinto e o papai a machadinha... rsss..., vós e tias também investiram contra mim, pois destestavam as telhas quebradas por causa de papagaio. Comecei a parar da panhar quando quebrei o maxilar ao pular de um trampolim, depois fraturei uma clavícula ao cair de uma carrocaria de um caminhão, em seguida quase decepei a mão direita ao brigar na rua, levei um choque de 220 numa máquina de sinteco, e acho que, por fim, mergulhei de cabeça num lugar em que só havia um palmo de água, mas eu não sabia. Uso prótese cervical até hoje, mas fiquei quietinho quietinho, do jeito que a mamãe e o papai gostavam.


Fred

zahlouth disse...

Discordo da posição da professora, contudo a família transfere toda a formação e educação do filho a escola, esquecendo que é do lar que vem tudo, a escola é complementar.

Aline Bentes disse...

Surreal. Principalmente sabendo que a "recomendação" vem de uma professora. Eu acho, Yúdice, que é preciso um meio-termo nessa questão. Sou conhecida entre meus colegas psicólogos por não ser tão "benevolente". No trabalho, assim como em casa, não trato as crianças com pena e tento não ceder às chantagens e artifícios que elas utilizam, quando querem (e como utilizam!). Meus colegas dizem que sou assim por ser, também, Bacharel em Direito. Mas eu acho que não. De outro lado, também penso que educar é trabalhoso, e por isso tantas pessoas não querem ou têm preguiça de fazê-lo. Dar uma palmada é mais "fácil"; é um "cala a boca" instantâneo. Mas também sou contrária ao tal Projeto de Lei, apesar de ser totalemnte contra o uso de qualquer violência com as crianças. Mas daí a criminalizar a palmada é outra história. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. É preciso um meio-termo!
Abraço pra vc, Polyana e Julinha.

Ana Paula Gaia disse...

Meu Deus! Aplausos de pé!!
Difícil encontrar um HOMEM que compartilhe com a mesma idéia.
Chega de violência contra a criança!