sexta-feira, 8 de março de 2013

O dia 8 de março

Provavelmente é pura marra minha, mas sou avesso a datas comemorativas impessoais. Gosto de parabenizar as pessoas pelos aniversários que fazem, por casamentos, formaturas, filhos que nascem, aprovações em concursos, etc. Mas me incomoda a obrigação, p. ex., de haver um dia para homenagear (e presentear, claro) as mães, considerando que sou um filho presente, que minha pequena família de três pessoas está todo final de semana enfiada na casa de minha mãe e que, portanto, tenho inúmeras oportunidades de expressar espontaneamente a minha gratidão, o meu respeito e o meu amor.

Já deu para deduzir, portanto, que sou reticente quanto ao dia internacional da mulher, que pelo menos tem a vantagem de não ser mera invenção capitalista, já que existem razões históricas para sua criação, que por sinal me sensibilizam muito. Afinal, foi uma luta por dignidade no trabalho e melhores condições de vida, valores extremamente caros para mim.

Incomoda-me, particularmente, a pressão para que rendamos homenagens públicas e ostensivas. Normalmente, a pressão começa com alguns dias de antecedência. Mesmo que estejamos em meio a uma semana atribulada, temos que nos preocupar em providenciar uma lembrancinha, um cartão, flores, preferencialmente um presente de verdade; temos que fazer declarações e outros que tais. Tudo muito bacana, exceto pela falta de espontaneidade. Isso já me botou taciturno diversas vezes, mas aí chega o dia 8 de março e as mulheres do trabalho reclamam porque não falei nada, as de casa reclamam porque não falei nada, as colegas professoras reclamam porque não falei nada, as alunas reclamam porque não falei nada. Chega a ser constrangedor.

Então vamos deixar esclarecido o seguinte:

1. Meus pais se separaram quando eu tinha 3 anos de idade. Fui criado por uma mãe solitária, que fez o que pode pela família. Não há palavras para expressar minha gratidão e meu respeito por seu amor, sua dedicação incondicional, sua preocupação permanente com o nosso bem estar.

2. Sou casado com uma mulher que é minha companheira, meu amparo, minha apoiadora de todas as horas, que escreveu em minha trajetória um capítulo sem o qual minha vida não teria valido a pena.

3. Quis ter uma filha, uma menina, desde sempre. Agora sou pai de uma mulherzinha que é o amor mais extraordinário que já conheci e sou feliz porque ela existe e é a garotinha do papai.

4. Em minha vida profissional, sempre trabalhei com uma maioria de mulheres. Fui aprendiz de algumas e me espelhei em outras tantas como profissional, como cidadão, como ser humano. E até hoje convivo com seres humanos extraordinários, que gozam de minha mais profunda admiração por motivos variados, inclusive os que têm a ver com sua condição de mulheres. Eu poderia citar a minha eterna mentora Silvia Mourão, a minha referência de dedicação materna Karen Rocha, o meu paradigma-de-mulher-inteligente-como-eu-gostaria-de-ser-se-tivesse-cacife Bárbara Dias, o meu modelo de positividade e fé na vida Ana Amélia, a inspiradora e generosa comandante atual de minha vida Ana Darwich e outras e outras e outras.

Por tudo isso, queridas mulheres, se neste dia 8 eu não lhes der uma flor, ou se lhes sonegar até mesmo a lembrança de um sorriso, não me queiram mal. Não é indiferença. Ao contrário: vocês vivem em mim desde antes e permanecerão comigo para sempre.

7 comentários:

André Uliana disse...

Você não está sozinho.

Compartilho o mesmo sentimento.

Yúdice Andrade disse...

Corremos o risco de passar por insensíveis, meu amigo.

Luiza Montenegro Duarte disse...

Da minha parte, acho esse dia um saco. Como disse em um comentário no Facebook, que ora reproduzo, tenho uma certa implicância com palavras vazias. Jamais me incomodo com homenagens sinceras, do tipo "tu, Fulana, és incrível por isso, isso e aquilo". Mas convenhamos que é impossível homenagear metade da população mundial sem incorrer em generalizações bizarras. As mais clichês são que as mulheres são guerreiras e trabalhadoras, mas também sensíveis e delicadas, e fazem tudo isso lindas, sem descer do salto. Ora, nem toda mulher é guerreira, nem toda mulher é trabalhadora, nem toda mulher é sensível, doce ou delicada. Então, a quem se dirige a homenagem? A um padrão. E sério, não precisamos de mais um padrão.

(Isso sem contar que "chegar linda ao final do dia" não é bem um mérito, mas uma imposição social, aquela que diz que "mulher tem que se cuidar/arrumar". Mas tem quem se orgulhe de cumprir direitinho esse papel.)

Anônimo disse...

Vc disse td! Linda homenagem!

Sâmia Silva

Jesiel Lopes disse...

Pense numa semana tensa por conta da proximidade desta data... Virou assedio moral!!!

Ana Miranda disse...

Yúdice, eu, como mulher, também concordo contigo.

Acho ótimo que não se esqueça aquele fatídico dia em que mulheres foram queimadas vivas dentro da fábrica, mas acho muito discriminativo essas datas "comemorativas".

Acho discriminatório dia do idoso, dia da consciência negra, essas datas assim.

Somos seres humanos. Somos todos IGUAIS!!!

Não acho que as pessoas precisem de um dia especial, as pessoas precisam de RESPEITO!!!!

Yúdice Andrade disse...

Meus queridos, fico sinceramente muito aliviado de contar com mais apoio do que esperava. Vocês me fizeram sentir melhor.