A mesma Rachel Sheherazade, âncora do jornal "SBT Brasil" e, dizem os fofoqueiros de celebridades, protégé do patrão Silvio Santos (o que lhe permite dizer qualquer absurdo sem ser molestada), acrescentou mais uma pérola a sua já farta joalheria de sandices, ao justificar a violência atribuída a supostos justiceiros. Justificação, se não for o mesmo que elogio, chega bem perto.
Se adotarmos a filosofia da douta jornalista, o salve-se quem puder estará instalado de vez na sociedade, oficialmente. Já que há "violência endêmica" (ela sabe o que é uma endemia?), tudo bem se nos vingarmos. "Vingadores" foi um termo utilizado por ela mesma. Afinal, é legítima defesa. Mas só é legítima defesa porque se trata de um contra-ataque a bandidos, obviamente.
O que todo débil mental legitimador da violência esquece, por burrice ou falta de caráter, ou ainda por sociopatia não diagnosticada, é que aceitar a violência implica em romper com a racionalidade e, consequentemente, com a civilização. Basta pensar em um conflito de rua: a "turma do deixa-disso" atua por saber que, se a coisa evoluir para um conflito aberto, é possível que a situação fuja totalmente ao controle e as consequências passam a ser imprevisíveis e certamente graves.
Logo, o sujeito que se acha legitimado a justiçar o ladrão, mais dia, menos dia, também se sentirá no direito de impor a lei do mais forte, ou mais rico, ou mais guarnecido de capangas, ou do melhor sobrenome, ou do abusador de função pública, ao cara da pequena confusão de trânsito, ao que furou a fila, ao que comemorou debochadamente o gol prejudicial ao meu time, ao que olhou para a minha mulher, ao que segurou o elevador por tempo demais, ao que não mimou o meu filho ou tratou meu cachorro como se fosse gente, ao cara que concorre comigo no trabalho, ao professor que não me deu a nota que eu queria e por aí vai.
Esse tipo de mentecapto, que a natureza não eliminou em tempo hábil através de um abortamento espontâneo, ignora que o famoso talião, tão admirado pelos justiceiros, longe de ser uma justificação da barbárie, era uma racionalização do punitivismo. Em vez de castigar o adversário até à morte, castigava-se o dito cujo na exata medida da ofensa causada; não a menos, porém não a mais, também. Numa briga, "A" decepou a mão direita de "B". Aplicado o talião, "B" poderia decepar a mão direita de "A". Só a mão, não o braço inteiro, não as duas mãos, nem matá-lo.
O talião surgiu para reduzir a vingança e a violência! Justiceiros, tremei e lamentai!
Em suma, o desenvolvimento da humanidade é marcado pelo esforço por reduzir a violência e substituir a vingança, privada ou pública, por formas de reação que pudessem contribuir para a preservação e o aprimoramento da sociedade. Não terei a ousadia de sugerir como é que a sociedade evolui. Apenas destaco que a legitimação da violência nega a História e qualquer possibilidade de emprego da razão. Ninguém sai ganhando, nem os adeptos dessa proposta.
Mas eles são burros demais para percebê-lo.
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