terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Loucura: amor, saudade, ciúme, despeito e outras humanidades

Dia desses comprei o CD Loucura, com releituras de Adriana Calcanhotto para canções do famosíssimo cantor e compositor porto-alegrense Lupicínio Rodrigues (1914-1974). Não é preciso muito para eu comprar um disco de Adriana, já que é minha cantora/compositora favorita. Dona de uma voz peculiar, aveludada, e de um estilo curioso, que às vezes a aproxima da Família Addams, neste trabalho ela se permite ser intérprete, sem perder o seu senso de humor muito próprio, seja na escolha do repertório, que inclui o Hino do Grêmio, seja no modo como apresenta os músicos que a acompanham.

Lupicínio Rodrigues é um ícone de sua geração. Um dos grandes luminares da música brasileira de antigamente, cantava os sentimentos da gente simples, da gente verdadeira, que não tem muito de bens materiais, mas cujo coração pulsa com a força de diversos sentimentos, nem todos bons. Daí que suas canções constituem arrebatadoras declarações de amor, mas há muito de rancor, de ódio, de inveja, de ciúme. Aliás, a canção "Vingança" é, provavelmente, uma das mais perfeitas traduções de ressentimento por um relacionamento fracassado.

O disco, lançado em 24 de julho deste ano, é o primeiro trabalho de Adriana após a viuvez. Sua esposa, a cineasta Suzana de Moraes, faleceu no último dia 27 de janeiro, após mais de 25 anos de uma união honesta e monogâmica que faria corar de vergonha os patéticos homofóbicos que hoje dominam a cena internética e política. Por isso mesmo, ao escutar aqueles versos tão doridos, não pude deixar de pensar em como a cantora se sentiu ao entoar palavras como estas, da canção "Homenagem":

Levem estas flores pr'aquela que agora deve estar chorando
Por não poder estar neste momento aqui junto de mim
Pra receber estas honras que a outra está desfrutando
O nosso amor clandestino é que obriga a vivermos assim
Levem estas flores
E digam pra ela ficar me esperando
Que no que termine a festa eu irei abraçar meu amor
Pois apesar de não sermos casados
É quem me inspira e está sempre a meu lado
Me acompanhando nas horas difíceis, nas horas de dor


O projeto rendeu um belo show, gravado em Porto Alegre, cidade natal da homenageante e do homenageado. Esse concerto virou o disco e um DVD. Como se pode ver na imagem ao lado, Adriana aparece vestida a rigor, como um homem, em um cenário que lembra um bar ou talvez um cabaré, estabelecimento comum na vida dos homens do tempo de Lupicínio. A voz doce e triste ponteia as letras profundamente sentimentais e encontram o coro do público na conhecidíssima e terna canção "Felicidade".

Para quem gosta do estilo, recomendo muito. É possível que até o seu cotovelo doa. Contudo, é mais provável que a sua alma voe.

3 comentários:

Unknown disse...

Estava eu na Saraiva semana retrasada e o DVD desse álbum da Adriana estava passando em uma tv que fica na vitrine da loja. Me chamou a atenção (pelo traje, pela interpretação incrível). E nem precisei ouvir o que ela estava cantando p/ me interessar. Cheguei a pegar no CD e ver o seu conteúdo, mas infelizmente não o trouxe para casa. Da próxima, já sei. Obrigada pela dica!

Jean Pablo disse...

Olá primo,

Ótima sugestão. Certamente irei querer escutar, ainda mais com a presença do Hino do Grêmio kkkkk

Abraços primo

Yúdice Andrade disse...

Vale muito a pena, Isabelle. Ainda mais para uma pessoa com a sua sensibilidade. Aproveite.

Quando vi, na contracapa, a menção ao hino, só me lembrei de ti. Jamais conseguirei escutar essa faixa sem pensar em ti, o único gremista que conheço (que eu saiba, não há gremistas nem colorados no Pará).