quarta-feira, 4 de julho de 2012

Coisas do capitalismo

Com alguma surpresa, tomo conhecimento de que a Prefeitura de São Paulo cassou a licença de funcionamento de um shopping center e, ainda por cima um localizado em Higienópolis, aquele bairro de pessoas diferenciadas. O motivo da medida extrema foi a carência de vagas de estacionamento. Louvo a medida moralizadora e aguardo o desfecho do caso. Mas ele me provoca outros pensamentos.
Estive no Shopping Boulevard, aqui em Belém. Noite comum do mês de julho, quando a cidade começa a esvaziar. Mesmo assim, a dificuldade de acesso foi percebida, porque já estão a pleno valor as obras da chamada "expansão 2012" do empreendimento. A tal expansão sempre me despertou desconfiança, porque suprimiria um andar inteiro de estacionamento. Ou seja, quanto mais lojas e elementos atrativos de público, menos espaço para o mesmo público estacionar. Ouvi dizer, mas não posso confirmar, que na opinião dos empreendedores o estacionamento era sub-utilizado.
Obras em andamento, percebi que o incômodo é muito maior do que pensei. Para começar, não apenas o nível G2, mas também o G6 foram interditados. São dois níveis de estacionamento perdidos e o de cima nem sei o motivo da interdição. A horrorosa rampa de entrada (aquela que não dá para acreditar que foi liberada pelas autoridades) ficou muito maior agora, pois os motoristas precisam subir mais um andar. O risco de filas aumentou consideravelmente e, com elas, o de acidentes.
Mas não é tudo. O banheiro masculino e o fraldário do piso P4 também foram interditados, o que é particularmente inconveniente, por serem os equipamentos destinados a servir a praça de alimentação.
Por último, com a redução dos guichês de pagamento do estacionamento, há filas também para isso. Em suma, enquanto os capitalistas cuidam de aumentar o faturamento, o conforto e mesmo a segurança se perdem. O consumidor, como sempre, é só mais um detalhe e um detalhe que só interessa enquanto paga. Vale lembrar que alguns desses transtornos serão removidos (o banheiro, p. ex.), mas outros se tornarão definitivos, como a rampa de entrada. E a coisa pode piorar se inventarem uma nova expansão. Sem falar que por aqui não existe prefeito, então não se pode contar com medidas sérias, no interesse dos seres humanos.

2 comentários:

Maria Cristina Maneschy disse...

Super oportuno o post. Obra sem controle público, como tantas obras nesta querida cidade.

Yúdice Andrade disse...

Eu queria ter tempo de sair pela cidade, fotografando as obras públicas e privadas. Não precisaria de mais do que dois dias para levantar um elenco absurdo de monstruosidades. Por toda parte somos agredidos e todo mundo parece acostumado a achar isso normal.