quinta-feira, 5 de julho de 2012

O prisioneiro do céu

Soube da existência do escritor Carlos Ruiz Zafón quando me contaram a sinopse do seu O jogo do anjo, que me chamou imediatamente a atenção. Foi um passo para comprar o livro e lê-lo, deleitando-me com a trama soturna, sobre a qual escrevi estas palavras. Não muito tempo depois, li A sombra do vento, que envolvia alguns dos mesmos personagens da obra anterior numa aventura cronologicamente anterior, mas sem constituir o que hoje em dia chamam de "prequela". Gostei também, mas o precedente continuava tendo mais a ver comigo.
Passados dois anos, deparei-me com uma estória escrita por Zafón no começo da carreira, Marina, que me pareceu uma boa aventura adolescente, a qual também elogiei pela elevada qualidade do texto e pelas imagens que este sugere.
Há três dias, Júlia entrou de repente numa livraria e, ao ir atrás, bati meu olho na capa de O prisioneiro do céu. Bastaria o nome do autor, com grande destaque, para me convencer à compra, mas percebi também a indicação no rodapé. Já passei a mão no volume, paguei e iniciei a leitura ainda no carro.
Explica o autor que a obra integra "um ciclo de romances que se entrecruzam no universo literário do Cemitério dos Livros Esquecidos. Os romances que formam esse ciclo estão ligados entre si através de personagens e linhas dramáticas que estendem pontes narrativas e temáticas, embora cada um deles ofereça uma história completa, independente, contida em si mesma". Ainda segundo o autor, os livros podem ser lidos em qualquer ordem.
Mergulhando em O prisioneiro do céu, você verá uma trama centrada na figura de Daniel Sempere e Fermín Romero de Torres deixando de ser um personagem secundário. Tudo começa com a aparição de um estranho homem, interessadíssimo em Fermín. E aí começam os segredos e investigações que culminam numa narrativa paralela, na qual Fermín foi preso político em condições ultradegradantes, ao lado de ninguém menos que David Martín. Surge aí um novo inimigo, cujas ações finais não ficam muito claras, o que provavelmente é o maior defeito do livro. Até nova abordagem, eu resumiria o enredo como um fantasma do passado influencia um homem de bem a executar uma terrível vingança. O próprio Cemitério dos Livros Esquecidos só aparece no último capítulo e não influencia em nada, servindo apenas de cenário para a execução do plano do tal fantasma do passado.
O prisioneiro do céu é um livro bacana. Não o classificaria acima disso. Mas provavelmente pede que você já conheça o universo zafoniano, sob pena de considerá-lo mera estorieta digna de uma Sessão da Tarde. Confesso meu desapontamento. Joga-se muito confete sobre Zafón, mas ele me parece cada vez mais um roteirista de filme de ação hollywoodiano, como se percebe pela narrativa perfeitamente enquadrável em linguagem audiovisual. Até mesmo os capítulos são curtíssimos, chegando ao ponto de mudar no meio da descrição de uma mesma cena. Uma divisão absurda, mas coerente com a proposta de tudo ter que acontecer rápido, pois os cérebros de hoje não retêm informações por mais de 30 segundos. E há maneirismos chatos, como o batidíssimo recurso de fazer aparecer uma personagem que é a cópia fiel de uma falecida fonte de amor. Que saco.
Recomendo a leitura para os fãs de Zafón. Quem não o conhece, melhor começar pelos outros.
Por último, uma impressão que pode ser mera implicância, mas que senti desde o primeiro momento: não gosto dos títulos que o autor dá a suas obras. Nesta trilogia, pelo menos, não gostei de nenhum dos três. Mas o autor coloca os livros como personagens, também, então tem lá a sua desculpa.

3 comentários:

Anônimo disse...

É bem bacana quando o senhor fala sobre livros.
Como leitor, sugiro uma pauta com mais post sobre isso, são dos mais interessantes.

Ana Miranda disse...

Toc...toc...toc...

Alguém em casa????

Você está de férias do blog também?

Yúdice Andrade disse...

Das 11h59, sempre que tiver um livro novo lido, escreverei a respeito. Pena que, nos últimos tempos, o tempo andou escasseando para leituras não relacionadas a trabalho. E com o meu iminente começo de mestrado, o prognóstico não é dos melhores.
Mas procurarei atender ao seu pedido. Grato pela gentil avaliação.