segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Pretextos para fazer nada

Certo dia, comentei como achava um absurdo a cidade parar mais um dia por causa do Recírio. Ainda mais porque o evento em si é rápido, representando uma procissão modesta de aproximadamente 160 metros. Até seria compreensível a reorganização do trânsito durante o tempo necessário, na área de influência.

Obviamente, meu comentário foi recebido com ódio por uma pessoa que, recorrendo a uma técnica falaciosa muito comum, tentou dar a sua opinião uma grandeza que na verdade não possui. O reproche saiu nestes termos: "As pessoas têm o direito de viver a sua fé!"

Por meio desse brado, fui implicitamente acusado de intolerância religiosa e a pessoa em questão tentou colocar-se numa condição moral maior do que a minha. No entanto, em momento algum ela trouxe à tona o fato de que o Recírio, indiscutivelmente, mobiliza uma quantidade de pessoas que não se compara à dos eventos do Círio. É um evento minúsculo e muito mais breve, características que nada têm a ver com seu mérito religioso. Não estou discutindo o tamanho ou o valor da fé, mas a necessidade de estagnar a cidade por mais uma manhã e, em muitos casos, por mais um dia inteiro.

Em suma, não existe razão plausível para que o Recírio pare Belém, enquanto aqueles que se dizem devotos estão em casa dormindo até mais tarde ou fazendo outras coisas, mais mundanas, em vez de rezar. A própria pessoa que me criticou com tanta virulência, com certeza, jamais acompanhou o Recírio sequer pelo radinho de pilha. Mas quer o feriado, claro.

A coisa piorou porque, há uns poucos anos, a cidade começou a parar também na segunda-feira após o Círio. Motivo? Eu também gostaria de saber. Brinco dizendo que é para digerirmos a maniçoba e o pato no tucupi, porque sendo o almoço festivo uma ocasião de abusos, no dia seguinte está todo mundo estragado. Mas isso, claro, é apenas uma galhofa. Não existe nenhuma razão legítima para a interrupção de atividades no dia seguinte ao Círio, sequer o suposto argumento de fé do Recírio.

Mas todo brasileiro gosta de uma vadiagem, não é? No final das contas, isso acaba explicando muita coisa. Seja como for, logo mais haverá aula. E eu estarei lá.

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