quinta-feira, 3 de julho de 2014

Artur

Corria o ano de 1991 quando conheci aquele rapaz, por nome Artur, que vivia às voltas com duas colegas mais próximas a mim. Nós nos reunimos algumas vezes para estudar, mas acabamos nos distanciando. O tempo passou e, de todo o grupo que pretendia cursar Direito na UFPA, somente eu e ele fomos aprovados.

Tornamo-nos, assim, colegas de faculdade, porém eu em uma turma, ele em outra. Desse modo, passaram-se os 5 anos de curso, sem que nos tornássemos amigos. Um dia, quando já estávamos formados, minha mãe recebeu um primo que reencontrara não sei como. Ele foi almoçar em nossa casa. Levou esposa e um filho, justamente aquele mesmo Artur, que de conhecido distante virou aparentado.

Apesar da mudança de condição, nem assim nos aproximamos. Ficamos naquela cortesia de bons amigos quando se encontram, caso se encontrem. Infelizmente, tenho que admitir que já fui mais cuidadoso com os amigos. Eu realmente me esqueço de cuidar melhor de quem não está em meu entorno imediato e já tive muitas razões para me recriminar por isso.

O fato é que não terei outra oportunidade para prosear com Artur Andrade. Ontem, bem no dia em que completava 43 anos de idade, ele sofreu um infarto quando saía do fórum de Santa Maria do Pará, cidade onde mantinha um escritório de advocacia. E assim terminou a sua trajetória, deixando uma família saudosa e um filhinho de 3 anos, apenas.

Há pouco mais de uma hora, eu e minha mãe fomos até a capela onde estava prestes a ser iniciado o velório. Falamos com os pais de Artur. A mãe disse que não tinha como não chorar. O pai parecia mais calmo e me deu as informações sobre o ocorrido. Mas aí deixou a emoção aflorar ao dizer que não sabia se teria coragem de ver seu filho morto, pois queria reter a imagem dele vivo. Citou Cecília Meirelles: algo sobre experimentar uma dor mais forte quando ela nos chega através da carne dos filhos. Disse preferir que ele mesmo tivesse ido, pois já tem quase 70 anos, e não Artur, que não pode criar o próprio filho. Abracei-o e desejei que tivesse força para enfrentar o momento. É o que nos resta.

Amanhã será um dia de despedida. Vai com Deus, Artur.

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