quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Estado paralelo (parte 2)

Audiência pública, ontem, na Câmara dos Deputados. Um tal de Jérôme Valcke, secretário-geral da Federação Internacional de Futebol, e o tal de Ricardo Teixeira, presidente da CBF, compareceram perante a comissão espacial dos deputados que analisa o projeto de uma tal de Lei Geral da Copa.

Audiência pública na confraria do terror.
 Há pouco mais de um mês publiquei uma primeira postagem criticando a postura dessa tal de FIFA, que pretende alterar o ordenamento jurídico brasileiro durante a Copa, para maximizar seus lucros. Na audiência de ontem, os temas que têm travado a discussão foram abordados: gratuidade para idosos e venda de bebidas alcoólicas nos estádios.
O Estatuto do Torcedor (Lei n. 10.671, de 15.5.2003, profundamente alterada pela Lei n. 12.299, de 27.7.2010), cuja missão principal é prevenir a violência nos esportes (art. 1º-A), determina que "não portar objetos, bebidas ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência" é uma "condição de acesso e permanência do torcedor no recinto esportivo" (art. 13-A, II). Mas a FIFA tem entre seus principais patrocinadores a indústria cervejeira (futebol e cerveja, sabe como é: não pode sair nada de bom daí), de modo que aquele Estado Paralelo exige a venda. Logo, a legislação brasileira tem que ser suspensa.
Falando como autêntico capo de uma facção mafiosa, o tal de Valcke teve o cinismo de dizer que o Brasil pediu que a copa fosse realizada aqui. Ou seja, nós não pedimos, foi você quem quis: logo, submeta-se! Na mesma linha de "raciocínio", o insuspeito Teixeira disse que não tem nada a ver essa história de soberania nacional. Imagine! Eu abdicar, ainda que temporariamente, das minhas leis para ceder às pressões de uma organização criminosa transnacional estrangeira não constitui renúncia à soberania. É, um de nós faltou a essa aula de Direito Constitucional...
Razão tem o Marco Antônio Araújo: "A arrogância de Ricardo Teixeira está se tornando um insulto ao povo brasileiro. Dizer, em depoimento na Câmara, que o Congresso não deve se preocupar com a soberania nacional diante do 'evento único' que é a Copa do Mundo é pra ele sair do plenário algemado. (...) É um verdadeiro bando tomando de assalto um país. Mereciam ser deportados a pontapés. Aí, sim, eles aprenderiam o que é soberania nacional."
Cada vez mais me convenço do que já temia: abstraído o ufanismo cego, irracional e burro do brasileiro, a copa do mundo no Brasil não trará benefícios significativos ao povo brasileiro. É um pequeno convescote onde uma súcia enriquece às custas de uma minoria privilegiada, que pode pagar pelo produto vendido.
Ah, sim, eu sei que as obras de infraestrutura permanecerão, beneficiando as cidades sedes de jogos. Mas se a imbatível corrupção do brasileiro fizer com que cada obra dessas custe dez vezes mais do que devia, a relação custo-benefício, interesse público, fará esses ganhos se escoarem pelo ralo.
Quando penso no que está sendo gasto na construção de estádios, num país onde se morre de fome, diarreia e catapora... Maldita copa!

3 comentários:

Frederico Guerreiro disse...

E a presidente ainda vai apertar as mãos deles no jogo de abertura.

Gabriel Parente disse...

Estou longe, muito longe de defender o Ricardão aí, mas ouso fazer algumas ponderações. Infelizmente a FIFA e a CBF estão fazendo de tudo para otimizar seus lucros, como tu mesmo falaste. Exemplo disto é a permissão [forçada] da venda de bebidas alcoólicas nos estádios durante a Copa. Olha, eu não acho que esse seja o caminho para estabelecer a harmonia nos estádios, pois a população brasileira, principalmente a massa canarinha, não tem consciência alguma pra lidar com tal permissão, já que muitos vão ao campo a fim de embriagar-se e, conseqüentemente, fazer arruaça e baderna.

A Copa do Mundo é um evento universal que reúne povos dos quatro cantos do globo, só que infelizmente, para nós, a Copa remete à Seleção Brasileira (principal) e à CBF, o que não é muito bom, já que para o "povão" o futebol brasileiro é o melhor do mundo e tem a obrigação de ganhar, senão será considerado como vergonha nacional. Ninguém nesse país entende que perder é normal e saber agir nesses momentos, muitas vezes, demonstra uma grandeza muito maior que a vitória.

Onde quero chegar: gostaria de acreditar que a venda de bebidas alcoólicas (a cerveja, especificamente) não fosse vista dessa maneira, tendo como pressuposto a universalidade da Copa, pois ao redor do mundo - principalmente na Europa - a venda de cerveja é autorizada nos estádios, já que não há, na maioria das vezes, essa mentalidade pífia do torcedor brasileiro. Um exemplo: a cerveja oficial nos estádios britânicos é a Greene King IPA, a qual possui apenas 3,60% de volume de álcool (a título de comparação, as grotescas cervejas comerciais nacionais possuem uma média de 5,0%). Portanto, a ida aos estádios e conseqüente consumo de cerveja se faz de forma consciente ao redor do mundo - excluindo os hooligans, mas acho que hoje em dia as coisas já estão bem pacificadas. É claro que essa não é a intenção dos dirigentes, mas como eu queria que fosse...

Yúdice Andrade disse...

Apertar a mão, agradecer, cobrir de elogios, fazer mesuras...

Agradeço a tua contribuição, Gabriel. Como nada entendo de futebol e locais de eventos esportivos, eu jamais seria capaz de prestar informações como essa.