domingo, 17 de fevereiro de 2013

Mudanças a caminho

Durante quase uma década e meia, uma prima de Óbidos morou na casa de minha mãe. Como tantos outros paraenses do interior, veio à capital para estudar e tentar melhores opções do que sua cidade natal permitia. De tanto tempo que ficou, obviamente se tornou um capítulo importante em nossas vidas, porque esteve presente em tudo que aconteceu nesse período.

Agora, formada, mas à procura de uma ocupação, como tantos brasileiros, deparou-se com a possibilidade de se especializar em Manaus, onde mora um irmão. A decisão foi tomada no começo do ano, mas somente há poucos minutos foi comprada a passagem. Assim, a partida agora tem dia e hora, tornando-se concreta como antes não era.

Tornou-se necessário explicar para Júlia sobre a mudança e suas implicações, até porque agora é coisa de apenas duas semanas. Júlia é louca por ela e reagiu com um princípio de choro, logo controlado. Acho que a ficha ainda não caiu exatamente. Teremos que lidar com isso em breve. Teremos que lidar, sobretudo, com minha mãe e sua incapacidade hiperaguda de aceitar mudanças, sua convicção de que ninguém pode ir além de seu portão. Sentimentos desbragados de alguém que, já na casa dos 70, tem dificuldades particulares de enfrentar o que considera como perda.

Na verdade, a prima era a companhia mais constante de minha mãe que, com a mudança, passará a maior parte do dia sozinha em casa. E ela simplesmente odeia ficar só. Portanto, há outras questões a nos preocupar, algumas bastante práticas, mas acima de tudo as emocionais.

Esta, enfim, é a vida. A todo momento nos conclama a mudanças, a lançarmo-nos rumo ao desconhecido, em busca daquilo que anelamos para o nosso futuro. Só podemos desejar toda a sorte e sucesso a nossa prima. Que seus planos se realizem e ela seja muito feliz.

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Yúdice,

Mais um(a) paraense precisando deixar sua terra natal em busca de melhor formação ou emprego. São milhares de paraenses tomando o mesmo rumo, todos os anos. Porque será que o "Muiraquitã do Brasil" não consegue acolher todos os seus filhos, dando a eles tudo aquilo que eles necessitam para ter uma vida digna em sua própria terra? Até quando teremos de dizer adeus a todos aqueles que nos são caros?
Talvez quando os que tem o poder sobre os nossos destinos, começarem a tentar achar resposta para essas perguntas, eles consigam entender as nossas aspirações separatistas. Até lá verão nossos mais legítimos sonhos como mero "papinho separatista", como alguém de Belém escreveu em um blog, há poucos dias, tentando desqualificar nossa luta.

Boa sorte à sua prima e consolo aos que ficam (principalmente à sua mãe e à Júlia).


Saudações Tapajônicas,


Nilson Vieira

Yúdice Andrade disse...

Caro Nilson, o pior é que, lá por Manaus, as condições não são tão melhores assim. Ela vai porque é formada em turismo e surgiu uma oportunidade de cursar uma especialização em hotelaria, que é o que ela deseja, na Federal do Amazonas. Mas ela vai se aventurar, mesmo, porque pode ser que a especialização não dê certo. Mas qual a escolha? O jeito é meter a cara.
Quanto ao tema da divisão do Estado, é uma luta de paixões. Sem dúvida que a expressão "papinho separatista" denota um menosprezo que não adianta a enfrentar condignamente a questão, qualquer que seja o ponto de vista da pessoa.
Grande abraço.