quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

#Queroverteracabeçanolugar

Quem me viu execrando o uso de hashtags no Facebook não precisa acusar-me de incoerência. Creio que o título desta postagem será esclarecido adiante.

Há alguns dias, tomei conhecimento da campanha publicitária da Gillette, que agora assume publicamente seu objetivo de fomentar a prática do body shaving (depilação) masculino. E o faz por meio de um argumento surpreendente: mulheres preferem homens lisinhos. Surpreendente porque não se sabe de onde se tirou essa informação. Acaso foi realizada alguma pesquisa sobre preferências femininas? Quando? Onde? Com qual abrangência? Sob qual metodologia?

Aliás, sabemos sim de onde saiu a informação: de um propósito raso e mesquinho, bem inerente ao capitalismo, de fazer o que for preciso para aumentar as vendas da empresa que inventou o modismo. Estabelecido o objetivo, apela-se para os maneirismos próprios da publicidade, tais como explorar a imagem de um artista em evidência no momento (o sulcoreano Psy) e a vala comum da mídia brasileira: a exploração da sexualidade, por meio de clichês que nunca saem de cena apesar de desgastados. Colocam-se, então, três mulheres gostosonas (e também muito conhecidas do público), obviamente reduzidas a objeto  consumível pelo público masculino, para defender a barbaridade tratada como imperativo categórico: mulheres preferem homens lisinhos.

Não duvido que haja muitas mulheres apreciadoras de homens lisinhos (assim como homens que gostam de outros homens lisinhos). Questão de gosto, simplesmente. Eu gosto de mulheres de cabelo comprido, enquanto outros gostam de ver a nuca exposta. Eu, como já declarei aqui no blog, gosto de mulheres de pele clara e cabelos escuros, enquanto outros são alucinados por louras. E por aí vai. Nenhum problema quando isso é uma preferência pessoal. O problema surge quando um féla qualquer inventa um valor, um gosto, uma exigência, uma necessidade, e as pessoas embarcam na onda. Assim agindo, elas se mostram massa de manobra, gente vazia e pronta a ser levada para onde os mais espertos desejem.

E agora a fabricante de lâminas resolveu que homem bonito (e pegador, claro, porque é isso que conta) tem o peito lisinho, tratando a característica como uma premissa inquestionável. O resultado foram queixas no sentido de que a campanha vende a imagem de homens peludos como sendo nojentos. Nunca vi o tal filme, por isso não sei como ele realmente é, mas o fato é que o protesto foi formalizado perante o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária  CONAR e já virou um processo. Em tese, pode haver uma punição. Antecipando-se a mais agitação, a Gillette já tirou o filme do ar.

O que me enoja na campanha da Gillette não é propor que as pessoas tenham ou não pelos, mas sim a manipulação. Repugna-me a manipulação até mais do que a imposição de um padrão estético. E de um padrão estético que eu, pessoalmente, acho ridículo. Ainda que não todos, homens têm pelos no peito e em outras partes do corpo. A natureza nos fez assim, como nos fez com um nariz no meio da cara que, convenhamos, é um negócio bastante esquisito. Mas ele está lá. Eu lamento pelos negros que pretendem tornar seus traços mais arianos, assim como pelos orientais que sonham em ocidentalizar os olhos. Mas quem cede às babaquices da indústria da moda e da beleza eu não lamento: eu repudio.

Na matéria cujo link indiquei, uma comentarista diz à Gillette que antigamente as mulheres tinham mais pelos do que necessário e agora se depilam mais. Mais pelos do que o necessário? Como assim? A imposição de padrões estéticos é tão agressiva que as pessoas realmente passam a acreditar neles como uma necessidade. Pelos existem para proteger o corpo, notadamente os genitais. De um modo geral, as pessoas não gostam de touceiras no meio das pernas (eu, inclusive), mas daí a concluir pela depilação total vai uma larga distância. Uma distância percorrida pela indústria. Hoje as mulheres se depilam demais, quando não integralmente. Para mim, isso estimula a pedofilia.

A babaquice é tanta que, nos últimos anos, vem-se impondo um novo padrão de beleza masculino: imberbe, andrógino. Parece que a obsessão por homogeneizar os seres humanos chegou ao nível de reduzir as distinções entre homens e mulheres. Agora, valoriza-se um Justin Bieber, um Luan Santana e seus corpitchos magrinhos, lisos e metidos em roupas bem coladinhas, encimadas por penteados patéticos. Funciona se você está em cima de um palco ou de uma passarela, mas não na vida real. Para mim, também isso é coisa de pedófilo.

Encerro este protesto com uma declaração que pode aborrecer alguns, mas enfim, este é o Arbítrio do Yúdice, não é? Então lá vai: Você, homem, é atleta? Pratica natação e precisa reduzir o atrito do corpo com a água? É lutador e precisa exibir músculos bem definidos? Precisa proteger-se em esportes que envolvem contato corporal e sabe que arrancar pelos pode doer muito?

Se você respondeu negativamente aos questionamentos (meramente exemplificativos) acima, não existe uma boa razão para você se depilar. Eu estou plenamente disposto a não respeitar um homem que resolveu se depilar para ceder ao Gillette way of life.

Qual é a próxima babaquice que vão inventar?

Saiba mais sobre o CONAR nesta postagem.

5 comentários:

Anônimo disse...

Concordo com quase tudo, à exceção da ligação com a pedofilia, não acho que preferir uma vagina depilada seja um desejo oculto por uma vagina infantil.

Eu tenho nojo de cabelo na comida, acho que estendo a lógica a tudo onde eu "coloco a boca", então, bem, né.

Yúdice Andrade disse...

É um modo plausível de ver as coisas, das 23h24! (Rindo.)

Anônimo disse...

Pesquisa aponta que barba é saudável: http://super.abril.com.br/blogs/cienciamaluca/ter-barba-faz-bem-a-saude/

Yúdice Andrade disse...

Das 15h01, considerando ser a barba um obstáculo físico, a reportagem me parece bastante plausível. Volta e meia estou de barba, então isso é bom.

Anônimo disse...

Sou da Marambaia, esse papo de depilação masculina... sei não...

Abs,

Bruno Brasil