domingo, 3 de fevereiro de 2013

Pequenos exemplos de política partidária

Se você acessar o site do governo do Estado do Pará, encontrará a estrepitosa manchete:

PARCERIA
Jatene e Dilma Roussef entregam mais de mil unidades habitacionais

Notem que o nome do governador paraense vem na frente do da presidenta, dando a entender que ele é o maior responsável pelo empreendimento. Uma tolice manifesta, porque nenhuma unidade federativa realiza amplos programas de moradia popular com recursos próprios. Aliás, quase nada fazem sem que haja recursos da União  o que por sinal é justo, já que o modelo federativo às avessas do Brasil coloca 60% da arrecadação tributária nas mãos da Viúva, quando deveria privilegiar os Municípios.

Segue-se a reportagem, com a afirmação de que a entrega das 1.080 unidades habitacionais é um "presente dos governos federal, estadual e municipal". Aqui, num ato falho, o redator da Agência Pará de Notícias desvela um pensamento tipicamente brasileiro: o de que os governos são generosos e fazem o bem para os pobres, quando na verdade esses porcarias não fazem mais do que sua obrigação  quando fazem. Não existem "presentes", senhor jornalista: existem metas a cumprir por força da Constituição e das leis vigentes no país.

A matéria afirma que Jatene recebeu a presidenta (cujo nome aparece escrito errado na manchete) em Belém e seguiu com ela para Castanhal, onde juntos fizeram a entrega. Obviamente, o governador esteve envolvido, porque nenhum chefe de Executivo estadual deixaria de cumprir a liturgia do cargo e receber o presidente da República e, muito menos, deixaria de aproveitar uma ocasião dessas para se promover. Mas também há a questão do investimento regional, pois segundo consta, o investimento foi de 60 milhões de reais, sendo 1,8 milhão de recursos do Pará, fora o valor do terreno. Nas fotos, Jatene aparece participando ativamente do evento, inclusive descerrando placa e agarrando a cabeça de uma pobre agradecida.

Mas quando você lê a matéria publicada na página da presidência da República, a conversa é outra. A manchete é impessoal (aliás, como deveria ser sempre):

Programa habitacional entrega 1.080 residências no Pará

A matéria não faz nenhuma alusão ao governo do Estado, seja à contrapartida financeira, seja à presença do governador. Tanto que, a certa altura, afirma expressamente: "A entrega das residências contou com a presença da presidenta Dilma Rousseff, do ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, e do presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda".

Convenhamos, Jatene estava lá. A matéria do governo federal incorre em uma falta imperdoável, que não pode ser tributada a equívoco. Entendo que houve má fé. Ainda que a contribuição do governo do Estado seja mínima frente ao todo, ela existiu. E nada, nada, há o protocolo. Ignorá-lo sumariamente não é bom sinal.

No final das contas, tudo isso é o jeito brasileiro de fazer política. Não se menciona o sujeito do outro partido porque ele é um concorrente eleitoral e o negócio, aqui, é tratar toda ação pública como motivos concretos para você me adorar, ser bovinamente grato a mim por minha bondade infinita e em, consequência, votar em mim e nos meus apaniguados no próximo pleito. Não há impessoalidade nem interesse público, só as manobras de sempre.

Tão Pará. Tão Brasil.

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