quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Uma pequena armadilha comercial?

Com o desmantelamento das lojas de discos na cidade (hoje só existem departamentos de lojas maiores, que vendem apenas os títulos de maior interesse comercial, ou seja, muita, muita porcaria) e a dificuldade de assegurar um bom acervo nas livrarias, acostumei-me ao comércio eletrônico há alguns anos. Ou seja, eu (e sobretudo minha esposa) compramos bastante coisa a depender de entregas pelos correios, o que me permite afirmar que os prazos de entrega estão se dilatando.

Antes, as empresas pediam três, cinco dias úteis. Já fizemos compras que nos surpreenderam pela rapidez com que as mercadorias chegaram. Mas recentemente precisei comprar vários livros, por causa do mestrado (livros que, convenhamos, deveríamos estar disponíveis em Belém, mas não estão), e me deparei com um prazo de entrega de dezenove dias úteis! Para completar, muitas lojas pararam de informar se o produto está disponível no momento, dando a entender que sim. Aí você fecha o pedido e paga, para somente depois descobrir que o item ainda está sendo buscado entre os fornecedores. Começam a mandar as mercadorias fracionadas, a ponto de você se perder sobre se já recebeu tudo.

Eu me pergunto quais seriam as causas dessa demora. Maior demanda pelo serviço postal, que hoje não entrega mais cartas, e sim mercadorias? Difusão intensa do comércio eletrônico? Insuficiência de investimentos, problemas de logística, carências de voos ou na malha rodoviária? Menores recursos de empresas de pequeno ou médio porte? Tudo isso junto e mais algumas coisas?

O fato é que estou com a sensação de que um dos motivos pode ser a boa e velha safadeza do brasileiro, mesmo. Além de vender tudo por preços exorbitantes, os empresários daqui adoram expedientes safardanas para arrancar ainda mais dinheiro. A estratégia seria nos forçar a escolher formas de entrega mais rápidas, de até sete dias úteis, pelos quais se paga um adicional (além do frete, se houver), ao passo que a entrega comum tem seu preço embutido no da própria compra.

Minha última aquisição, há dois dias, me levou a uma tela, na hora de fechar o pedido, apresentando três opções de entregas pelos Correios: uma normal, sem custos adicionais; outra com prazo reduzido, custando mais de 50 reais excedentes; e a última, com o menor prazo, com acréscimo superior a 70 reais. Um detalhe: quando a tela abre, a opção selecionada é a do meio. É preciso dar um clique a mais para selecionar a "gratuita", o que pode passar batido a um cliente afobado ou pouco familiarizado com o serviço.

Em suma, o site está conveniente organizado para fechar o pedido segundo uma opção mais cara. Se você escolher a primeira, dane-se a esperar. Dezenove dias úteis dá um mês de espera, praticamente. É tempo demais para quem, como eu, precisa dos livros para estudar. E olhe que se trata de uma mercadoria que não oferece nenhum cuidado particular com conservação e transporte.

Em suma, parece que a técnica de criar dificuldades para vender facilidades ganhou novas feições.

4 comentários:

Anônimo disse...

Também estou com o mesmo problema. Facilidade na hora de comprar; dificuldade para receber o que já está pago. E também são livros que precisaria ler antes de minhas intervenções processuais.

Fred

Anônimo disse...

Ah, antes que eu esqueça, a editora que não entrega meus pedidos já pagos é a "Juspodivm" (Juspodium). Infelizmente, é a única que edita os livros do processualista Freddie Didier, doutrina muito utilizada no TJPA.


Fred

Anônimo disse...

É o empresariado brasileiro, meu caro, em grande parte desonesto. Ainda hoje a TV mostrou pesquisa feita pela PROTESTE em estabelecimentos comerciais(bares e restaurantes), onde 42% das contas vieram com valores adulterados, todos para mais, por evidente. Atentem para o percentual. 42%!!!

O Governo Federal reduziu em até 32% a conta de energia elétrica para o segmento industrial e comercial. Desafio alguém a me mostrar - daqui a dois meses - algum produto que tenha tido o seu preço reduzido em função desse decréscimo na conta de energia.

O tal do Custo Brasil, quando reduzido, é embolsado pelos empresários. basta ver a falácia da redução do IPI. A redução é dada para quem? O Governo reduz em 10%, por hipótese, e somente 3-4% são repassados aos consumidores. Por que o Governo não manda um cheque-IPI aos compradores ?

A tal Black Friday aqui no Brasil teve os preços aumentados, em média, em 2%, ao passo que nos Estados Unidos as reduções são reais e atrativas, coisa de 40-60% em geral.

Precisei trocar uma tampa do forno do meu fogão Electrolux(não comprem essa marca) e esperei 45 dias para que a mesma chegasse de SP. Ou seja, a assistência técnica de uma cidade com 3 milhões de habitantes não tem um peça simples de reposição. Olhe que não estamos falando de uma turbina GE de um Boeing.

Qualquer troca de produto defeituoso vira uma via crucis. Amigo meu foi reclamar de uma meia , comprada na Zoomp(uns R$ 20,00 talvez), que manchou na primeira lavada. Recebeu como resposta que a mesma precisaria ser enviada ao laboratório em SP para analise.

Cadê a Zoomp hoje? Faliu, felizmente.

O que o brasileiro precisa é sair da letargia e começar a boicotar empresas desonestas. Mas boicote não é apenas ir ao Facebook e curtir ou não curtir.

Boicotar é não comprar mais os produtos da empresa, é reclamar junto à Justiça, é fazer propaganda negativa, é colocar um papel no vidro do carro divulgando as tramóias, etc, etc.

Dia chegará em que você pegará um avião e irá comprar teus livros em SP ou RJ. Ficará mais em conta. Mas aí caberá reclamação do exíguo espaço ofertado nas poltronas da TAM e da GOL.

Kenneth Fleming

Yúdice Andrade disse...

Eu me pergunto, Fred, se empresas como a Juspodium e a Vozes (meu caso), por terem menor porte do que os Submarinos e Saraivas da vida, e portanto menor poder de fogo, não são prejudicadas em sua eficiência, mesmo agindo de boa fé, porque também sofrem as consequências da ineficiência e da ganância dos prestadores de serviço dos quais dependem. Eu me pergunto, mas não sei a resposta.
Até onde percebo, trata-se de uma prática generalizada, por isso estou acreditando na malinagem, mesmo...

Verdade, meu amigo Kenneth. Já li mais uma reportagem sobre os produtos descartáveis de hoje em dia, cujo conserto se torna inviável diante dos custos: é mais simples comprar um novo. Eu mesmo já passei por isso: já são três câmeras digitais que eu nem me dei ao trabalho de ir buscar na assistência técnica. A última foi agora em dezembro. Mais de 600 reais pelo conserto de um tal conjunto óptico. Apesar de ser uma câmera maior e mais cheia de badulaques, hoje eu posso comprar, mais barato, vários modelos de câmeras com melhor resolução.
Dá para concluir qual foi minha opção, não é?
Nossos eletro-eletrônicos agora são sempre da Samsung. Confiança na marca? Sim, em parte. O motivo principal, no entanto, é que quando a nossa TV pifou, a assistência técnica foi tão rápida e eficiente que preferimos contar com esse suporte, em caso de problemas.
Que mundo é esse, que um consumidor define a sua compra pensando na assistência técnica? Triste.