Acesso o portal de notícias e me deparo com a manchete "Capitão da PM morre ao ser atropelado em blitz". O caso aconteceu na noite de ontem e logo começou a ser repercutido no Facebook, por sinal de maneira bastante inconveniente, com a exposição ostensiva da carteira de habilitação do atropelador. O rapaz, segundo consta, apresentava sinais de embriaguez e havia garrafas de bebida no carro.
Naturalmente, ninguém tenta fugir de uma blitz à toa. Se alguém o faz, é porque pretende escapar à responsabilidade por algum ato ilegal (às vezes, apenas imoral). Mas para fugir do erro, o sujeito comete outro muito maior. Em alguns casos, como neste, custando uma vida.
A manchete em questão foi substituída por outra: "Barco que naufragou estava proibido de navegar". No mundo de água em que vivemos nesta região, a navegação é essencial e a covardia dos empresários do setor, crônica. Sinistros são frequentes e, a despeito dos esforços dos órgãos competentes, não se consegue mudar a mentalidade de quem explora o serviço e, mesmo, dos usuários, que se expõem a riscos absurdos — embora a estes se possa dar algum desconto, porque premidos por necessidades. Essas desgraças são uma lamentável rotina em nosso Estado.
O fato é que, neste novo naufrágio, ocorrido na madrugada de quinta passada, às proximidades de Cachoeira do Arari, na Ilha do Marajó, morreram treze pessoas. O que há em comum entre as duas notícias? Uma pessoa cometeu um erro colossal — se é que se pode chamar de erro, mesmo, já que estavam plenamente conscientes do que faziam — e pessoas inocentes morreram por causa disso. É de tirar a alegria desta manhã de sábado por mim tão aguardada.
Uma das coisas que mais me incomoda é a ausência de empatia, é não pensar nos outros, não se preocupar com as consequências do que se faz. Admito que me preocupo demais com coisas demais e que, com grande frequência, dou aos fatos uma dimensão muito superior à que possuem. Sim, eu hipervalorizo problemas pequenos, por mais inconveniente que isso seja. Quando escuto a canção "Epitáfio", dos Titãs, sempre me pergunto se, no final de minha vida, também me porei a dizer eu devia ter feito isso, aqui, feito assim, etc. Provavelmente o farei, se tiver tempo e lucidez para tanto. É que essa atitude ainda é instintiva em mim; ainda não consegui evitar.
Num caso, pessoas morreram pela causa provável da ganância. Noutro, porque um indivíduo insistiu em fazer uma asneira totalmente inevitável, mas a que muitas pessoas se lançam com ardor porque são equivocadas quanto ao conceito de prazer. Triste, tudo muito triste. Mas é a nossa realidade cotidiano. É isso que mais me assusta.
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