segunda-feira, 8 de abril de 2013

Julgamento: massacre do Carandiru

Mais de 26 anos depois (de novo, o absurdo), começou na manhã de hoje o julgamento de 26 policiais militares que invadiram a Penitenciária do Carandiru e escreveram uma das páginas mais odiosas da crônica criminal brasileira, porque temperada com a ampla aprovação da sociedade brasileira, dita solidária, em relação ao episódio, já que o generoso brasileiro não se peja de estimular e comemorar a morte dos vagabundos.

O Portal Terra publicou um excelente infográfico com boa quantidade de informações sobre o caso. Uma breve leitura induz à conclusão de que houve mesmo um massacre, caracterizado por execuções sumárias. Segundo o dado, muitas vítimas morreram alvejadas 8 vezes. Em média, para cada 4 disparos, um era na cabeça. Isso não é execução sumária?

Segundo consta, o temido PCC (Primeiro Comando da Capital), facção criminosa com pretensões de comandar as atividades criminosas dentro e fora do sistema penitenciário, em São Paulo, teria surgido como uma reação dos condenados ao massacre. O PCC inspirou outras organizações do gênero. Ou seja, a grande iniciativa da segurança pública paulista não resolveu problema algum e criou outros bem graves.

Enquanto policiais aguardam um julgamento que praticamente vale mais como resgate histórico, recorda-se a figura sombria de Ubiratan Guimarães, coronel da Polícia Militar que comandou a invasão do presídio e foi apontado como um dos principais responsáveis pelo morticínio. Condenado a 632 anos de reclusão em 2001, foi eleito deputado estadual no ano seguinte, dando mais uma grande demonstração da grandeza do eleitorado paulista. Em 2006, ele acabou absolvido, mas em setembro daquele mesmo ano foi morto com um tiro desferido, supostamente, pela namorada, num crime nunca esclarecido.

Num muro em frente ao prédio em que morava o coronel, alguém pichou "Aqui se faz, aqui se paga". Sintomático.

2 comentários:

Anônimo disse...

É, parece que mesmo diante de notícias como essa http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/04/suspeitos-de-estupro-em-van-no-rio-ofereceram-jovem-em-favela.html o real problema da justiça criminal brasileira é julgar quem matou pessoas que cometeram crimes como esse noticiado. Por que, diante de uma justiça "inflada", não priorizar em manter "marginais excluídos que não tiveram oportunidades e resolveram estuprar, roubar e matar para compensar suas frustrações" na cadeia, ao invés de julgar logo policiais que arriscaram a vida entrando em um navio pegando fogo que era o Carandiru? É por essa e outras, que garantistas festejam como se não houvesse amanhã em decisões judiciais como a progressão de pena para crimes hediondos, não majorar roubo com arma de brinquedo (a vítima ameaçada com certeza sabe que é de brinquedo, então não se sente ameaçada). Parece que realmente o grande problema da justiça criminal é o Carandiru e punir policiais militares que entraram lá, ao invés dos condenados que fizeram a rebelião que levou a isso.

Yúdice Andrade disse...

Ah, os "garantistas". Sei. Sempre eles.
Ah, os policiais que estavam apenas cumprindo o seu dever. Sei.
Ah, os condenados... A esmagadora maioria dos mortos era de presos provisórios, então não se pode falar em "condenados". Além disso, não houve uma rebelião, porque não era um movimento organizado contra as autoridades, e sim uma pancadaria entre os presos, coisa de facções, talvez. Mas não importa, vale como rebelião.
A reportagem informa isso e informa, também, que os presos atiraram suas armas pelas janelas assim que perceberam que a PM ia invadir. Eles se renderam previamente. Mas isso também não faz diferença.
Nenhum policial foi baleado ou esfaqueado, mas isso não faz diferença.
Os "condenados" foram fuzilados e levaram, inclusive, tiros na cabeça, mas isso provavelmente foi apenas estrito cumprimento do dever legal.
Mais de duas décadas se passaram e o discurso continua exatamente o mesmo. Impressionante como o mundo não muda, quando precisa.