quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

As horas finais

Torci muito para que 2011 acabasse. Foi um ano difícil, a despeito de seus problemas serem basicamente objetivos. Logo em janeiro de 2012 as coisas começaram a entrar nos eixos e os tais problemas foram contornados.

Torci muito para que 2014 acabasse. Foi o ano da roda-viva emocional, ou da montanha-russa, se preferir. No dia 31 de janeiro, a notícia do câncer de minha mãe. Depois vieram as consultas, os exames, a radioterapia, a ilusão da cura. Em junho, comemoramos seu aniversário com um sentimento de vitória. Estávamos vigilantes, mas em paz. Ao final de novembro, veio a notícia da metástase. Em dezembro trocamos de oncologista e acreditamos que podíamos lutar. Saímos daquela consulta, a menos de uma semana do natal, com o sentimento de que tempos dificílimos viriam, mas estaríamos juntos lutando.

Daí veio 2015 e, enfim, nada deu certo. Ele pode ser definido como o ano do medo, das derrotas, das notícias cada vez piores. Por fim, como o ano da morte, da separação e do vazio. Não há termo de comparação para ele. Um ano que acabou com meses de antecedência e, ainda assim, subsistiu como um zumbi medonho, causando seus malefícios. Mas, finalmente, ele vai acabar. Em menos de 15 horas.

Não tenho expectativas. Vivo repetindo que não há nada ruim que não possa ficar pior e os últimos dois anos serviram de lições sucessivas desse princípio. Doravante, é manter a vigilância tentando não a transformar em uma paranoia.

Como dizia Renato Russo, na canção "Via Láctea", eu "queria ser como os outros/ e rir das desgraças da vida/ ou fingir estar sempre bem/ ver a leveza das coisas com humor". Realmente queria. Admiro pessoas positivas e otimistas, mas elas me parecem um ideal inalcançável. Para todos que me vêm encher de palavras de você também pode, sempre respondo que não existe uma chave que eu possa girar ou um botão que eu possa apertar para me transformar nisso. Eu não sei como fazer. Esse é o ponto.

Mas se os anos são apenas uma ideia de fatiar o tempo, como sugere Carlos Drummond de Andrade, mais uma fatia se vai. E o efeito psicológico do término pode ser importante para arejar a mente. Nem que seja pelo esforço das pessoas em desejar um futuro melhor, a partir da meia-noite. Que seus desejos se realizem. É com isso que contamos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Belo e melancólico texto. O Hino 126 da Harpa Cristã tem um verso que diz "Omais belos hinos e poesias foram escritos em tribulação". No mais, continuarei sua leitora e rogo por dias melhores.

Yúdice Andrade disse...

Obrigado, querida visitante. Agradeço sua leitura e seu apoio. Abraço forte.