terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Maioridade penal: baixa demais?


CRIANÇAS NA JUSTIÇA
Cientistas sugerem revisão de maioridade penal inglesa
Por Aline Pinheiro

Na Inglaterra, uma criança de 10 anos é adulta perante a Justiça criminal. Se cometer um crime, vai ser julgada como gente grande, exceto por alguns cuidados formais tomados no julgamento para garantir que o réu-mirim entenda a acusação e o veredicto. Em dezembro, um estudo divulgado por um grupo de cientistas sugeriu que a maioridade penal pode estar baixa demais e, como consequência disso, crianças sem pleno entendimento dos seus atos podem estar sendo condenadas pela Justiça.
O estudo foi feito pela reconhecida Royal Society. De acordo com o grupo, o cérebro de um ser humano não está totalmente desenvolvido aos 10 anos de idade. O córtex, por exemplo, que é responsável por tomar as decisões e controlar os impulsos, só pode ser considerado maduro perto dos 20 anos. Os cientistas fizeram um alerta: crianças de 10 anos ou mesmo adolescentes de 15 podem estar sendo julgadas igual a adultos mesmo sem ter um cérebro adulto.
A pesquisa conduzida pela Royal Society aponta também que cada ser humano se desenvolve de uma maneira e que fixar uma idade-mínina para sentar no banco dos réus é arriscado. O grupo propõe que o tema volte a ser discutido, mas de acordo com as conclusões tiradas pela neurociência.

Réu-mirim
A maioridade penal na Inglaterra atual foi consolidada há menos de três anos, quando a House of Lords (que fazia as vezes de Suprema Corte) reinterpretou uma lei de 1998. Até então, uma criança só era considerada capaz de responder pelos seus atos a partir dos 14 anos, de acordo com jurisprudência dominante. Os juízes entendiam que a lei de 1998 dizia apenas que ninguém com menos de 10 anos poderia ser punido criminalmente, mas sem dizer que a partir dos 10 anos existia a responsabilidade penal.
Em maio de 2010, o assunto voltou a ser discutido depois que dois meninos, de 10 e 11 anos, foram condenados por tentar estuprar uma menina de oito anos em Londres. A Inglaterra é um dos países que pune mais cedo, junto com o País de Gales e Irlanda do Norte. Na Escócia, até recentemente, a maioridade penal era ainda mais baixa: oito anos. Hoje, a idade mínima para responder por um crime é de 14 anos, assim como na Itália e na Alemanha.
A Corte Europeia de Direitos Humanos já foi chamada a se pronunciar sobre o assunto, mas decidiu que cabe a cada país europeu definir. Mesma posição é adotada pela Organização das Nações Unidas, que entende que estabelecer uma idade mínima para sentar no banco dos réus depende de aspectos culturais e, por isso, é de responsabilidade de cada nação.

Aline Pinheiro é correspondente da revista Consultor Jurídico na Europa.
Revista Consultor Jurídico, 9 de janeiro de 2012

Vamos lá, turma da lei e ordem: pode começar.

3 comentários:

Anônimo disse...

Não à toa eles conseguem dormir em paz, na maior parte do tempo. Diferente daqui, que vemos uma imensa corja de vagabundos às beiras dos canais sem fazer absolutamente nada a não ser jogar bola e esperar algum "otário" para roubarem ou invadirem alguma casa, enquanto os pais de família ficam trancafiados atrás das grades de suas casas. E os traumatizados são os pobres coitados por dormirem no chão na cadeia, enquanto as pessoas de bem gastam horrores em remédio e sequer, às vezes, voltam a dirigir, tem de mudar de residência, etc.

Ana Miranda disse...

Eu, leiga que sou, tanto em questões jurídicas quanto cerebrais, acho que 15, 16 anos é uma boa idade para que um adolescente possa ser julgados por seus atos como um adulto. 10 anos, realmente é muito cedo.

Que se faça um trabalho com crianças que cometeram atos infracionais, mas cadeia eu acho que não surtiria o efeito que um tratamento psiquiátrico poderia surtir...

Yúdice Andrade disse...

Eu disse, não disse?

Quanto a isso, Ana, até concordo. Mas essa decisão - sobre a maioridade penal - envolve a consideração de variáveis que vão muito além da capacidade de discernimento do jovem.