Ana elogiou o trabalho de Emy, o que naturalmente me deixou curioso quanto aquela aluna diferenciada. Não achei que fosse ter a oportunidade de trabalhar com ela, pois já cursava penal com outro colega. Mas eis que ela se mudou para a minha turma, onde logo se revelou uma acadêmica interessada, muito preocupada em aprender e muito preocupada com seus méritos. Muitos alunos se importam apenas com a aprovação; os mais sensatos se importam em merecer a aprovação, ou seja, com o quanto aprendem. Emy pertence a este segundo grupo.
Mas Emy é também daquele tipo que não se esconde atrás das supostas grandes dificuldades que muitos alunos adoram invocar para justificar pendências. Mesmo morando em Mosqueiro, não se furtou de acumular o curso com o estágio na Defensoria Pública e com a Clínica de Direitos Humanos, menina dos olhos do nosso curso do CESUPA. Não é de dar desculpas: faz o que precisa fazer e segue em frente. Em suma, é uma aluna que está se esforçando para ser mais do que uma acadêmica regular; está batalhando para construir-se como cidadã.
Acabei de ter uma demonstração disto que afirmei, ao ler esta postagem que Emy publicou em seu perfil no Facebook:
Emy e eu, no dia do encerramento oficial da disciplina Direito Penal III (para quem passou direto). |
Lá aprendi que nem todo divórcio é triste. Aprendi que nem todos podem ser passíveis das mesmas exigências. Também pude perceber que nem todo criminoso quer fazer o que faz, que há uma questão muito mais complexa do que se imagina por trás de cada crime. Passei a entender que há pais que não pagam uma pensão alimentícia porque nasceram de mães solteiras, foram registrados apenas no nome delas e estas conseguiram criá-los - não que seja o correto, mas, de alguma forma, eles cultivam a crença, muitas vezes sem maldade, que estão isentos dessa obrigação.
Enfim, nada é como aparenta ser à primeira vista. Lidar com os problemas de outros seres humanos sempre é uma chance de enxergar como nós nos preocupamos tanto com coisas inúteis, ínfimas, quando temos tudo o que precisamos e mais um pouco. Porém, essa percepção, bem como nossas atitudes, podem se modificar quando observamos que o próximo sobrevive com muito menos do que aquilo que consideramos necessário e, ainda assim, não se cansa de viver.
Portanto, é uma tristeza "abandonar" essa atividade que tanto amei fazer, num lugar em que muito aprendi, mas preciso seguir um caminho em que a vida me colocou. Precisei fazer uma escolha que, nesse momento, se fez necessária.
Vou seguir, tentando me encontrar, arriscando, enfrentando esse novo desafio. E sem desistir, sem cansar de viver, levando na mente, na alma e no coração tudo o que absorvi até agora.
Comovido com seu texto (e sendo eu a pessoa que leciona para ela direito penal, neste momento, reconhecendo um pouco das minhas idiossincrasias em suas palavras, como na crítica à mídia), deixei-lhe um comentário:
Que belo testemunho, Emy Mafra! Eis aí um estágio que valeu a pena: você aprendeu direito, porém mais do que isso, aprendeu humanidade. Aprendeu a ver o que há fora da caixinha, além dos preconceitos e dos juízos de valor que as pessoas cultivam simplesmente para vencer as batalhas de opinião que elas mesmas criam. Sempre te tive respeito, mas ele agora evoluiu para o nível da admiração.
Em nossas carreiras docentes, sempre nos defrontamos com alunos dedicados e sérios, que valorizam o nosso trabalho e nos provocam uma sensação de recompensa. Com menos frequência, porém, aparecem aqueles que chamam a atenção particularmente. Cada professor tem o seu motivo. O meu tem a ver com esse rio profundo de sentimentos humanos que Emy escolheu para ser o cenário de sua vida. Hoje, eu me ergo em reconhecimento a isso. Porque acho que certas coisas precisam ser ditas publicamente.
Eu me orgulho de você, Emy.
PS — Elogio adicional: repararam que texto bem escrito o dela? Nada fora do lugar, nada! Isto também é raríssimo, hoje em dia.
3 comentários:
Professor, é por essa e por outras que lhe tenho enorme admiração! Muito emocionante a sua postagem homenageando uma pessoa tão especial como é a Emy! Beijos!
Ela merece, Juliana. Como os comentários no Facebook, vindos de diversas pessoas, demonstram.
É a primeira vez que entro em seu blog professor, depois de tanto querer conhecê-lo. E é com grande alegria. que digo o quanto lhe admiro, antes mesmo de ser sua aluna (pois quero muito ser), ouço inumeros elogios sobre o senhor, e ao longo desse tempo em que ouvi tais comentários fui criando uma visão que confirmo agora, realmente o senhor não é tudo o que falaram, é muito maiiiiiis!!!! Meus parabéns pelo mestre que é e por reconhecer na Emy a imagem que eu compartilho com o senhor, admirável!
Boa tarde professor, e lembre-se, deixo aqui destacado o meu anseio em ser sua aluna! Att, Sabrina.
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